Redação (15/08/2008)- O milho "micou". A expectativa de que o Brasil exportaria um volume tão grande quanto no ano passado, não deve se confirmar. O desempenho dos embarques até julho está aquém do esperado. No ano, o País comercializou 3,3 milhões de toneladas do grão ante a 4,21 milhões de toneladas no mesmo período de 2007. No ritmo atual, segundo cálculos da Safras & Mercado, as exportações não vão passar de 6 milhões a 7 milhões de toneladas no ano. Pela estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil vai colher um recorde de 58,4 milhões de toneladas, com consumo de 44,5 milhões de toneladas. Ou seja, há um "excedente exportável" de 13,9 milhões de toneladas.
"A estimativa da Conab, para exportação, não vai acontecer", acredita Pedro Collussi, analista da AgraFNP. A estatal havia previsto 11,5 milhões de toneladas na safra 2007/08. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Odacir Klein, diz que acredita em uma recuperação do mercado. "Há demanda mundial", assegura. Segundo ele, o País precisa exportar 10 milhões de toneladas.
Os preços mais altos no mercado interno que na paridade exportação, no primeiro semestre, teriam desestimulando novos contratos de venda externa. O resultado é que, no Paraná, a cotação atual teria de cair pelo menos 15% para ficar viável o embarque do grão, segundo a Céleres. Como os preços já estão mais baixos atualmente – a média de agosto, até agora, é 20% inferior a de julho – a perspectiva é de desestímulo à produção.
"Com os preços atuais, a lavoura, em Rio Verde, na safra de verão, tem rentabilidade negativa de 11,4% e, na safrinha, negativa em 28%. Diante disso, a safra de verão já terá redução de área. Então, o governo tem de agir rápido para evitar um desequilibro de oferta", diz Fernando Pimentel, da Agrosecurity. Pelos seus cálculos, o "enxágüe governamental" deveria ser de, 3 milhões de toneladas.
"Basicamente estamos exportando o que tínhamos vendido antecipadamente no ano passado", afirma Leonardo Sologuren, sócio-diretor da Céleres. Segundo ele, como o cenário do mercado mudou, muitos produtores perderam a oportunidade de venda. No início do ano, por exemplo, esperavam-se compras da Europa e menos exportações dos Estados Unidos – que, com o dólar mais baixo, ganhou competitividade. Ele acrescenta que há necessidade de escoamento, mesmo que a preço mais baixo, para não pressionar, ainda mais o mercado interno. "Talvez o governo tenha de fazer alguma coisa", acredita.
O presidente da Conab, Wagner Rossi, afirma que, na próxima semana, a estatal deve anunciar compras tanto diretas como por meio de contratos de opção. A Conab está autorizada a adquirir, inicialmente, 300 mil toneladas, feita de forma escalonada. "Estamos reintroduzindo na política de apoio à agricultura o retorno dos estoques públicos, com uma concepção diferente", disse. Segundo ele, serão estoques estratégicos para abastecimento, mas também com efeito regulador, renováveis a cada dois anos. Ele assegura que as compras serão com cautela para não "perturbar o mercado". A primeira intervenção deve começar por Mato Grosso, com 50 mil a 100 mil toneladas – os valores pagos serão definidos na próxima semana.
O superintendente do Instituto Matogrossense de Economia Agrícola (Imea), Seneri Paludo, lembra que o estado colhea maior safra de milho da história: 7 milhões de toneladas e o preço caiu 30% em 60 dias ( R$ 13 a saca), pois o estado não consome toda a produção "É uma boa oportunidade para o governo recompor os estoques", acredita.