Da Redação 21/10/2002 – No Mato Grosso do Sul onde o orgulho é ter o maior rebanho bovino do País, 23 milhões de cabeças, a avicultura e a suinocultura estão sendo responsáveis por uma lenta, mas contínua, revolução no sistema de produção e renda na última década. Há dez anos, aviários e granjas de suínos eram praticamente inexistentes e nos últimos cinco anos criaram notoriedade até mesmo na balança comercial. Atualmente as duas atividades representam, juntas, 21% dos produtos que são exportados por Mato Grosso do Sul, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Em 1998, conforme dados da Delegacia Federal de Agricultura, os dois frigoríficos, instalados em São Gabriel do Oeste e em Dourados, abateram 516 mil suínos. No ano passado, o volume chegou a 817,8 mil cabeças, o que representa aumento de quase 60% em quatro anos. E se a comparação for entre os oito primeiros meses de 2001 com o mesmo período de 2002, o salto é de 42%, passando de 524,4 mil cabeças para 744,8 mil cabeças.
No caso do frango, a situação é semelhante. Nas cinco principais indústrias passou-se de um abate anual de 84,3 milhões de cabeças, em 1998, para 110,3 milhões no ano passado, um aumento de 31%. Na comparação dos nove primeiros meses deste ano com igual período de 2001, ocorreu aumento médio de 200 mil cabeças por mês. Nestes mesmos quatro anos, o abate no número de bovinos ficou praticamente estabilizado nos quatro milhões de cabeças anuais. E esses aumentos não representam apenas números, mas principalmente empregos.
Hoje, conforme Ermínio Guedes, superintendente de desenvolvimento econômico da Secretaria Estadual da Produção, os dois setores geram pelo menos 7 mil empregos diretos no campo e nas sete indústrias. E para cada emprego direto, estima-se, surgem outros dois indiretos. E só não há mais empregos porque a produção estadual ainda não atende a demanda. O Frigorífico Aurora, em São Gabriel do Oeste, emprega 533 pessoas para o abate diário de 1.150 suínos, segundo Mauro Grasel, gerente-geral da indústria. Pelo menos 60% desses animais percorrem de 400 a 600 quilômetros de distância, trazidos do vizinho Mato Grosso, porque em Mato Grosso do Sul ainda há poucos criadores. Além do aumento no custo, essa “importação” acaba gerando empregos fora do Estado, lembra Mauro Grasel. A revolução, conforme definição de Ermínio Guedes para o setor, está longe de acabar. Até 2007, a perspectiva é passar das atuais 110 milhões de cabeças de aves para 200 milhões anuais. No caso dos suínos, a previsão é saltar dos 818 mil abates/ano para 1,2 milhão de abates anuais.
Hoje, essas duas atividades, que giram juntas em torno de meio bilhão de reais ao ano, equivalem a cerca de 15% do dinheiro que gira na criação e abate de bois. Nos próximos cinco anos, acredita Ermínio Guedes, essa participação vai dobrar e representar 30% do PIB da pecuária.
O fato de o frango ter se tornado vedete do Plano Real é uma das explicações para o aumento na produção nos últimos anos no Estado. O consumo por habitante cresceu de 23 para 33 quilos ao ano desde 1995, enquanto o da carne bovina está parado em 36 kg/ano. Mas o de carne suína evoluiu pouco nesse período, passando de 8 para 10 kg/ano. Por isso, conforme Ermínio Guedes, a explicação para o crescimento desses dois setores nos últimos anos são os incentivos fiscais concedidos às indústrias em Mato Grosso do Sul, embora o ICMS sobre a carne de aves e suína seja ainda bem superior ao da bovina.