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Entrevista

Entrevista: O ponto de vista da indústria

Em entrevista, o diretor de Agropecuária da BRF, Luiz Stabile, fala sobre o movimento de concentração no setor agroindustrial brasileiro, sobre o encolhimento do mercado spot no País, avalia a necessidade de criação de um mecanismo de formação de preços na suinocultura nacional e examina a relação contratual entre produtores e agroindústrias.

Entrevista: O ponto de vista da indústria

Luiz Adalberto Stabile Benício, diretor de Agropecuária da BRF, mostra-se impaciente quando o assunto é a relação contratual entre suinocultores e agroindústria. Para ele, o modelo de integração é maduro, coerente e prepondera no País desde que foi criado justamente pelo equilíbrio que oferece à relação bilateral entre integrados e integradores. “Se não fosse uma relação equilibrada o sistema já tinha morrido há muitos anos”, argumenta. Segundo o executivo, que há mais de 28 anos milita na agroindústria, a maior assimetria entre as partes não está no viés econômico e sim no de comunicação. “As partes precisam se sentar e discutir para que pensem com o mesmo propósito”, defende. Por esse motivo, Stabile vê nos projetos de lei que preveem a regulamentação da relação entre produtores e agroindústria, atualmente em trâmite no Congresso Nacional, uma oportunidade ímpar de diálogo entre os diferentes elos da cadeia suinícola em busca do tão almejado equilíbrio de forças entre suinocultores e empresas. “Temos que perceber que estamos todos do mesmo lado. Não importa se você está dentro ou fora da agroindústria. É preciso ter competitividade, senão hoje você ganha dinheiro e amanhã está fadado a fechar as portas. Temos cada vez mais pessoas envolvidas nesse debate e isso nos ajudará a buscar algo melhor para toda a cadeia”, pondera o executivo. Stabile conversou com Suinocultura Industrial. Na ocasião, emitiu opiniões fortes e não fugiu de temas delicados, a exemplo do que faz aqui nesta entrevista. No bate-papo que você lê a seguir, Stabile dá a visão da indústria sobre temas controversos como o movimento de concentração no setor agroindustrial brasileiro e a perda do poder de barganha de seus fornecedores; fala sobre a redução do mercado spot no País e avalia o espaço dos suinocultores independentes na suinocultura brasileira e pondera sobre a necessidade de criação de um mecanismo de referência de preços de amplo reconhecimento.
Fala também sobre temas mais leves, mas igualmente estratégicos para a suinocultura nacional, como o esforço de marketing que as grandes agroindústrias estão fazendo para fixar suas marcas e sobre o potencial de consumo da carne suína in natura no mercado doméstico. Os melhores trechos da conversa você confere a seguir.

Suinocultura Industrial – Há cinco anos, apoiado pelo BNDES, o setor agroindustrial de proteína animal viveu um intenso movimento de fusões, aquisições e incorporações que resultaram na formação de empresas globais gigantes, como a JBS Friboi, a Marfrig e a BRF. Um dos argumentos usados, à época, para defender essa concentração era o de que, mais fortes, essas empresas poderiam resistir à tentativa de compra por estrangeiros. Ou ainda que poderiam reduzir custos e tornarem-se competidoras globais. Passado já um certo tempo, que análise o senhor faz desse movimento e concentração? O Brasil ganhou?

Luiz Stabile – O pensamento do governo naquela época faz todo o sentido, visto que, ainda hoje, acreditamos que o Brasil vai ser o celeiro do mundo. Portanto, sob o ponto de vista macroeconômico, as empresas deveriam estar perto do consumo, num país competitivo, com um grande mercado interno e uma base exportadora forte. O Brasil é o único país, além dos Estados Unidos, que tem mercado interno forte e competitividade para exportação. O restanteaté tem grandes players, como a Argentina, que tem um custo de produção bom, mas um mercado interno restrito. Podemos pegar ainda o exemplo da Tailândia, que conta com uma base exportadora boa, é competitiva em custos, mas que também tem um mercado interno pequeno. Pensando nesse aspecto, no longo prazo, vê-se que as empresas brasileiras estão se consolidando. Dentre essas três empresas que você citou, cabe ressaltar que a BRF não teve nenhuma ação direta junto ao BNDES. O BNDES não forneceu nenhum dinheiro para a formação da BRF. Quanto às outras companhias, acredito que faz todo sentido a estratégia do governo de fortalecer o crescimento dessas empresas. No nosso negócio aeconomia de escala é algo importante. O crescimento dessas companhias dá sustentabilidade ao negócio e, ao contrário do que muita gente pensa e fala, a história de construção dessas grandes empresas no Brasil mostra que o grande ganhador é o consumidor. Nós conseguimos colocar proteína de qualidade, a um custo barato e com a rentabilidade dessa grande agroindústria se reduzindo ano a ano.

