Redação AI (28/09/06)- Dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef) demonstram que a exportação das aves em agosto desse ano aumentou em mais de 12% no comparativo com o mesmo mês do ano passado. Os números poderiam ser um indício da retomada das exportações do setor, após meses sentindo os reflexos da gripe aviária em outros países. Mas a história não é bem essa. Julio Alberto Rodigheri, analista do mercado de carnes do Centro de Estudos de Safras e Mercados (Epagri/Cepa), afirma que o bom desempenho de agosto ocorreu devido a uma venda pontual. Entre julho e agosto foram exportados para o Egito 20 mil toneladas – o equivalente a U$S 40 mi- lhões. Em julho, as vendas para o Egito corresponderam a 19% das exportações brasileiras de frango.
Santa Catarina é um tradicional fornecedor de frangos para países islâmicos. Para vender carnes para esses países, é preciso mais que boas relações comerciais. Pessoas de religião islâmica consomem roupas, alimentos e se comportam de acordo com o halal (em árabe, permitido, autorizado). Dessa maneira, a produção do frango deve seguir as regras religiosas islâmicas, que vão de orações em árabe até a necessidade da pessoa que realiza o abate ser muçulmana.
Egito pode ser porta de entrada
A venda específica realizada nos últimos dois meses para o Egito pode representar a porta de entrada para o país africano e demais países islâmicos. A compra de carnes de aves brasileiras pelo Egito foi impulsionada pela a proximidade do Ramada – que nesse ano ocorre de 21 de setembro a 21 de outubro – período em que os muçulmanos praticam um jejum ritual do nascer ao pôr-do-sol e também realizam festas após o mês de jejum. Segundo Rodigheri, como o Egito teve problemas com a gripe aviária, a produção de frangos foi proibida. “Por isso eles começaram a importar para o período do Ramadã e depois dele”, afirma. Cabe aos frigoríficos manterem agora as portas egípcias abertas às aves “made in Brazil”.
Segundo Rodigheri, o setor avícola brasileiro está buscando cada vez mais entrar em novos mercados para recuperar a queda nas vendas para a Europa, um dos mais “assustados” com a gripe aviária, e onde ocorreu uma das maiores reduções de importação de frangos no comparativo dos oito primeiros meses de 2006 e 2005: -18,5%. Os países de religião islâmica seriam alguns dos “alvos” catarinenses. “Eles têm uma exigência muito grande na maneira como as aves são abatidas, e como Santa Catarina já fornecia para alguns países, os novos mercados preferem comprar de fornecedores já tradicionais como os catarinenses”, explica.
Previsão de queda nas exportações
A negociação com o Egito não foi suficiente para alterar as expectativas para este ano, que não são otimistas para as exportações de frango. Apesar do aumento de agosto, Rodigheri afirma que as estimativas para o final do ano são de queda nas exportações de 6,5% a 13%.
No comparativo dos oito primeiros meses de 2006 e 2005, os exportadores brasileiros de frango registraram uma queda de 8,1% no volume comercializado com outros países. O que significa que de janeiro a agosto desse ano, foram vendidos 1,7 mi- lhões de toneladas. Em receita, o volume correspondeu a pouco mais de U$S 2 bilhões, montante 7,7% menor que o obtido no mesmo período de 2005.
Santa Catarina caiu mais
Santa Catarina, que ocupa a posição de segundo maior produtor brasileiro de frango e maior exportador, apresentou queda pouco maior que o índice brasileiro. De janeiro a agosto desse ano, os frigoríficos catarinenses venderam 9,4% menos que no mesmo período do ano passado, ou seja, 479 mil toneladas contra as 529 mil toneladas de 2005. Os catarinenses receberam 8,2% a menos que no comparativo com 2005. As diferenças entre as exportações brasileiras e catarinenses podem ser explicadas pelos mercados atendidos. Santa Catarina comercializa muito com a Europa, país que reduziu substancialmente suas importações de frango.
O acumulado negativo tanto para o Brasil quanto para Santa Catarina, estaria intimamente relacionado com a gripe aviária. “A doença surpreendeu muitos países e isso influenciou diretamente o consumo”, afirma. Rodigheri diz que, a retomada das vendas para países que tiveram problemas de gripe aviária é lenta, e pode começar somente em 2007.
Agrovêneto espera um 2007 melhor
O frigorífico Agrovêneto, de Nova Veneza, como o restante do setor, não teve um ano bom. A dobradinha gripe aviária e câmbio desfavorável é apontada pelo setor avícola como a grande responsável pela queda do volume e receita com as exportações. No entanto, ao que tudo indica, 2007 deve ser melhor. Mas não muito.
João Eraldo Dal Toé, diretor comercial da Agrovêneto, afirma que a empresa vislumbra um 2007 melhor que 2006 (quando as mais otimistas previsões dão conta de um ano equivalente ao que foi 2005). “Não vemos uma melhora muito grande. A recuperação será gradativa”, afirma. Tudo vai depender da política cambial e dos reflexos da gripe aviária. O frigorífico exporta 80% da produção para mercados como o europeu e o japonês.