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Financiamento rural cai pela primeira vez em dez safras

<p>O volume de crédito efetivamente destinado ao agronegócio recuou 3,5%.</p>

Redação (23/08/06)- Nem mesmo os quatro pacotes de ajuda ao setor rural conseguiram evitar a fuga dos produtores dos riscos que representariam novos investimentos em suas propriedades. Dados inéditos consolidados pelo Banco Central mostram que a última safra, que terminou em 30 de junho, registrou, pela primeira vez desde o ano-safra 1995/96, uma redução nos financiamentos ao setor rural. O volume de crédito efetivamente destinado ao agronegócio recuou 3,5%, passando de R$ 44,13 bilhões na safra 2004/2005 para R$ 42,61 bilhões no ciclo 2005/06.

“Acabou sobrando dinheiro em várias linhas porque o produtor está desestimulado a contratar novos recursos. Sempre faltou dinheiro e agora não os produtores não tiveram condições de apostar no futuro da atividade”, diz o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Ricardo Cotta. O ministro da Agriculturam, Luís Carlos Guedes, disse que os recursos de crédito rural “mais do que duplicaram” nos últimos três anos. “O governo tem apoiado fortemente, mas a crise é muito grande”, afirmou em recente entrevista ao Valor. Segundo ele, foram aplicados R$ 2,45 bilhões na comercialização neste ano.

Pelos dados do BC, a inédita redução dos financiamentos ao setor rural foi causada pela retração de 9,9% na concessão de crédito para as diversas linhas e programas de investimento na atividade. O volume de empréstimos caiu de R$ 10,57 bilhões para R$ 9,52 bilhões na comparação com a safra 2004/2005. Mas o recuo dos financiamentos também foi puxado por uma queda de 7,8% nos recursos para a comercialização da safra, que passou de R$ 9,66 bilhões para R$ 8,91 bilhões. Os empréstimos para o custeio da safra passada, porém, tiveram um acréscimo de 1,1% – foram R$ 24,17 bilhões em 2005/2006 ante R$ 23,9 bilhões do ciclo 2004/2005.

Na avaliação da CNA, os resultados são um “reflexo” da crise iniciada em 2004 com os problemas climáticos e o descasamento da renda atrelada ao dólar. “Plantamos com uma cotação muito alta do dólar e colhemos com um real muito valorizado”, diz Cotta. Além disso, a situação dos produtores acabou complicada pela crise de renda derivada do forte endividamento e precariedade da infra-estrutura de escoamento da produção. “Agora, para plantar a atual safra, continuamos a enfrentar o problema do real forte e do caos de estradas, portos e ferrovias”.

O Ministério da Agricultura, que coordena um grupo de acompanhamento das liberações de crédito rural, justifica a queda por questões metodológicas. Os dados compilados pelo BC não incluiriam determinados tipos de operação que os bancos estão desobrigados de informar à autoridade monetária.

Pelos cálculos da Pasta, as liberações somaram R$ 43,68 bilhões na safra 2005/2006. Ainda assim, é um resultado 1,44% inferior aos R$ 44,13 bilhões registrados pelo BC no ciclo 2004/2005. “O sistema do Banco Central também não contempla os empréstimos concedidos com fonte na poupança rural a taxas de juros livres”, argumenta o coordenador-geral de Análises Econômicas do ministério, Wilson Vaz de Araújo. A discussão, segundo ele, abrangeria ainda os recursos emprestados via Cédula de Produto Rural (CPR), que também têm taxas de juros de mercado. Mas os números do grupo coordenado pelo ministério não contêm detalhes das operações dos bancos privados. As informações mais detalhadas são restritas aos três bancos públicos federais (Brasil, Nordeste e Amazônia) e aos dois cooperativos (Bancoob e Bansicredi).