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Economia

EUA quer mais proteção agrícola em Doha

<p>Posição americana é bem recebida por países que estão na defensiva na agricultura. Mudança alarma exportadores do Brasil.</p>

Os Estados Unidos se tornaram mais defensivos na negociação agrícola da Rodada Doha, querendo agora mais proteção para seus agricultores, numa mudança de posição que alarma países exportadores como o Brasil. Washington está cada vez mais enterrando a já combalida negociação para a liberalização global de comércio, primeiro aumentando a cobrança para o Brasil, China e India abrirem setores como químicos, máquinas, servicos de saude, e agora tambem querendo diminuir o acesso a seu mercado na parte agrícola.

A nova postura foi manifestada em encontro com 14 grandes países exportadores e importadores realizado na Organização Mundial do Comércio (OMC) na semana passada. Até então, os americanos sempre estiveram ao lado daqueles que procuravam reduzir o número de produtos que podem ser declarados “sensíveis” e com isso terem corte tarifário menor.

Desta vez, os representantes dos EUA disseram que a Casa Branca estava sob pressão do setor agrícola doméstico, que considera que os EUA já ofereceram demais na negociação e em troca obtiveram pouco ganho para suas exportações. E indicaram que os parceiros precisam concordar em aumentar de 4% para 6% o numero de produtos agrícolas “sensíveis” baixando o tamanho da liberalização.

A posição americana foi bem recebida pelos que estão na defensiva na agricultura, como os países europeus, Coreia do Sul, Japão e Canadá. É que pelo pacote agrícola na mesa, os países terão o direito de designar até 4% de suas linhas tarifárias . Mas alguns países hoje com altas tarifas podem designar até 6% como sensíveis, desde que deem uma compensação aos exportadores com aumento maior das cotas tarifárias.

O Japão pediu logo para aumentar para 8% o número de seus produtos sensíveis, e o Canadá em 6% como querem os americanos. Ou seja, Doha, destinada a liberalizar, está é é deslizando para mais proteção. Brasil, Argentina, Uruguai, Austrália e Nova Zelândia rejeitaram enfaticamente as demandas. O Brasil insistiu que a expansão de cotas tarifárias deve ser de pelo menos 10% do consumo doméstico do país importador protecionista que quiser designar mais produtos como sensíveis.

Os EUA, porém, deixaram claro que também querem pagar menos por nova flexibilidade. E avisaram que precisam de dez linhas tarifárias para criação de novas cotas. O Japão disse que vai impor cotas para açúcar e milho.

O único acordo entre os negociadores foi de que tudo isso precisa ser decidido politicamente. Mas tampouco isso deve ocorrer na conferência ministerial da OMC marcada para 30 de novembro a 2 de dezembro em Genebra, inclusive porque os EUA até hoje cobram concessões, mas não estão realmente engajados em barganhas.

Para alguns analistas, a Rodada Doha só terá fim com uma nova agenda de temas, no caso mais otimista depois de 2011. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, abandonou seu habitual otimismo profissional e é cada vez mais discreto sobre a eventualidade de um acordo global em 2010. Lamy vem alertando sobretudo para o aumento de pressões protecionistas num cenário de persistente alta do desemprego nos países mais atingidos pela crise econômica global.