Redação (29/08/2008)- O Brasil vai precisar de mais 105 berços de atracação e 22 milhões de metros quadrados de área para atender à demanda de cargas por volta de 2017, quando devem ser movimentadas 1,3 bilhão de toneladas nos portos brasileiros. Em 2007, o movimento somou 755 milhões de toneladas. Entre áreas portuárias e retroportuárias, essa infra-estrutura terá um custo estimado em US$ 25 bilhões.
O país conta, hoje, com 82 locais de escoamento de mercadorias aquaviárias, entre portos e terminais privativos. Nos últimos seis anos, os portos brasileiros cresceram 42,7% em volume, com o recebimento adicional de 226 milhões de toneladas de cargas, o que representou avanço médio anual de 6%. A carga geral, que inclui a conteinerizada, comandou o movimento, com acréscimo médio anual de 9,9% (38,8 milhões de toneladas). Em seguida aparecem os granéis sólidos, com 7,7% (155,4 milhões de toneladas), e os granéis líquidos, com 3% (31,5 milhões de toneladas).
"O movimento portuário brasileiro cresce todo ano cerca de 45 milhões de toneladas, ou um porto de Santos a cada dois anos", afirma Marcos Antonio Vendramini Junior, sócio da VKS Partex Engenheiros Consultores, há 12 anos no ramo de consultoria portuária e transportes, com projetos, hoje, em seis estados.
Com base em dados históricos e expectativas de mercado para os próximos anos, Vendramini estima que dentro de dez anos os portos brasileiros estejam movimentando mais de 800 milhões de toneladas de granéis sólidos, 260 milhões de toneladas de granéis líquidos e 200 milhões de toneladas de carga geral, inclusive conteinerizada. Esses valores representariam, no total, acréscimo de 547 milhões de toneladas sobre 2007.
No estudo, com projeções até 2033, a VKS setoriza o desempenho das cargas, conforme as tendências das áreas plantadas, demandas internacionais e facilidades logísticas do país. Para a área de grãos, por exemplo, que a Conab estimou na safra 2007/2008 em 47,2 milhões de hectares e 142 milhões de toneladas, há uma previsão de que cresça para 56,7 milhões de hectares e produza 196 milhões de toneladas até 2017. Nos próximos 25 anos, com crescimento médio de 1,74% ao ano e produtividade de 2,95%, a produção saltaria para 280 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, as importações de fertilizantes subiriam das atuais 19 milhões de toneladas para 43 milhões de toneladas, em 2033.
A elevada demanda internacional por matérias-primas da cadeia mineral/siderúrgica e de commodities agrícolas passam a definir o ranking dos portos. Pelo histórico apurado pela consultoria, entre 2002 e 2007 os portos de Tubarão (ES), Itaqui (MA) e Itaguaí (RJ) responderam por 60% do movimento brasileiro de granéis sólidos. "A tendência de escoamento por esse tipo de carga se dará pelos portos do Norte e Nordeste ou portos bem servidos por ligação ferroviária de alta performance, dada a elevada sensibilidade destes produtos ao custo do frete", diz Vendramini.
Para os contêineres, cuja media anual de crescimento nos últimos 15 anos foi de 10,5%, chegando a picos de 14% e desempenho mínimo de 3%, foi verificada uma concentração nos portos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Eles movimentam sete em cada 10 Teus (unidades de 20 pés) no Brasil, reflexo do desenvolvimento industrial desses estados. A tendência de expansão levaria ao crescimento da movimentação de contêineres no país. Dos 6,5 milhões de Teus em 2007, a expectativa é atingir 15,5 milhões de Teus em 2017, período em que o setor, incluída a carga geral não-conteinerizada, precisaria de 35 berços adicionais.
A distribuição dos 105 novos berços – "mantidas as condições institucionais e parâmetros legais vigentes" – seria dividida em 50% para portos do Norte e Nordeste, 35% para o Sudeste e 15% para o Sul. Vendramini adverte que se houver investimento adicional para o aumento de produtividade e reformulações legais e institucionais, por exemplo no processo alfandegário, que possibilitem reduzir o tempo de permanência de cargas nos terminais, a necessidade de reforço na infra-estrutura física será abrandada, com impacto menor nos investimentos.
Hermes Anghinoni, diretor de portos da Cargill, com terminais em Santos, Paranaguá (PR) e Itaqui (MA), concorda que para o setor de contêineres "as perspectivas são otimistas, porque há novas cargas e navios maiores impulsionando essa indústria". Mas para os granéis "os números não são tão agressivos; acho-os um pouco otimistas; o círculo virtuoso da economia mundial saiu de cena e se desdobra nos portos". O diretor defende um crescimento "com cautela" e aponta o mercado interno como novo fator que mexeu com a logística do país. "O mercado interno está consumindo mais matéria-prima; muitas fábricas estão moendo (soja) para atender à produção de carne e frango e isso não vai para o exterior", diz. A Cargill deve inaugurar uma fábrica de esmagamento de soja, em Primavera (MT), por volta de março, com investimentos entre US$ 120 milhões e US$ 130 milhões.
Para o açúcar, entre os granéis sólidos, Anghinoni aceita os números da VKS como compatíveis e afirma que "a disputa desse setor é com o álcool e ambos estão com as exportações em crescimento". A Cargill planeja resolver alguns impasses burocráticos em pontos de embarque para ampliar investimentos e aumentar exportações.
Mas o futuro do setor passa ainda pela definição da nova legislação. O governo estuda adotar o sistema de pagamento da maior outorga para determinar os vencedores das futuras licitações para construção e operação de portos pela iniciativa privada. A mudança é polêmica e já gerou critica entre os empresários que tinham planos de construir portos em áreas privadas.