A Agência da ONU para Agricultura e Alimentos (FAO) anunciou hoje que seu índice de preços de alimentos registrou em março uma forte alta de 4,8 pontos, equivalente a 2,3%, alcançando o mais alto nível desde maio de 2013.
Segundo a FAO, os custos de alimentos têm sido influenciados por condições meteorológicas desfavoráveis nos Estados Unidos e no Brasil, e também por tensões geopolíticas no mar do Norte, com a anexação da Crimeia pela Rússia.
O índice, que mede a variação mensal da cotação internacional de uma cesta de alimentos, registrou em março alta em todos os grupos de produtos, com exceção dos lácteos.
Enquanto os preços sobem no mercado internacional, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reiterou ontem que a inflação tem sido de alvo de choques, como o de alguns preços de alimentos, que são localizados, mas que está tudo sob controle.
O economista-chefe da FAO, Abdolreza Abbasian, disse em comunicado que “o índice de preços alimentares reflete as tendências de março”, para assinalar que alguns riscos já foram reduzidos.
Diminuíram, por exemplo, os temores sobre uma interrupção da entrega de cereais da Ucrânia, em meio ao conflito com a Rússia. Para o economista, “os mercados já começaram a dissipar os efeitos negativos que as conjunturas econômicas internas difíceis poderiam ter sobre as colheitas de 2014”.
O índice da FAO alcançou em março a média de 212,8 pontos, o maior nível em quase um ano.
No caso do índice de preços de cereais, a alta foi de 10 pontos em relação a fevereiro. Segundo a FAO, as cotações de milho aumentaram, com os importadores acelerando compras diante dos problemas climáticos nos EUA e no Brasil e de tensões no mar do Norte.
No caso de carnes, o índice de preços subiu 2,7 pontos, chegando a 185 pontos. Também o custo da carne de porco aumentou, influenciado por uma epidemia de diarreia nos porcos nos EUA, o que poderia afetar as exportações do país.
O índice do preço internacional de açúcar foi o que aumentou mais, 18,5 pontos em março e agora ficando em 253,9 pontos. Isso reflete a inquietação do mercado com a baixa de estoque do Brasil e da Tailândia, por causa da seca e da produção menor de cana de açúcar.
Segundo a FAO, o impacto potencial do fenômeno El Niño, esperado para este ano, também forçou a subida de preço do açúcar.
A previsão oficial, da US National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), é de 52% de probabilidade do El Niño neste ano. Frequentemente, o fenômeno é associado, mas não sempre, a chuvas acima do normal em regiões agrícolas na América do Sul e nos EUA, beneficiando potencialmente milho, soja e trigo. E chuvas abaixo do normal em partes da Ásia, sudeste da África e a Austrália, podendo afetar a produção de arroz, trigo e milho.
O índice de preço de óleos alcançou seu mais alto nível em 18 meses. A alta foi de 7 pontos, chegando a 204,8 pontos. O fator principal foi a elevação do custo do óleo de palma, no rastro da seca prolongada no Sudeste Asiático.
A exceção foi o índice de produtos lácteos, com recuo de 6,9 pontos em março, ficando em 268,5 pontos. É resultado de queda nas importações da China e incertezas sobre o comércio com a Rússia. Além disso, a forte produção na Nova Zelândia e no Hemisfério Norte afetou os preços.