Menos impostos e melhores condições para exportar. É o que esperam os produtores de frango do Brasil com o novo governo, a partir do ano que vem. A situação atual, dizem os especialistas, faz o setor perder competitividade no mercado.
Faz menos de dois meses que o aviário do produtor rural Luiz César Filipini ficou pronto no município de Artur Nogueira, em São Paulo. O local possui o que há de mais moderno neste tipo de estrutura, para garantir boa produção. O sistema permite a refrigeração de todo o ambiente. O investimento chegou a R$ 350 mil. Segundo os especialistas, o proprietário vai levar de oito, até dez anos para ter retorno. O produtor, porém, acha que vai conseguir antes.
“Se você trabalhar com mão de obra mais barata e investimento em tecnologia acredita-se que você pode adiantar. Em torno de cinco a seis anos”, calcula Filipini.
O otimismo do produtor justifica a decisão dele e do pai de investir na avicultura. A família é tradicional no setor de cana-de-açúcar. Com frangos, esse vai ser o primeiro lote que o Luiz vai vender. Na segunda, dia 8, as 30 mil aves vão ser entregues ao frigorífico.
“Resolvemos no setor de alimentos porque acreditamos que não existe prejuízo por enquanto aparentemente. Existe uma demanda muito grande de consumo”, diz.
Os mais experientes na atividade dizem que depois de um período ruim durante quase um ano e meio, agora o setor começa a equilibrar as contas.
“Nós viemos de um 2009 muito ruim, para não dizer péssimo, onde todas as empresas, independentemente se são exportadoras ou não, tiveram dificuldade. No primeiro semestre deste ano, embora com os grãos mais baratos, as empresas tiveram dificuldade por falta de preços no nosso produto e o segundo semestre agora é um semestre de recuperação”, diz o presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA), Erico Pozzer.
Nos últimos anos este setor teve problemas com exportações por causa de crises no mercado. Primeiro foi a gripe aviária, depois a crise econômica mundial de 2008. Agora, apesar de não ser no mesmo nível é o câmbio que dificulta as exportações. E aí, a origem do problema, dizem os representantes do setor, não é de ordem sanitária ou macroeconômica. É de política. O reflexo é imediato na indústria, mas logo, logo chega aqui no produtor.
Para o presidente da entidade que representa produtores e exportadores brasileiros de frango, com a política cambial de hoje, o setor perde espaço para outros mercados, a tal da competitividade.
“Se continuar este tema cambio como está, nós vamos para de exportar. Nosso setor não tem mais condições de competir. Se nós continuarmos com tributos elevados, o mundo não compra tributos elevados, o mundo compra alimentos”, diz o presidente da Ubabef, Francisco Turra.
“Eu diria que um câmbio de equilíbrio hoje para o exportador de frango seria de dois para um, não 1,70. Isso é muito prejudicial. Nós estamos perdendo competitividade com relação aos outros países exportadores”, explica Pozzer.
Em 2008, o Brasil exportou mais de 3,6 milhões de toneladas de frango, tendo uma receita de quase US$ 7 bilhões. Para este ano, a previsão é de que embarque um pouco mais, chegando a quatro milhões de toneladas. Porém, vai receber no mínimo US$ 0,5 bilhão a menos.
O setor tem pelo menos outras duas grandes preocupações. Com o abastecimento de grãos, como o milho indispensável na ração e com a carga tributária, principalmente com a mão de obra. Em SP, a avicultura é a terceira maior atividade econômica, responsável por 50 mil empregos diretos, perdendo apenas para a cana e a pecuária.
“Só para ter uma ideia, um funcionário de abatedouro deve receber, deve levar para casa, em média, R$ 800 por mês. Esse mesmo funcionário para a empresa custa quase R$ 2 mil. Se nós juntarmos política de abastecimento de grãos, mais desoneração de impostos e um olhar muito apurado em cima do câmbio, eu tenho certeza que o setor de frangos de corte e da avicultura como um todo vai ficar muito mais competitivo”, defende Pozzer.
É o que espera quem está começando na atividade também, para fazer valer a iniciativa de mudar e o tamanho do investimento que a atividade exige. “A tendência é melhorar cada vez mais. Vai melhorar”, declara Luiz César Filipini.