A falta de mão de obra é um problema que se agrava em vários segmentos da economia brasileira. Pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 69% das fábricas do País sofrem com este problema. Mas há setores nos quais a situação é mais séria e as empresas são obrigadas a lançar mão de expedientes pouco comuns para conseguir preencher suas vagas e reter trabalhadores. É o caso da avicultura paranaense, que exportou mil toneladas de carne, movimentando US$ 1,6 bilhão, no ano passado.
Segundo o Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), há 2 mil vagas em aberto nos abatedouros do Estado, principalmente na região oeste, onde estão concentradas oito empresas do setor, sendo seis cooperativas. As oportunidades de trabalho são para auxiliares de produção, que ganham entre R$ 650 e R$ 1 mil, e não exigem sequer que os candidatos sejam alfabetizados.
Há três anos, a Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol), localizada em Cafelândia (55 km de Cascavel), construiu 101 casas para alugar, com subsídio, para os funcionários que traz de outros municípios. Mas não foi suficiente. Até o fim do mês, devem ficar prontos 48 apartamentos para atrair mais gente de fora. A cooperativa ainda negocia uma parceria com a Caixa Econômica Federal para construir mais 50 unidades habitacionais, que serão financidas pelos trabalhadores interessados.
Só em Cafelândia, o abatedouro da Copacol tem 300 vagas em aberto, com salários de R$ 850. Dos seus 4.800 funcionários, pelo menos metade veio de fora do município. Segundo o presidente, Valter Pitol, as casas com aluguel subsidiado apenas amenizam a situação. ”É um problema muito difícil. Não vemos solução a curto prazo. Enquanto isso, perdemos oportunidades de negócio no exterior.”
Ele diz que a empresa tem feito o possível para automatizar seus processos, mas alega que os equipamentos existentes para a desossa do frango têm custos altíssimos. ”Mas mesmo que tivéssemos essas máquinas, nem tudo pode ser automatizado. Sempre precisaremos de muita mão de obra.”
Na Globo Aves de Cascavel, o problema também é sério. Encontrar candidatos para as vagas no próprio município é praticamente impossível. ”Temos de buscar trabalhadores em outras cidades, fazendo divulgação nos bairros, junto às prefeituras, com carros de som, cartazes e panfletos”, afirma a psicóloga da empresa, Aline Gil Varaschini.
De acordo com ela, a rotatividade no setor é muito grande. ”Todos os meses, temos de repor aproximadamente 120 pessoas. Os funcionários migram de tempos em tempos de uma empresa para outra. Muitos até retornam para o emprego anterior”, alega. Atualmente, segundo a psicóloga, não há nenhuma vaga em aberto no abatedouro, mas 100 estão disponíveis em granjas e incubatórios. Cerca de 45% dos 3 mil funcionários são de cidades próximas a Cascavel.
O superintendente adjunto da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Nelson Costa, afirma que o setor avícola é um dos campeões em oferta de mão de obra no Paraná. Muitas das empresas estão localizadas em pequenos municípios. ”A regra é elas esgotarem as possibilidades de contratação dentro dos municípios e passar a recrutá-los num raio de até 100 quilômetros. A maioria possui ônibus para buscar e levar os funcionários para casa”.