Exatamente um ano após a quebra do Lehman Brothers, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) publica sua avaliação sobre a crise e revela que os mercados começam a voltar à normalidade. Mas as vulnerabilidades continuam e as dúvidas sobre a sustentabilidade dos lucros dos bancos ainda são motivo de incerteza. Para o BIS, a recuperação da economia mundial será “gradual e vulnerável a novas recaídas”.
Depois de um otimismo considerado por muitos exagerado há poucos meses, o BIS observa que o próprio mercado já indica que será preciso ter paciência para as condições ficarem mais claras. Até mesmo a capacidade da China de tirar o mundo da recessão passou a ser colocada em dúvida. Pequim triplicou seus empréstimos entre bancos em 2009, para um total de US$ 1 trilhão. O temor é de que esse dinheiro esteja financiando um excesso de capacidade produtiva.
Os dados estão sendo publicados hoje (14/07) na Suíça. O relatório mostra que as ações nos mercados pelo mundo já voltaram aos níveis de outubro. Os papéis dos bancos também estão em alta – ainda que 30% abaixo do pico registrado em 2008.
De forma geral, a melhora da situação dos mercados possibilitou um cenário mais positivo para as economias emergentes, como o Brasil. Muitas voltaram a emitir papéis no mercado e o acesso ao crédito começou a dar sinais de melhora.
Os dados macroeconômicos positivos, como o fim da recessão na Alemanha e na França, além dos lucros de empresas e bancos, deram esperanças de uma “reviravolta” no cenário. O resultado foi uma queda nos spreads (juros) e uma alta no valor de ações, com base na percepção de que o pior já passou.
Segundo o BIS, o custo de empréstimos entre os bancos quase voltou ao mesmo nível anterior à crise. O banco insistiu em que os mercados “continuam dando sinais de que estão se normalizando”. Em alguns mercados, a taxa é a melhor desde o início de 2008. Nos EUA, só se equipara à de meados de 2007.
Vulnerabilidade – Apesar disso tudo, o BIS ainda tem dúvidas sobre o ritmo da recuperação da economia e da situação dos bancos. A instituição alerta que a vulnerabilidade e a volatilidade continuam nos mercados, ainda sensíveis a qualquer dado negativo.
Um sinal seria ainda a hesitação de investidores no mercado de papéis dos governos dos países ricos. Isso, para o BIS, seria uma demonstração de que não estão convencidos com o ritmo da recuperação e colocam em dúvida o caminho futuro de políticas monetárias.
O que surpreende o BIS é que, apesar dos gastos elevados de governos com pacotes de ajuda, o mercado ainda mantém inalteradas suas previsões de médio prazo para a inflação. Em outras palavras, isso seria mais uma demonstração de que o mercado aposta que as economias vão continuar patinando por algum tempo.