SI – O senhor está falando que as agroindústrias vêm reduzindo sua rentabilidade com o passar dos anos?

Stabile – Eu sou da indústria e quando comecei a trabalhar na minha empresa abatíamos 30 mil frangos por dia. Hoje abatemos sete milhões de frangos por dia. E, por incrível que pareça, com 30 mil frangos tínhamos 10% de lucro líquido. Hoje nós abatemos sete milhões de frangos e temos 3% de lucro líquido. E soltamos rojão quando são 3%. Então essa indústria é prova de transferência econômica para a população.

SI – Na opinião do sr. quais têm sido os principais reflexos dessas fusões e incorporações no setor agroindustrial?

Stabile – Acredito que hoje essas empresas estão mais bem preparadas para eventos que podem ocorrer, como baixa demanda e excesso de produção. Essas empresas têm atualmente um fôlego maior do que as pequenas tinham. Agora, esse processo de consolidação ainda não parou. Ele vai avançar muito fortemente pelo mundo. As empresas ainda são pequenas.

SI – O sr. acredita que o processo de consolidação vai avançar ainda mais?

Stabile – Sim, esse processo de consolidação ainda vai acontecer muito fortemente no mundo. Fora a JBS que é uma empresa de R$ 100 bilhões [faturamento anualizado], que já atingiu um patamar muito grande, não há outras no mesmo patamar. A BRF é uma grande empresa no mercado interno, mas temos um faturamento proporcionalmente menor, na casa dos R$ 28 bilhões. Isso quer dizer que ainda estamos engatinhando e que esse mercado tende a ter consolidações maiores. Não apenas no Brasil, onde temos visto a movimentação da própria JBS, que está comprando outras companhias, como um fortalecimento de alianças globais. Alianças com players nos EUA, alianças com players na China, e assim por diante.

SI – Muitos fornecedores consideram que a alta concentração no setor agroindustrial foi negativa em termos de negociação, por causa da perda do poder de barganha. Como o senhor vê essa posição?

Stabile – Realmente, num primeiro momento isso causa estranheza. Esse é um movimento que estamos enfrentando no dia-a-dia. Entretanto, quando comecei a trabalhar na agroindústria tínhamos entre 20 e 30 fornecedores de ingredientes. Hoje se fala em três ou quatro. É difícil? Sim, é difícil. Mas a dependência de grandes grupos com grandes grupos é uma realidade. Todo mundo depende um do outro, o sistema tem que funcionar. Quando se entende que o teu negócio é uma cadeia, é necessário compreender também que não se pode querer ganhar muito se os outros elos, à frente ou atrás, não estejam ganhando. Então, pode haver desequilíbrios momentâneos, mas eles não são permanentes.

SI – Por falar em elos da cadeia, a relação contratual entre suinocultores e indústrias vem sendo discutida. Há no Congresso um Projeto de Lei que procura garantir uma relação mais equilibrada entre produtores e agroindústrias. Como o senhor vê essa discussão?

Stabile – Ouço muito falar sobre a necessidade de garantir mais equilíbrio a essa relação integrado/integradora e vou contar uma coisa para você. Tenho 30 anos de experiência nessa área e estudei muito como começou a integração. Se não fosse uma relação equilibrada o sistema já teria morrido há muitos anos. O que gostaria de colocar é o seguinte: o sistema de integração é maduro, preponderante, o que não significa que esse modelo não possa ser discutido. Hoje, inclusive, pelo lado dos produtores, existe gente melhor preparada para essa discussão.

SI – O sr. poderia explicar melhor sua opinião?

