Movimentos especulativos e problemas climáticos em importantes regiões produtoras interromperam, em outubro, uma tendência de queda das cotações internacionais dos principais grãos (milho, trigo e soja) que se aprofundava desde o segundo trimestre deste ano. Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) negociados na bolsa de Chicago mostram que a guinada leva milho e trigo a fecharem o mês em patamares superiores aos de setembro. A soja reagiu mais lentamente e volta a cair na mesma comparação, mas seu viés, neste momento, também é de alta.
Grão mais cultivado e comercializado no mundo – e por isso que atrai mais investimentos financeiros e apresenta maior liquidez em Chicago -, o milho fecha outubro com preço médio 4,45% superior ao do mês passado, na primeira ascensão desde abril (o balanço foi fechado no dia 30). Mesmo assim, a queda em relação à média de dezembro alcança 16,89% e em relação a outubro de 2013, o valor é 19,99% inferior.
Segundo na “hierarquia” dos grãos, o trigo encerra o mês com valorização menor (2,39%) e baixas sobre as médias de dezembro e de outubro do ano passado superiores às do milho – 17,32% e 25,18%, respectivamente. Apesar de sua curva de baixa ter sido quebrada por um “soluço” em agosto, o cereal se despede de outubro em um nível 25% inferior ao de maio, quando a segunda posição em Chicago atingiu a maior média mensal de 2014.
No caso da soja, são mais tênues os contornos do quadro de recuperação dos preços. Mesmo que a curva descendente iniciada em abril tenha se tornado menos aguda, o grão ainda fecha outubro com preço médio 0,78% inferior ao do mês anterior. Na comparação com a média de dezembro, o patamar atual é 26,4% mais baixo; sobre outubro de 2013, a retração chega a 24,55%.
No que depender dos mais recentes movimentos financeiros, as cotações do trio poderão continuar a encontrar maior suporte nas próximas semanas apesar do aumento das respectivas ofertas globais nesta safra 2014/15. São nítidos os sinais de que os fundos que especulam nos mercados agrícolas “fugiram” de outros ativos e elevaram as apostas na alta de soja, milho e trigo em Chicago.
Conforme a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), os gestores de recursos (“managed money”) encerraram a semana de 21 de outubro com posição líquida comprada de 126.952 contratos (futuros e opções) de milho, crescimento de 43,2% em relação à semana anterior. Apesar da nova produção recorde nos EUA, a lentidão da colheita no país alimenta a ação dos especuladores. O fato de parte dos agricultores americanos estar retendo as vendas à espera de um repique nos preços também colabora para essa visão mais “otimista”.
O aumento das apostas na alta do trigo duro foi ainda mais significativo que a do milho: 57,7% em relação à semana anterior, para um saldo de 14.853 contratos comprados. No caso do trigo brando, em contrapartida, os fundos reduziram em 15% a posição líquida vendida, para 51.047 contratos.
No caso da soja, diminuiu o pessimismo em relação aos preços, e o saldo líquido de venda caiu 5%, para 16.337 contratos vendidos. Além dos atrasos na colheita nos EUA, a demanda chinesa segue aquecida, o que contribui para dar sustentação às cotações – ao menos no curto prazo. Há preocupações também no Brasil, onde o plantio caminha a passos lentos, por conta da escassez de chuvas em importantes regiões produtoras, caso de Mato Grosso.
De qualquer forma, ainda prevalece para os próximos meses um cenário baixista para os grãos, já que o fim do ciclo de afrouxamento monetário americano poderá “desidratar” as apostas dos fundos nesses mercados (considerados de risco) e a recomposição das ofertas globais de milho, trigo e soja não será contida por atrasos de colheita ou de plantio.
Na bolsa de Nova York, os fundos já estão mais pessimistas. O CFTC indicou que os investidores elevaram em 26,5% o saldo líquido vendido de suco de laranja na semana encerrada em 21 de outubro, para 2.838 contratos – a aposta mais baixista do ano. Desde o início de agosto, cresceu o mau humor dos fundos com a commodity devido à ausência de ameaças climáticas aos pomares da Flórida, mesmo em meio à temporada de furacões, e à persistente quedas no consumo da bebida dos EUA. Nesse contexto, a cotação média do suco em outubro recua 3,9% na comparação com setembro.
Já a posição líquida comprada de algodão recuou 16,2%, para 4.548 contratos. Entretanto, o fim da colheita da safra nos EUA e temores climáticos em grandes produtores mundiais, caso da Austrália, podem renovar a perspectiva de alta. Segundo o levantamento do Valor Data, os contratos de segunda posição de entrega da commodity fecham outubro em queda de 2,95% sobre o mês passado – pouco abaixo da retração do cacau (3,56%), que em setembro registrou alta expressiva em consequência dos temores com o ebola na África.
No açúcar, as apostas dos fundos na baixa das cotações cresceram 9,6%, para um saldo líquido vendido de 39.665 contratos na semana até o dia 21, mas o valor médio de outubro ainda é 1,34% maior que o de setembro. Estoques fartos em países produtores e consumidores, além do benefício à moagem trazido pelo tempo seco no Centro-Sul do Brasil, aumentaram o pessimismo quanto a reações mais sustentadas.
Com chuvas pontuais registradas nas regiões produtoras do Sudeste do Brasil, o café arábica também enfrentou o menor interesse dos fundos na semana até o dia 21. A posição líquida comprada do grão recuou 4,5% em Nova York, para 47.766 contratos. E a commodity continua a ser a que mais sobe entre as oito que fazem parte do levantamento do Valor Data. Com a alta de 10,24% de outubro, o ganho sobre outubro de 2013 chega a 81,02%.