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Relações externas

EUA podem retaliar

Amorim acha 'absurdo' EUA tirarem benefício. Chanceler diz que acha improvável Brasil perder acesso ao SGP como retaliação ao apoio ao Irã.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem (14/06) que “a paz tem custos”, mas considerou um “absurdo” a possibilidade de os Estados Unidos retirarem o Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP), em retaliação pela ação diplomática do país no caso do programa nucelar do Irã.

Em discurso na Assembleia Mundial do Trabalho, Amorim concluiu com uma alusão à ação diplomática brasileira que tem irritado os americanos: “A paz tem custos”, disse ele. “Todos devem se envolver nos esforços para sua construção e manutenção. O Brasil, de sua parte, escolheu o diálogo, as soluções negociadas e a diplomacia como forma de resolver os conflitos. Paz, cooperação solidária e comércio justo serão o novo nome do desenvolvimento.”

Indagado se um dos custos da ação do Itamaraty seria o país perder o acesso ao SGP americano, que permite exportar, sem imposto de importação, cerca de US$ 3,5 bilhões por ano aos EUA, ou 17,4% das vendas brasileiras para aquele país, o ministro reagiu com vigor.

“Eu falei de custo no sentido de custar trabalho, empenho, e é importante mantê-lo.” E acrescentou: “É um absurdo se isso acontecer”, referindo-se à suposta retaliação americana. “Nunca ouvi falar dessa retaliação. É uma imaginação dos jornalistas.”

O ministro lembrou que todo ano existe o problema envolvendo a renovação do SGP para o Brasil, sempre surgindo as notícias de ameaças, “ou porque estamos defendendo nossos interesses na OMC ou em outros foros, ou porque estamos ameaçando com retaliação no caso do algodão”.

Para Amorim, o fato é que “o Brasil é grande, não pode ficar vivendo de assombração ou ameaças”. Disse que “até a Rússia, que não é tão rica, mantém o Brasil no SGP”. Começou uma frase dizendo que “se os EUA quiserem tirar (o Brasil)”, para em seguida fazer uma pausa e completar: “Espero que não ocorra.”

Por outro lado, o Brasil estabeleceu prazo até o dia 21 para fechar um acordo com os EUA, no contencioso do algodão, ou retaliar produtos americanos em cerca de US$ 800 milhões por ano. O ministro disse que as negociações continuam e prefere “manter o otimismo até o fim”.

Hoje ele vai a Paris falar para uma plateia internacional sobre diplomacia. Indagado se o Brasil e a Turquia preparam alguma iniciativa nova envolvendo a questão nuclear iraniana, retrucou com um “não sei”.

No discurso na Assembleia Mundial do Trabalho, o ministro destacou que, muito antes da pior crise econômica e financeira dos últimos tempos, o Brasil buscou diversificar suas parcerias por meio de uma “diplomacia universalista”, reforçando laços com a África, Oriente Médio, Ásia e sobretudo América Latina, revertendo “uma tendência histórica”.

Exemplificou que até há pouco tempo somente a Europa e os EUA representavam mais da metade das trocas comerciais com o país. Em sete anos, esse número caiu para 30%, apesar do aumento nas trocas com os parceiros tradicionais. “Fizemos uma verdadeira revolução no nosso comércio exterior”, afirmou diante dos representantes de mais de 150 países. “Essa estratégia provou ser acertada quando o centro do capitalismo sofreu severos abalos em sua estrutura.” O ministro defendeu a cooperação internacional e notou que “não é preciso ser rico para ser solidário”.

Hoje, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, vai “depositar” a ratificação pelo Brasil da regulamentação 151, que garante o direito de greve, organização sindical e negociação coletiva para o servidor público. Em seguida, o governo vai regulamentar a medida, limitando esse direito no caso de trabalhadores em serviços essenciais.