Santa Catarina é um dos maiores produtores de suínos e de frango do Brasil. Por ano de 6,5 milhões de toneladas de milho são necessários para a ração dos animais. Mas a região produz apenas 3,5 milhões de toneladas, ou seja: depende e muito do milho de outras regiões.
Com uma safrinha ainda no campo, nos principais estados produtores, e com uma expectativa de queda de 7% na própria produção, o resultado não poderia ser outro: falta milho. O que chega está muito caro: a saca, que no fim de 2015, saía pra os produtores do oeste catarinense em torno de R$ 35, agora custa quase R$ 60.
Os criadores de suínos que mais sofrem os impactos da falta de milho são os independentes, que não são ligados a cooperativas ou indústrias. Eles arcam sozinhos com os custos de alimentação, desde a produção dos leitões até o abate. Como o milho é o principal ingrediente da ração, o risco é faltar comida pros animais.
Dos oito mil produtores catarinenes, 15% trabalham por conta própria. Seu Jacob Biondo é um dos criadores independentes do município de Seara. Ele produz quatro mil suínos por mês. Para a ração, precisa de 700 sacas de milho por dia. E a situação está apertando: “Nós temos produto pra fazer ração pra mais uns 15 dias sem comprar nada”. Para encontrar milho quando falta, ele diz que se viram como podem “e aguardando o governo, da Conab, que é a única esperança que temos.
Da Conab, a Companhia Nacional de Abastecimento, cada produtor tem direito a 100 sacas por mês. Com mais dois irmãos que trabalham junto, seu Jacob consegue 300 sacas, que não representa nem metade do que ele usa em um único dia.
Além de pagar caro pelo milho no mercado, o valor que recebe pelo quilo do suíno não cobre o prejuízo. O preço até que subiu – nesta semana, o passou de R$ 2,30/Kg pra R$ 2,60/Kg. Mas, segundo seu Jacob, ele gasta R$ 3,60 para produzir 1Kg do animal. Ou seja: um prejuízo de R$ 1 por quilo negociado.
No município de Concórdia, também no oeste de SC, o criador Oraldi Martelli trabalha com 200 matrizes, as fêmeas para reprodução. O produtor está apreensivo: “Hoje o milho que a gente consome é pra semana. E tem semanas que a gente fica com dificuldade, né? Então enquanto não conseguir o produto pra alimentar os animais num período de oito a dez dias… Então é essa a nossa preocupação”.
No oeste de Santa Catarina, a Conab usa os armazéns de uma cooperativa pra guardar os grãos. Das 14 mil toneladas armazenadas na região, 5 mil foram liberadas para os produtores nos últimos dias, a um preço abaixo do valor de mercado: R$ 45,52. Mas a necessidade da região é bem maior.
Uma alternativa para os produtores de suínos de Santa Catarina é a compra do milho no Paraguai, que já está começando a sua colheita. A principal vantagem é o custo do frete: enquanto as regiões produtoras do país vizinho ficam a cerca de 700 Km de distância, o município de Sorriso-MT, por exemplo, está a mais de 2 mil Km.
O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio de Lorenzi, acaba de voltar do Paraguai, onde foi acertar os detalhes da importação. Ele diz que vale a pena: “Apesar das dificuldades que nós temos nas importações, as tarifas que temos também, mais PIS e COFINS, ainda assim o milho chega num preço de 10 a 12% mais barato que o milho comercializado dentro do país”.
Já no modelo de produção integrada, quem corre atrás do milho são as cooperativas. O presidente da Aurora, Mário Lanznaster, teve que buscar milho na Argentina para evitar a falta do produto nas 13 unidades da empresa: “Milho da Argentina custa pra nós da agroindústria R$ 48. E milho no mercado interno, como não tem, está especulado: até R$ 60. Esse é o desespero que tem. O cara procura, às vezes tem dinheiro pra comprar e não acha”. Ele diz ainda que nunca viu uma situação como esta, de ter de importar milho.