Stabile – Às vezes fico impaciente quando alguém questiona as relações bilaterais entre integração e integrados. Sabemos que essa relação produtor e agroindústria é sempre tumultuada, como é tumultuada a relação empregado e empregador. Eu como empregado de minha empresa sempre quero ganhar mais. O produtor, que tem essa relação de parceria, também quer ganhar mais. Mas a agroindústria brasileira propiciou termos um sistema de integração maduro, coerente e que perdura por todos esses anos. Para mim a assimetria maior nessa relação não é de equilíbrio econômico.

SI – Qual seria então?

Stabile – A maior assimetria que existe no processo de integração é de comunicação. E acredito que esse projeto de lei resgata isso. Possibilita uma discussão mais aprofundada, traz para a mesa os diferentes elos da cadeia. Estimula agroindústria e produtores a sentarem e discutirem. O grande benefício dessa história toda será a transparência, ou seja, colocar todos na mesma mesa para que pensem com os mesmos propósitos.

SI – Mas ainda assim a reivindicação econômica por parte dos produtores é legítima…

Stabile – Uma vez conversei com um sindicalista ligado aos integrados e perguntei para ele: “você sabe se o Japão está dando dinheiro hoje, sabe se a Arábia Saudita está levando o frango nacional?” Ele não sabia de nada disso. Então falei “como é que você vem aqui discutir preço se você não sabe nem a base de custo?”. Cada vez mais as pessoas têm que se tocar que nós todos estamos do mesmolado da mesa.

SI – As reivindicações não procedem então?

Stabile – Às vezes as pessoas se confundem. Pegam um resultado da BRF de R$ 300 milhões e ficam imaginando “nossa, esses caras ganham muito dinheiro”. Aí quando se faz a relação do que aqueles R$ 300 milhões representaram, se vê que foi 2,5% do faturamento. Uma vez falei assim: se você produtor ficar satisfeito com 2,5% eu lhe passo 100%. Faço seu custo mais 2,5% e vejo se você topa entrar na cadeia.Ninguém topa. E esse é um entendimento crucial. A agroindústria tem sido uma grande indutora dessa discussão. O grande incentivador do IPEA pra fazer fomento de custos fomos nós. Também fomos nós que convidamos a Embrapa para um circuito de debates, para debater do ponto de vista técnico o que é preponderante. Acreditamos fortemente nesse trabalho que a Embrapa vem fazendo. O que acontece é que, às vezes, as reivindicações são impraticáveis. Tive, em certa ocasião, uma reivindicação de uma associação que pleiteava a remuneração do imposto de renda dos produtores. Eu falei: “bom, eu também quero. Se como funcionário ganho R$ 10 mil, e R$ 2,7 mil vão para o governo em forma de impostos, então vou querer ganhar R$ 12,7 mil. Só que é impagável. Portanto, em minha visão, as pessoas têm que ter um maior entendimento dos direitos e obrigações de cada parte.

SI – Então essa discussão é mais que oportuna?

Stabile – Sim, é. E o relacionamento que temos com a ABCS, que faz um trabalho belíssimo, é muito bom. E a ABCS faz seu trabalho pensando como? “Meu amigo, eu quero você empresário. E para você ser empresário você tem que ter custo competitivo”. É assim que eles pensam. Ao que acrescento: não importa se você esta na agroindústria ou fora da agroindústria. Você tem que ter competitividade, senão hoje você ganha dinheiro e amanhã está fadado a fechar as portas. Temos cada vez mais pessoas envolvidas neste debate e isso nos ajudará a buscar algo melhor para toda cadeia.

SI – Desculpe a insistência, mas vou tocar num assunto que ainda tem relação com a remuneração dos produtores. Alguns segmentos do setor entendem que a suinocultura brasileira prescinde de um mecanismo de referência de preços de amplo reconhecimento. O argumento é que apesar de toda a evolução da atividade nas últimas décadas, o setor ainda não conta com um sistema capaz de auxiliar o produtor e os demais elos da cadeia produtiva, que não a indústria, a fazer projeções e orientar sua tomada de decisões. Como o senhor vê essa questão?

