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Insumos

Estoque excedente derruba preços do milho

<p>Com a ''sobra'' de 3,1 milhões de toneladas nos armazéns de MT, produto é negociado por valor até 40% mais baixo que o preço mínimo do governo.</p>

Mato Grosso acumula um excedente de 3,1 milhões de toneladas na segunda safra de milho. O volume é resultado de uma produção de 6,3 milhões de toneladas no ciclo 2008/2009, ante a um consumo estadual estimado em 1,8 milhão (t).

Outros 1,4 milhão (t) foram vendidos pelos produtores locais ao governo federal por meio de contratos de opção, mas cujo produto ainda se encontra no território estadual.

Com o excesso de produto e poucos locais para estocagem, o produto teve uma desvalorização de 39,3%, já que o preço mínimo estipulado pelo governo é de R$ 13,20, mas a saca de 60 kg está sendo negociada por até R$ 8. Por causa disso, a estimativa é que as perdas cheguem a R$ 200 milhões.

O setor produtivo alerta que, se medidas emergenciais não forem tomadas o mais rápido possível por parte das autoridades (governo federal), a safra 2009/20010 de soja, que começa em setembro será prejudicada. Isso porque o dinheiro resultante da venda do milho é destinado à compra de insumos para a produção da oleaginosa, como sementes, adubos entre outros.

“Se não conseguirmos vender o milho por um preço que gere renda ao produtor, a safra de soja sofrerá reflexos consideráveis e mais uma vez o produtor terá de desembolsar um volume maior de recursos próprios para custear a safra”, argumenta o presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira da Silva.

Ele alerta ser imprescindível a retomada de programas de escoamento de produção, por meio dos leilões do Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro), e também do Prêmio de Escoamento de Produto (PEP), realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Para ele seriam necessários vários leilões que totalizassem a venda de cerca de 3 milhões de toneladas, mas que é fundamental que o governo retire o produto do Estado para que haja mais espaço disponível para a armazenagem dos grãos. “Há casos até de produtores que estão deixando o produto a céu aberto, já que não tem aonde guardar o milho”.

Déficit – Segundo o presidente da Aprosoja, o Estado está com um déficit de armazéns e quem é proprietário deste estabelecimento não quer destinar o espaço que tem ao milho, pois o produto poderá ficar um tempo a mais estocado e ocupando espaço de outra cultura, a exemplo da soja.

“A soja que tem uma venda mais rápida e o milho guardado tomaria espaço de um produto mais vantajoso. Por isso não há interesse dos armazéns”, conta o sojicultor ao alertar que além disso, o governo tem de providenciar o escoamento do volume que já foi vendido em leilão que soma 1,140 milhão de toneladas em três eventos.

A primeira venda pública foi realizada no dia 21 de julho, quando foram vendidas 320 mil toneladas de milho. No dia 28 foi leiloada a mesma quantidade e no último dia 4 foram negociadas 500 mil toneladas.

Agravante – Entre os agravantes para a produção de milho este ano está a queda nos preços. Devido ao aumento na produção, o valor pago ao produtor caiu cerca de R$ 5 por saca (60 quilos), baixando do valor mínimo do governo R$ 13,20 para R$ 8.

O presidente da Aprosoja calcula que com esta perda, o Estado já acumula um prejuízo estimado em cerca de R$ 200 milhões, referente ao volume de 3,1 milhões de toneladas que estão com preço desvalorizado.

“Isso significa que este montante está saindo do caixa do produtor e que seria aplicado no custeio da safra de soja”, diz ao completar que a falta de armazéns reflete principalmente nos médios e pequenos produtores, que não tem estocagem própria.

Para o presidente, se o Estado contasse com mais armazéns nada disso estaria acontecendo. Ele diz que no caso de maior oferta em relação à demanda, seria possível o produtor guardar o grão e ir vendendo aos poucos, conforme os preços praticados no mercado.

Silva afirma que à medida que a safra vai passando e o produto vai sendo vendido, com a falta dele, os preços começam a se recuperar e voltam aos patamares que realmente remunerem o produtor.

“A partir de dezembro é certo que os preços vão melhorar. Mas aí já não haverá produto porque o agricultura teve de vender a um preço menor para custear o plantio da soja. Se houvesse onde guardar o produto, este seria o momento em que o produtor recuperaria as perdas”, revela ao afirmar que em janeiro a saca de 60 kg poderá ser vendida por até R$ 16.

Localização do milho – Conforme levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), em Mato Grosso, o maior volume do grão é produzido nos municípios da região Médio Norte que totaliza uma produção de 2,684 milhões de toneladas, o corresponde a uma participação de 43% na quantidade total registrada no Estado.

Na região, a capacidade dos armazéns credenciados é de 2,255 milhões (t), o que gera um déficit de armazenagem para pelo menos 429 mil toneladas.

A região Norte concentra a segunda maior produção no Estado com um total de 2,128 milhões de toneladas, uma participação de 34%. Na região a capacidade de armazéns é um pouco maior que a produção, totalizando 2,876 milhões de capacidade.

Já a região Sul, tem uma participação é de 23% no volume de milho produzido. A capacidade dos armazéns é de 1,018 milhão de toneladas, no entanto, no local foram produzidos 1,449 milhão de toneladas, ou seja, 431 mil toneladas a mais que a capacidade de estocar.

Evolução da produção – Dados do Imea mostram que desde a safra 2002/2003 a produção de milho em Mato Grosso segue uma curva ascendente até a safra 06/07. O volume produzido saltou de 2,768 milhões de toneladas (02/03) para 7,757 milhões (06/07), o que equivale a uma expansão de 180,2% em cinco safras.

No ciclo 07/08 o volume caiu para 6,262 milhões (t), mas no atual subiu para 6,749 milhões (estimativa da Conab), alta de 7,7%. Vale lembrar que para produzir a safra 08/09, os produtores enfrentaram a crise econômica mundial, marcada pela falta de crédito. Porém mesmo assim tiveram resultado positivo no volume de grãos.

Valor – O presidente da Aprosoja, Glauber Silveira da Silva, explica que a produção de milho no Estado (que é mais forte na segunda safra) foi adotada pelo produtor local como forma de agregar valor à terra.

“A safra de soja é relativamente curta e precisávamos aproveitar a terra, que é cara e não podia ficar sem ser usada. Com o milho aproveitamos também os adubos e outros tratos feitos para a oleaginosa”, diz ao revelar que este foi o principal motivo para a expansão considerável no volume produzido nos últimos sete anos.

Silva considera ainda que os produtores investem constantemente em tecnologia, com sementes para determinadas variedades com um ciclo de até 20 dias mais curto, o que proporciona usar a terra para outras finalidades. Como consequência destes investimentos, o produtor ganha em produtividade.

Tanto é que os dados do 11º Levantamento de Safra de Grãos da Conab mostram que mesmo, com retração na área e no volume total produzido, o milho está com uma produtividade maior do que na safra anterior, passando de 4,237 mil kg por hectare para 4,489 mil kg/ha de um ciclo para outro, alta de 5,9%.