O Brasil pode perder em 2010 a liderança mundial nas exportações de carne de frango, posição que ocupa desde 2004. A avaliação é da própria Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), que revisou suas estimativas para novembro e dezembro deste ano e também refez os cálculos de crescimento para 2010.
Em reunião na sede da entidade, em São Paulo, o conselho da Abef, formado pelas principais empresas do setor, como BRF, Marfrig, Doux, Aurora e Coopavel, traçou um cenário de pouca tranquilidade para o segmento nos próximos meses, com expectativa de queda de 10% nas vendas em 2010.
O espaço deixado pelo Brasil seria ocupado por Estados Unidos, que atualmente é o maior produtor e segundo maior exportador de carne de frango, e também pela Argentina. Segundo Francisco Turra, presidente da Abef, a ameaça de perder a liderança no comércio internacional de carne de frango se deve a alguns fatores que agem de forma conjunta. O mais crítico, no momento, é a desvalorização do dólar em relação ao real, que apenas em 2009 já recuou 25%.
Turra lembra que, no ano passado, antes da crise, o dólar estava em uma situação parecida com a atual ou até pior. “A diferença é que, naquela época, conseguíamos repassar para os preços em dólar as perdas que tínhamos com o câmbio. Hoje os importadores não aceitam mais isso e encontram em países com situação cambial mais favorável outras possibilidades”, afirma.
Sinal da dificuldade em repassar os preços, o valor médio do frango brasileiro no mercado internacional foi de US$ 3.572 por tonelada em setembro. Apesar de esse valor ser o mais elevado do ano, ainda representa uma retração de 19% em comparação à cotação média de setembro de 2008, quando a tonelada foi exportada por US$ 4.377.
No campo das barreiras, a União Europeia já notificou o Brasil de que, a partir de março de 2010, mudará a forma de classificação da carne de frango. A ideia é que o frango in natura deixe de ser utilizado como matéria-prima para produção de pratos prontos para consumo na Europa. Com isso, o comprador do frango in natura deve necessariamente comercializá-lo nessa forma, sistema que não é convencional na região. “Se a regra não mudar, o Brasil pode perder um mercado de 150 mil toneladas de peito de frango salgado que hoje possui na Europa”, afirma Turra.
Diante do atual quadro, a Abef encaminhou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma carta pedindo atenção do governo à situação cambial. Além disso, os exportadores de frango pedem ao governo que avalie a possibilidade de uma desoneração tributária, especialmente em relação ao PIS/Cofins. “A desoneração neste momento daria maior competitividade às empresas”, afirma Turra, ao lembrar que os frigoríficos de carne bovina conseguiram recentemente um benefício fiscal em relação aos impostos.