Stabile – Esse é um negócio bastante complicado. Como há muito pouca gente independente no mercado, normalmente, a escala de produção é uma questão de custo e não de preço. Porque a indústria [BRF] detém hoje 400 mil matrizes. Sou eu [a indústria] que produzo a minha ração, que compro o meu leitão em alguns modelos ou produzo o leitão em outros, que remunero minha mão-de-obra. Para o indivíduo que está à margem desse sistema fica complicado usar o mesmo parâmetro. Ele tem que avaliar constantemente o que as diferentes agroindústrias estão pagando, o que o mercado de Minas Gerais está pagando. É uma lei de pura oferta e procura. Como o mercado spot deixou de existir fortemente – quer dizer, eu entro hoje compro e amanhã saio fora – então se perde um pouquinho dessa relatividade de preço. Porque hoje o custo de um animal abatido para uma empresa, cuja indústria opera com capacidade ociosa, é muito alto. Então todo o sistema tem que estar equilibrado. Quando eu entro para abater mil suínos tenho que ter uma cadeia que me abasteça. E aí se ela é baseada em contrato acabou a relatividade de preços. Vale o preço que está no dia.

SI – O senhor falou sobre o encolhimento do mercado spot e sobre a redução dos produtores indenpendentes. Na opinião do sr., há espaço para todo tipo de suinocultor no Brasil?

Stabile – Penso o seguinte, existem os grandes players e, cada vez mais, vemos que o pequeno – e quando eu falo pequeno, não é por estar preocupado que o pequeno não tenha espaço, eu acho queele tem espaço – tem tido dificuldades para estabelecer uma faixa de rentabilidade para sua sobrevivência. O pequeno produtor quer ganhar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por mês? Quanto suínos ele tem que criar para ter essa renda? O pequeno está fadado à necessidade de crescer para poder manter sua renda. Porque o preço vai ser cada vez mais competitivo. A briga pelos R$ 2,50, R$ 3,00, no suíno final vai ser cada vez maior. Diante disso vejo o seguinte: existem produtores independentes bem estruturados, existe no mercado produtor independente com 30 mil matrizes, só que são independentes, mas independentes porque não estão num regime de integração, mas são dependentes de contrato. Então quando você estabeleceu um contrato de fornecimento de um ou dois anos, tanto faz se produtor é independente ou integrado, a relação é a mesma. É só uma questão de preço de pagamento.

SI – Mudando um pouco de assunto, gostaria de falar com o sr. sobre marketing. Hoje nota-se um grande esforço de grandes agroindústrias em criar uma marca para seus produtos. Estão aí os exemplos da JBS Friboi, da BRF e da Marfrig, com campanhas milionárias, com grandes artistas, para provar isso. Como o senhor analisa esse esforço?

Stabile – Não sei o que se passa em outras agroindústrias, como a JBS por exemplo, mas falando especificamente da companhia onde trabalho, o que posso dizer é que somos detentores das melhores marcas brasileiras de alimentos; Sadia, Perdigão, Qualy e Batavo. Há mais de 60 anos investimos nessas marcas. Agora, investimento de visibilidade, de propaganda na tevê, é apenas uma faceta do que fazemos. Nosso grande investimento é feito para melhor atender o consumidor. É para entregar o produto certo na hora certa, é atender ao pedido da melhor maneira possível. Isso sim é um investimento que não se enxerga, mas que o consumidor sente. O que se vê na televisão hoje é só mais um elo desse investimento. Mas o grande investimento que as companhias têm feito é para atender melhor o consumidor nos seus propósitos. Melhor logística, melhor atendimento, melhor entrega do produto certo, com preço competitivo e qualidade.

SI – O consumo de carne suína no Brasil está muito centrado nos itens industrializados. Para muitos,no entanto, o aumento sustentável do consumo da carne suína no mercado doméstico depende justamente do contrário, ou seja, de uma oferta maior e mais atraente dos cortes in natura. Qual sua opinião sobre o assunto?

Stabile – Esse é um trabalho que as grandes empresas têm que fazer e há uma grande dificuldade. Não é fácil, o Brasil é um país continental. Quando se trabalha com produto fresco, o tempo de prateleira diminui sobremaneira e, nesse sentido, o suíno carrega uma desvantagem muito grande.

SI – Qual desvantagem?

