As exportações brasileiras de etanol deverão atingir, neste ano, seu pior resultado desde 2003. O valor pago pelo biocombustível nos Estados Unidos está no patamar mais baixo dos últimos anos e, por isso, a tão esperada “janela” de exportações que se abre no verão americano – quando o consumo de combustível aumenta no país – não deverá se abrir.
A estimativa da Bioagência, agência que comercializa cerca de 10% do etanol produzido no Brasil, é de que os embarques a todos os destinos somem apenas 1,7 bilhão de litros no ciclo atual, dos quais apenas 200 milhões aos Estados Unidos, entre vendas diretas e indiretas. O volume representa 20% do total realizado na temporada passada.
Os Estados Unidos são, tradicionalmente, o principal cliente do etanol brasileiro. Mais do que isso: é sobre o país que se sustenta grande parte das apostas de crescimento do segmento no Brasil. Rodrigues conta que a janela de exportação no verão americano vem se abrindo sistematicamente desde 2004. Na média, é neste período, entre junho e agosto, que o Brasil exporta 40% de todo o volume que segue ao mercado americano.
A retração vem acontecendo desde 2009 e é reflexo da desvalorização das cotações do petróleo e da própria desaceleração da economia mundial. Também pesa nesta balança a confortável oferta mundial de milho, que erodiu as cotações do grão, a principal matéria-prima do etanol americano.
O pico de 4,7 bilhões de litros embarcados pelo Brasil a todos os destinos em 2008/09 – 2,44 bilhões dos quais aos EUA – foi reduzido a 3,1 bilhões na safra 2009/10, quando o mercado americano absorveu 955 milhões de litros, entre vendas diretas e indiretas – via países do Caribe e América Central, que exportam por acordo CBI (Caribbean Basin Initiative) com isenção de impostos.
“As usinas dos Estados Unidos estão com boas margens, mesmo a esses preços de venda, pois estão adquirindo a matéria-prima a preços baixos”, diz Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência. Assim, o valor do galão (3,785 litros) do etanol está nos níveis mais baixos dos últimos anos nos Estados Unidos, sendo cotado a US$ 1,65. Em 2008, por exemplo, esse valor superou US$ 2,80.
O resultado é que, com a tarifa de 54 centavos de dólar por galão (a preços e câmbio atuais), os produtores do Brasil receberiam hoje, na usina, o equivalente a R$ 0,75 a cada litro exportado aos americanos. O mercado interno, apesar do período de safra, paga R$ 0,85 no local de produção, segundo dados da Bioagência e que já contemplam impostos.
Além da Bioagência, outras fontes que acompanham o segmento, como o Rabobank, vêm alertando para a queda dos embarque de etanol neste ano pelo Brasil. O banco holandês, porém, previu uma queda menor, de 1 bilhão de litros em relação a 2009. Para a Bioagência, essa redução ficará em 1,4 bilhão de litros. “Mas, a boa notícia é que o mercado interno continuará absorvendo a maior parte da produção nacional”, diz Rodrigues.
Ainda há incertezas sobre o crescimento da moagem de cana no Centro-Sul para 600 milhões de toneladas, o que tende a interferir na oferta de etanol excedente no mercado brasileiro.
Apesar do cenário nos EUA estar muito desfavorável neste momento, ele não é imutável, segundo Rodrigues. “Houve um ano em que uma grande enchente nas lavouras de milho elevou os preços do grão e, consequentemente, do etanol”. Há ainda, segundo ele, a perspectiva de aumento da mistura do etanol na gasolina nos Estados Unidos dos 10% atuais para 12% e 13%. “Isso pode elevar demanda, enxugar o mercado de etanol americano e recuperar preços”, afirma ele.
Rodrigues afirma que os mercados europeu e o japonês estão mantendo as remunerações equivalentes às do mercado interno.