O Brasil precisa adotar um programa de garantia de empregos em conjunto com a execução do Plano Plurianual (PPA) para reforçar a demanda doméstica, ficar cada vez menos dependente da demanda externa e permanecer como um sólido participante do grupo dos Brics no contexto de crise global, segundo o economista americano Jan Kregel. Professor do instituto Levy Economics of Bard College, Kregel participa na segunda-feira da 21ª edição do Fórum Nacional, organizado pelo Instituto de Altos Estudos (Inae), coordenado pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso. O fórum acontece na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Segundo Kregel, a base para os países dos Brics se consolidarem como tal é fortalecer suas demandas internas. Somente o crescimento da renda, diz ele, é insuficiente para estimular o consumo e reduzir a desigualdade devido ao forte impacto da crise sobre o aumento do desemprego e do quadro já deficiente de emprego no Brasil. O economista pós-keynesiano lembra que quando o PPA foi introduzido e a Agenda Nacional de Desenvolvimento e até o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram propostos, eles não foram integralmente cumpridos por conta das preocupações externas em relação aos efeitos sobre as finanças públicas e da necessidade de receber o grau de investimento diante do problema da sustentabilidade da dívida.
“Nas atuais condições, essas necessidades estão pressionando menos porque é improvável que os mercados de capitais internacionais respondam a estes fatores como antes”, diz o texto de Kregel que será apresentado no fórum. “O mais importante atrativo será a habilidade de crescer domesticamente sem a necessidade da demanda externa e do financiamento estrangeiro dentro dos limites dos acordos internacionais de comércio”, diz outro trecho do estudo.
O PPA baseou-se na construção de uma demanda interna, na redução da desigualdade de renda e na criação de demanda por produtos que poderiam ser produzidos pela indústria local com apoio do governo porque, na avaliação do economista, era chave deslocar a dependência externa para a demanda nacional sem criar inflação ou desequilíbrios externos.
Além de abordar o papel dos Brics na crise global, o Fórum Nacional deste ano vai tratar de ações sugeridas pelo Inae em conjunto com 50 empresários nacionais em plano entregue recentemente ao governo Lula. Entre as propostas, o ex-ministro Reis Velloso destaca o uso do pré-sal e de novas energias como fatores de desenvolvimento econômico. “O governo já está atuando bem na primeira frente de ações, ao oferecer crédito e desonerar alguns setores, mas há necessidade de transformar a crise em oportunidade, como nos anos 30, quando o país se industrializou”, afirmou Reis Velloso.
O Fórum Nacional terá a presença de dois presidenciáveis, mas em momentos diferentes. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), abre a reunião e fala sobre as oportunidades do Brasil na crise na segunda-feira. Na quinta-feira, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), fecha o encontro com a palestra “A cultura da esperança e as oportunidades do Brasil”.