Stabile – Quando se congela um produto, automaticamente se reduz o poder de seu apelo visual para a venda. O “sex appeal” de um produto resfriado é muito maior do que o de um produto congelado. Apesar de o congelado ser, no mínimo, igual ou melhor do que produto fresco. A tendência de um produto fresco é ele ir perdendo valor e apelo com o passar do tempo. Já o produto congelado não, ele já tem um shelflife de nascença de um ano. Só que o produto fresco tem um apelo visual muito maior nas gôndolas do supermercado. O fato é que as grandes companhias têm dificuldade de operar no Brasil continentalcom produtos resfriados. O custo para distribuir no  dia-a-dia um produto fresco é alto. Para se ter uma ideia, o produto fresco só pode chegar no ponto de venda com no mínimo 30% de vida útil. Isso significa dizer que um produto in natura que tem dez dias de vida útil tem que necessariamente chegar ao ponto  de venda em três dias. Ou seja, tem que abastecer todas as regiões do País em três dias. Algo que não é nada simples. Por outro lado, acredito que no futuro as grandes companhias vão ter que aprender a trabalhar melhor essa logística.

SI – Não seria mais apropriado então que as pequenas e médias agroindústrias, que têm uma atuação mais regionalizada, explorassem o nicho de carne suína in natura?

Stabile – Eu acho que já é. Esse mercado da base de açougue ou do pequeno supermercado já é abastecido por pequenas e médias agroindústrias. Esse tipo de mercado é atendido por essa rede que abate animais todos os dias em pequena escala. Isso já é feito. Talvez não exista um marketing em torno disso. Tanto que você vai ao açougue e não existe marca para aquela carne. Qual a marca que está por trás daquela carne? Não tem. Nossa companhia acredita muito que esse é um mercado que vamos passar a atuar forte, chegar com presença de marca. Porque quando se tem uma marca confiável, o  consumidor se predispõe a pagar até um adicional para levar esse produto.

SI – Mas então qual, na opinião do sr., é o espaço para a carne suína in natura no mercado brasileiro?

Stabile – Eu acredito que grande. Temos que evoluir muito nos cortes, na preparação, no porcionamento, na apresentação. Quem não gostaria de comprar uma bistequinha padronizada, com quatro ou cinco unidades? Mas ainda é preciso investir. Esses investimentos em linhas de corte são caros, muito caros. Ainda é necessário adaptar as indústrias para fazer isso. Hoje as indústrias não estão adaptadas, mas acredito que esse vai ser um caminho a se seguir nos próximos anos.

SI – O senhor acredita que a abertura do mercado japonês pode ajudar no desenvolvimento de novos cortes in natura de carne suína?

Stabile – Sim, o mercado japonês é mais exigente. É um mercado, por exemplo, que traz a cor como fator de restrição, ou seja, principalmente no sentido de não se misturar diferentes tonalidades de carne dentro do mesmo pacote. Quer dizer, é um mercado que nos traz alguns detalhes de percepção que o consumidor japonês tem, a predileção por determinados cortes. A abertura do mercado japonês vai trazer toda essa experiência aqui para o Brasil.

SI – Uma última pergunta para fechar a entrevista. A suinocultura e a avicultura atravessam um período de grandes transformações, movidas por questões de bem-estar animal, meio ambiente, segurança alimentar, agregação de novas tecnologias e formas de se produzir. Como o sr. analisa este atual momento desses dois setores?

Stabile – A suinocultura vem dando um passo fortíssimo rumo à competitividade. O setor suinícola está fazendo uma evolução – genética, de procedimentos, de resultados zootécnicos – que permitiu um avanço fantástico na cadeia de valor. Hoje a dependência da cadeia de suínos ao preço de bovinos se reduziu muito. E se fôssemos falar sobre o grande avanço, sobre o grande beneficiado nesta última década, certamente seria a área de suínos. Com redução de mortalidade, melhoria grande de conversão alimentar, melhor rendimento e maior quantidade de carne por carcaça. Ou seja, uma evolução abrangente, que trouxe competitividade à cadeia de suínos. Já a avicultura continua e vai continuar sendo a proteína animal de qualidade com custo mais viável. Muito dependente da relatividade de carnes para aumentar seu consumo, quebrando barreiras, mais e mais, nos países onde o suíno e o bovino preponderam. 

Esta entrevista é parte integrante da edição 258 de Suinocultura Industrial.
Saiba como ter acesso a edição digital completa:
http://suinoculturaindustrial.com.br/edicao/258/20140618115210_D_890