Apesar de muitas vezes ser vista como marketing, a busca por recursos sustentáveis em empresas é uma realidade que vem ganhando espaço. Segundo dados do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, 37% dos brasileiros aceitariam pagar mais caro por um produto ecologicamente correto. Além disso, paradigmas como o alto preço da produção sustentável estão caindo, e esta transição já traz benefícios não apenas ambientais, mas também econômicos para as indústrias.
As medidas que são tomadas pelas indústrias para que respeitem às leis referentes ao meio ambiente, e também as atitudes de iniciativa própria fazem parte da sustentabilidade empresarial. Antes vista como um procedimento caro e desnecessário, atualmente é possível implantar ações em prol da natureza sem muito dinheiro, e obtendo inclusive economia de custos. Além de ter como aliada a estampa verde, que atrai o público e por conseqüência aumenta os lucros.
Casos bem sucedidos
Muitas empresas não só demonstram preocupação ambiental, como também servem de referência. A Sadia, por exemplo, com o Programa 3S – Suinocultura Sustentável Sadia, ajudou a implantar biodigestores em 980 granjas parceiras, obtendo assim energia limpa a partir do tratamento dos dejetos dos suínos.
Sem tratamento, a carga orgânica poluidora destes dejetos é 25 vezes maior que a do esgoto humano. Um dos motivos é pela liberação do gás metano, que é 21 vezes mais impactante para o meio ambiente que o gás carbônico. Através do uso de biogestores, o metano, que seria lançado na atmosfera, é convertido em CO2 e energia limpa.
Floripa Shopping
Em agosto de 2009 o Floripa Shopping tornou-se o primeiro centro comercial do sul do Brasil a receber a certificação ambiental ISO 14001. Esta qualificação exige que 381 normas ambientais sejam cumpridas. A adaptação do espaço é feita desde dezembro de 2007 e custou cerca de 200 mil reais. De acordo com a chefe ambiental do Floripa Shopping, Joseane Ferrarezi, apesar da economia com água e energia por causa do melhor mapeamento destas áreas, a grande diferença econômica virá com a maior adesão do público.
As adequações envolveram: a troca de torneiras comuns para novas com sensores, a mudança para lâmpadas que economizem energia, o gerenciamento de resíduos, o tratamento de ruídos, além de projetos ecológicos vinculados à sociedade, escolas e instituições ambientais.
Essas mudanças abrangem todo o local, e por isso, antes que um novo empreendimento se instale, é explicado ao proprietário e ao gerente da loja todas as políticas que o Shopping defende e também as exigências ambientais que serão cobradas dos lojistas.
Saraiva Retrovisores
Desde que foi criada, em 1947, a preocupação ambiental faz parte da empresa Saraiva, que atualmente produz 60 mil peças para retrovisores mensais, atende a todas as encarroçadoras do Brasil além de exportar para diversos países como Argentina, Chile, Austrália, Jordânia, Canadá e Espanha.
A proprietária Arlete Saraiva afirma que a sustentabilidade sempre foi um dos princípios da empresa e da família. “Ao construirmos a sede em Biguaçu, meu marido fez toda a estrutura pensando em não poluir o meio ambiente” relata. Como estratégias para o uso de recursos ecologicamente corretos foi instalada uma cisterna de 150 mil litros, o que faz com que apenas a água para beber seja comprada. Pela quantidade que é armazenada, também há água que sobra, e nos oito anos que a empresa está localizada em Biguaçu, apenas uma vez foi necessário utilizar os recursos da Casan.
Os ruídos das máquinas e a poeira em suspensão também estão devidamente controlados, mas mesmo assim a empresa exige equipamento de segurança. Para a parte da produção em si, foi desenvolvida uma tinta exclusiva para a Saraiva, que é diluída em água, e, portanto, não agride o meio ambiente.
Além disso, os resíduos desta tinta são retirados com uma cortina de água (a mesma que veio da chuva). Como a região de Biguaçu não tem esgoto, foi feito um sistema de fossas que trata o que é eliminado, e uma firma especializada retira os resíduos e dá a eles o destino correto.
Mesmo com o cumprimento de todas as leis ambientais, a empresa não buscou por certificados. A proprietária diz que das 18 montadoras que são atendidas, até hoje, nenhuma mencionou a respeito de questões ambientais. “Como fazemos essas ações por serem corretas e não em busca de marketing, temos o ISO de qualidade, mas não procuramos certificações ambientais.” explica Arlete Saraiva.
Eletrosul
Por se tratar de uma empresa pública, os processos são mais demorados, mas também eficientes. A Eletrosul trabalha em toda a região sul e também no Mato Grosso do Sul, e desde julho de 2007 iniciou um programa de gestão ambiental baseado na política do grupo Eletrobrás. Seu tronco principal é a conformidade com as diretrizes das políticas públicas relativas ao meio ambiente. Além do trabalho de sustentabilidade na produção, também está em vigor na sede, que fica em Florianópolis, projetos ecológicos dentro da própria empresa.
O programa consiste em adaptações básicas, que dependem em grande parte da conscientização dos 1500 trabalhadores. Até agora os copos plásticos foram trocados por canecas, todos os computadores foram configurados para realizar impressão frente e verso, as lâmpadas foram colocadas em um fundo espelhado, o que gera uma maior eficiência na iluminação, e houve conscientização para que luzes e monitores sejam desligados ao final do expediente. Também foi feito um contrato com a associação de catadores, e todos os papéis e plásticos são entregues à reciclagem.
A responsável pelo Setor de Gestão Ambiental, Isadora Rodrigues Tarini, diz que por se tratar de funcionários públicos que muitas vezes estão há vários anos trabalhando no local, implantar uma mudança de hábitos é complicado. Deve ser uma medida formalizada pela administração superior da empresa e também divulgada por meio de cartazes e avisos. Mesmo com dificuldade, em pouco tempo a atitude se torna natural e novas metas ambientais, que são propostas anualmente, podem ser implantadas.
É possível mudar sem sofrer
Para uma empresa começar a se tornar sustentável, existem várias medidas a serem tomadas. Muitas delas são simples e não exigem custos ou grandes mudanças estruturais, apenas conscientização dos trabalhadores.
Para medidas de médio e grande porte, sugere-se a contratação de um engenheiro ambiental ou de empresas de consultoria para que planos de tratamentos dos resíduos sejam implantados.
Dentre as adaptações mais comuns para a produção estão:
• Cisternas – Captação e filtragem da água da chuva, reutilizando-a em diversos setores como na lavagem de calçadas e banheiros, e na própria produção.
• Tratamento de resíduos – “Limpa” os resíduos originados na produção e os destina a locais corretos, sem comprometer o meio ambiente.
• Mudança para descargas e torneiras eficientes – Descargas que têm a variação para dejetos líquidos e sólidos e também torneiras com sensores para as mãos não desperdiçam água e por consequência geram economia.
• Tratamento de ruídos – Como o meio ambiente não se restringe à natureza, além do cuidado com a intervenção através de ruídos no trajeto de animais como os passarinhos, a contenção acústica também é importante para o bem estar social e cuidados auriculares dos funcionários.
• Filtros nas chaminés- Evita o envio de gases nocivos à atmosfera, que resultam no efeito estufa e no aquecimento global. Exigido em empresas de grande porte, também existem versões como filtros contra poluição odorífera para restaurantes e lanchonetes.