Impulsionada por uma das mais rentáveis colheitas de verão de todos os tempos no país, a demanda doméstica por fertilizantes confirmou as expectativas das empresas do segmento e disparou em abril. Conforme a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), as entregas das misturadoras às revendas somaram 1,4 milhão de toneladas, quase 24% mais que no mesmo mês do ano passado, e reforçaram as perspectivas de que um novo recorde histórico anual poderá ser batido em 2011.
De janeiro a abril, aponta a entidade, as entregas das misturadoras – empresas que fabricam os produtos finais comprados pelos agricultores – alcançaram 6,4 milhões de toneladas, pouco mais de 14% acima do volume registrado em igual intervalo de 2010. “Como o mercado continua promissor para os grãos, as vendas de fertilizantes tendem a superar 25 milhões de toneladas este ano, o que seria um novo recorde”, diz Rafael Ribeiro de Lima Filho, da Scot Consultoria.
Apesar do bom ritmo de comercialização, em grande medida alimentado pelas elevadas margens de lucro obtidas pelos agricultores com as recentes colheitas de grãos da safra 2010/11, que já estão na reta final, as compras antecipadas para a temporada de verão do ciclo 2011/12, que começará a ser plantada em setembro estão mais lentas do que o inicialmente previsto.
Segundo Lima Filho, aquecida mesmo, no primeiro quadrimestre em geral e em abril em particular, estive a demanda para a semeadura das culturas de inverno da safra 2010/11, para o plantio de algodão e para cana. “É claro que houve alguma antecipação para o próximo verão [a expectativa é que a área plantada aumente], mas nesta frente as aquisições começaram a aumentar com mais força neste mês de maio”.
Esse movimento, realça o analista, pode ser comprovado pelo comportamento dos preços dos principais insumos. Tanto os fertilizantes derivados do fosfato, do potássio e do nitrogênio vinham em alta progressiva até abril e pararam de subir no início de maio. A expectativa, agora, é que as curvas de valorizações sejam retomadas. Mesmo assim, as vendas em 2011 deverão confirmar o padrão histórico de serem mais concentradas no segundo semestre do ano.
Com a preciosa “ajuda” do câmbio, como destaca Lima Filho, a demanda em alta vem estimulando uma disparada nas importações do insumo. Os números da Anda mostram que, enquanto a produção nacional de fertilizantes intermediários cresceu apenas 1,5% no primeiro quadrimestre, para 2,8 milhões de toneladas, as importações aumentaram 57,6% e atingiram 5,6 milhões de toneladas.
A dependência brasileira de adubos importados normalmente gira em torno de 65% a 70%. De janeiro a abril deste ano, as importações representaram mais de 87% das entregas. É claro que há estoques e que boa parte dos produtos que entraram no país nos últimos meses ainda serão comercializados nos próximos meses, quando a produção nacional deverá aumentar de acordo com um “mix” feito pelas misturadoras para preservar suas próprias rentabilidades.
Maior fabricante nacional da matérias-primas para a produção de fertilizantes, a Vale Fertilizantes espelha bem esse movimento de vendas. No primeiro trimestre, mostra o balanço da empresa, sua produção de fosfatados de alta concentração cresceu 5,4% em relação a igual intervalo de 2010, mas as vendas recuaram 12,9%. No caso dos produtos nitrogenados, o comportamento de produção e vendas foi semelhante, mas nem por isso a companhia está desanimada.
“O início de 2011 marcou a continuidade da forte demanda por fertilizantes tanto no mercado internacional quanto no doméstico. A manutenção da demanda em níveis altos continua sendo capitaneada pela alta dos preços das commodities agrícolas que, ao elevar a rentabilidade dos produtores, impulsiona a demanda e o preço dos insumos. Os níveis extremamente baixos de estoques para todos os três nutrientes evidenciam o aquecimento do mercado, que impulsiona a utilização de fertilizantes para aumento de produtividade das lavouras”, informa a Vale Fertilizantes em seu balanço do primeiro trimestre de 2011.
No intervalo, a empresa reportou que investiu, no total, R$ 156 milhões, o que representou incrementos de 9,9% em relação ao último trimestre de 2010 (R$ 142 milhões) e de 21,9% sobre o período de janeiro e março do ano passado. A Vale Fertilizantes registrou receita operacional líquida de R$ 946 milhões no primeiro trimestre de 2011, 70% mais que em igual intervalo de 2010. O lucro líquido da subsidiária da mineradora foi de R$ 114 milhões.