O Brasil entra de vez na agenda dos grandes portos do mundo como exportador, uma vez que todas as atenções se voltam para os países emergentes. A França, com o maior porto de toda a Europa, já prevê US$ 1,5 bilhão em investimentos até 2011 a fim de se tornar o principal destino de produtos refrigerados e etanol produzidos no Brasil.
A ampliação do porto francês de Le Havre, que já responde por 63% do tráfego de contêineres da Europa, deve adicionar 600 mil metros quadrados de área construída – que já conta com 1 milhão de m² – e 6 novos berços, segundo Jean-Pierre Bernard, representante do Le Havre para América Latina e Chile. “Até 2015 serão 4,2 quilômetros de comprimento em novos berços”, afirma.
Luana Cristina Leite, consultora de comércio exterior da B&A Gestion – representante do Le Havre no Brasil -, afirma que já há interesse dos produtores brasileiros em usar os serviços do porto nas exportações. “A Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (ABIA) já manifestou interesse e solicitou mais materiais para avaliar a proposta”, diz.
Apesar do interesse dos produtores brasileiros em exportar, o “destino das cargas ainda depende muito dos importadores”, explica Luana. E é por isso que o porto tem se empenhado em “divulgar e mapear os dois lados”, além de pleitear um aumento do poder de decisão do Brasil sobre o destino dos fretes, como explica a consultora.
Bernard explica que as vantagens econômicas do porto se devem ao posicionamento geográfico para a distribuição das cargas no continente europeu. “Há uma economia de até 500 euros por contêiner em relação a outros portos da Europa” em função do custo do transporte rodoviário para distribuição em grandes centros, como Paris, ante o Porto de Rotterdam (Holanda).
“No tráfego com o Brasil, o Havre tem dois grandes objetivos”, que são a entrada de etanol e biodiesel no mercado europeu, além do desenvolvimento de mercados como o de carnes, frutas e peixes, afirma Bernard.
Marcelo Marques da Rocha, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Cargas do Litoral Paulista (Sindisan), acredita que a posição do País como protagonista dos emergentes é que atrai a demanda de comércio internacional. Rocha, que também é Assessor de Portos e Logística da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), vê as demandas como grandes oportunidades comerciais “que não devem ser desperdiçadas”.
A exemplo de Le Havre, o Porto de Shenzhen (China) – o quarto maior do mundo -, apresentou no último dia 13 propostas para ampliar o comércio de cargas com a América Latina, especialmente com o Porto de Santos. “Será a segunda abertura dos portos brasileiros”, diz Rocha, em referência ao evento que marcou a chegada da corte portuguesa ao Brasil em 1808.
Etanol
O mercado exportador de etanol tem características próprias, segundo Joseph Sherman, diretor executivo da Associação Internacional de Comércio de Etanol (IETHA, na sigla em inglês). “Na Europa, como cada país tem uma especificação diferente, exige-se que os portos tenham diversas tancagens”. Segundo Sherman, as demandas do continente atualmente são atendidas pelo Porto de Rotterdam.
Contudo, Sherman vê a exportação da commodity como um mercado que ganhará força só em 2011, uma vez que o negócio do etanol obedece a um ciclo. “Com a crise, o preço do etanol ficou mais vantajoso no mercado interno, mas isso deve se resolver até 2011”, explica.
Falta infraestrutura no País ainda para encampar a exportação do combustível em larga escala, segundo o executivo. “Em Santos, precisaria de mais dois berços do tamanho do que temos hoje.” Apesar da deficiência em infraestrutura logística, o Brasil é o principal exportador mundial de etanol – posição que deve ser contestada em alguns anos, à medida que se desenvolvam as produções na África e na bAmérica Central, afirma Sherman.
Há grandes investimentos em vista nos Portos de Vitória (ES), Paranaguá (PR), e Santos (SP), segundo Sherman, que podem representar um ganho em eficiência. Ele defende que a infraestrutura e a logística para a exportação do etanol é o ponto fundamental para consolidar o produto como commodity agrícola no mercado internacional.
A cadeia logística não pode prescindir de fatores como infraestruturas em portos, rodovias, crescimento de ferrovias, investimentos privados e planejamentos dos governos a fim de que melhore o escoamento do etanol para o mercado externo, segundo explica Joseph Sherman.
A IETHA vai debater as principais dificuldades das exportações brasileiras de etanol no Congresso Nacional da Bioenergia, que acontece em Araçatuba, no interior de São Paulo, nos dias 17 e 18 de novembro.