Um dos motores do crescimento do crédito no Brasil durante os últimos três anos, o Banco do Brasil mostrou que pôs o pé no freio no último trimestre. Levantamento dos balanços dos quatro grandes bancos brasileiros com ações listadas na bolsa de valores mostra que, se a expansão da carteira de empréstimos do Banco do Brasil não ficou na posição de lanterninha, ela tampouco ficou na liderança.
O volume de crédito concedidos pelo Banco do Brasil atingiu R$ 402,5 bilhões em setembro, com um crescimento de 18,46% em 12 meses e de 5% na comparação com junho. Ficou abaixo da média dos quatro bancos, que tiveram expansão de 19,5% no ano e de 5,3% no trimestre.
Em agosto, o Banco do Brasil já havia revisto para baixo suas expectativas para a carteira de crédito. De um crescimento de 17% a 20% no ano para o patamar mais moderado de 15% a 18%. Naquela época, Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, afirmou que a revisão estava relacionada às medidas de contenção ao crescimento do crédito anunciadas pelo governo no fim do ano passado, pouco depois da divulgação das perspectivas de desempenho da instituição para 2011.
Mas esse crescimento está se concentrando muito mais em linhas de menor inadimplência – e também de menor rentabilidade. Enquanto as linhas de crédito para pessoas físicas e jurídicas está, até o momento, na faixa de baixo dos intervalos divulgados pelo Banco do Brasil, os empréstimos agrícolas crescem a passos mais largos, a 12,3% superando a meta de 8% a 12%.
O índice de inadimplência da carteira rural se manteve estável em 0,9% na comparação com o segundo trimestre. Enquanto isso, aumentou o contingente de pessoas físicas que deixou de pagar seus empréstimos pontualmente, com os atrasos passando de 3% para 3,2%, movimento puxado principalmente pelos financiamentos a veículos do Votorantim.
Em entrevista ao Valor em meados de setembro, o Banco do Brasil já afirmava que olharia com mais carinho” as operações para pessoas físicas com renda mensal inferior a R$ 3 mil.
Ao longo do terceiro trimestre, analistas estavam em dúvida sobre a postura que o Banco do Brasil adotaria em relação ao crédito num momento em que a crise internacional ainda era mais amena e que a inadimplência já crescia. A instituição manteria as linhas de crédito, seguindo o modelo de 2008, ou será que desta vez puxaria o freio com medo da inflação, tema tão em voga?
A dúvida, porém, é rebatida pelo banco, que nega qualquer influência de viés mais político na instituição. “Crescemos muito em 2010 e agora é natural estarmos crescendo mais em linha com o mercado”, diz Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil. “Nossas decisões são montadas de maneira técnica, tanto que em 2008 aceleramos o crédito, mas ainda temos índices de inadimplência abaixo da média do mercado”, afirma. Os atrasos atingem 2,1% da carteira, enquanto no sistema esse índice é de 3,5%.
No conjunto, o lucro líquido dos quatro bancos cresceu 13% em um ano, atingindo R$ 10,4 bilhões. Na comparação com o período de abril a junho, porém, o resultado recuou 1,43%, puxado pela queda do lucro do Banco do Brasil.
O fato de o Banco do Brasil ter tido um crescimento mais moderado no último trimestre não significa, porém, que o mesmo ritmo será seguido até o fim do ano. O banco reforçou de julho a setembro sua liquidez, captando mais recursos. Com isso, o total de recursos livres somou R$ 72,3 bilhões, volume 23% maior na comparação o trimestre anterior.
Em teleconferência com analistas, Ivan de Souza Monteiro, vice-presidente de finanças do Banco do Brasil, deu pistas de que o banco poderá ter uma estratégia mais agressiva neste fim de ano. “O consumo da liquidez vai ser mais rápido do que você imagina. Ter liquidez gera um benefício no quarto trimestre”, respondeu a uma questão elaborada por um analista.