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Biocombustível

Etanol perde espaço nos EUA, mesmo sem tarifa

Biocombustível brasileiro não tem competitividade nos Estados Unidos.

Mesmo com a tarifa de importação norte-americana a zero, o etanol brasileiro não tem competitividade nos EUA. De acordo com Narciso Bertoldi, executivo comercial do Grupo USJ, o custo-Brasil, a sobrevalorização do real e a logística aumentariam em US$ 0,10 a entrada do biocombustível naquele mercado.

Cálculos do executivo, baseados no custo do produto, frete da região de Ribeirão Preto, onde está localizada a maior parte das usinas, até o Porto de Santos, mais a taxação para embarque, mostram que o etanol brasileiro hoje chegaria em Houston a US$ 1,80 o galão. “Na base [Houston] o etanol custa US$ 1,70. Se calcularmos a entrada pelo Caribe seria pior, o galão sairia a US$ 2,1.”

Para Bertoldi, o setor deve estar atento a possíveis oportunidades pontuais de aumento de embarques do biocombustível para os Estados Unidos. “Como ocorreu há dois ou três anos, quando o MTBE [Éter Metil-Terciário Butílico – molécula criada a partir do metanol, que quando misturada a gasolina acrescenta oxigênio durante a queima] foi banido gerando rápida e grande necessidade de substituir por etanol”, diz.

Segundo o executivo, o cenário desfavorável para exportação pode mudar se os preços do petróleo e do etanol subirem lá fora ou o câmbio avançar para R$ 2,05.

No entanto, Géraldine Kutas, assessora sênior da presidência para assuntos internacionais da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), considera que com as leis federais instituídas nos Estados Unidos, os embarques de etanol do Brasil para o país devem avançar. “Para 2013/2014 a demanda deve ser significativa. O aumento será gradual por ano”, afirma.

O sinal positivo apontado pela assessora vem da projeção de consumo de 136 bilhões de litros até 2022 nos Estados Unidos. “O mandato federal dividiu em categorias o uso do etanol, em matérias-primas. Onde o produto da cana foi reconhecido avançado, por reduzir em mais de 50% a emissão de gases”, explica.

De acordo com Kutas, outra vantagem do País vem da legislação da Califórnia, na qual foi definida uma redução de 10%, até 2020, nas emissões de gases de efeito estufa provenientes da gasolina. “O etanol de milho dos Estados Unidos emite mais gases que a própria gasolina, ficando então descartado”, diz.

Para a assessora, com a necessidade do etanol a partir da cana-de-açúcar, os norte-americanos terão duas opções: reduzir a tarifa de importação do produto, ou comprar o etanol do Brasil a qualquer preço. “O que penalizaria seu consumidor”, diz.

Por outro lado, apesar de toda essa sinalização positiva, Kutas aponta a volatilidade das condições de exportação como obstáculo para o setor, e concorda com Bertoldi, quanto a necessidade de atenção redobrada por parte das usinas nas oportunidades de negócios pontuais com os EUA e Europa. “São portas que se abrem e fecham rapidamente”, diz.

Outro percalço para os embarques do biocombustível brasileiro, segundo a assessora, vem da tendência de esses países privilegiarem a produção nacional.

E, no quesito produção nacional, o Brasil não fica atrás. De acordo com Bertoldi, o mercado interno avança rapidamente. “Com a adição de 25% de etanol na gasolina o consumo do produto já avançou mais 100 mil metros cúbicos por mês”, afirma.

De acordo com Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado, que acredita no peso da exportação do etanol brasileiro para o setor, no futuro, o aumento no consumo nacional do biocombustível será puxado pelo crescimento de carros flex no mercado.

Dados da Safras mostram que na safra 2010/2011 o País deve exportar um volume entre 1,5 e 1,8 bilhão de litros de etanol, ou 1,5 e 1,8 milhões de metros cúbicos. Já a produção estimada do Brasil deve ser de 27 bilhões de litros. “A diferença entre o produzido e o exportável irá toda para o mercado interno”, diz o analista.

Em 2009/2010, segundo dados da Unica, o Brasil embarcou 2,7 bilhões de litros e produziu 23,7 bilhões de litros de etanol.

Ainda de acordo com Biegai, existe a tendência de nos próximos anos o consumo do biocombustível aumentar nas indústrias para a produção de plástico, além de em médio prazo, o Brasil operar etanol celulósico “Em longo prazo, o petróleo tende a valorizar e o diesel vai acompanhar”, diz.