Tradicional carro-chefe da pauta de exportações do Paraná, a soja ganhou um concorrente de peso. Embalados pelo processo de agroindustrialização do estado, os embarques de carne de frango crescem a taxas elevadas e ameaçam a liderança da oleaginosa. Nos últimos nove anos, o frango deixou a soja para trás em duas ocasiões, em 2006 e 2007, e voltou a ocupar o topo do ranking neste ano. No primeiro trimestre de 2010, as vendas externas de frango in natura renderam ao estado US$ 302,4 milhões, contra US$ 286,5 milhões da soja em grão.
A situação é oposta à observada nesse mesmo período do ano passado, quando a oleaginosa liderava o ranking com US$ 282,2 milhões e o frango aparecia na segunda colocação com US$ 258,9 milhões. Na época, a avicultura reduzia o alojamento para se adequar à retração da demanda externa causada pela crise financeira mundial. A indústria da soja, mesmo com crise e quebra de safra, antecipava seus embarques para aproveitar os preços de entressafra.
“É preciso tomar cuidado com a análise comparativa do primeiro trimestre porque ela não considera as peculiaridades sazonais dos mercados. Normalmente, as exportações de soja começam a ganhar força em março e aceleram em abril”, pondera o economista Julio Suzuki, coordenador de conjuntura do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Ele observa que o Paraná se recupera agora de uma grande quebra de safra de soja no ciclo passado e por isso os embarques estaduais da oleaginosa tendem a crescer acima da média nacional.
Por outro lado, ressalta que a avicultura é um setor importante para a economia paranaense, que cresce a passos largos com a conquista de novos mercados. “Exportamos mais frango do que automóveis”, compara Suzuki. Para ele, é difícil prever qual produto irá liderar o ranking paranaense de exportação ao final de 2010.
Ele cita o exemplo de 2008. No primeiro trimestre daquele ano, a carne de frango liderava com folga o ranking, com faturamento de US$ 322,4 milhões. A receita das exportações estaduais de soja em grão somava US$ 225,1 milhões. No encerramento do ano, contudo, a situação já era inversa. No balanço final, a vantagem foi para a oleaginosa, que rendeu ao estado quase US$ 2 bilhões em 2008, e jogou o frango para a segunda posição, com US$ 1,6 bilhão.
2008 foi, até agora, o melhor ano para a avicultura paranaense, mas foi também o ano em que a soja alcançou o melhor preço da história. Na Bolsa de Chicago, o bushel (25,4 quilos) chegou a US$ 16,58 (US$ 36,57 a saca). No Paraná, a cotação da saca ultrapassou os R$ 50.
Neste ano, a julgar pelo volume de produção, a soja do Paraná poderia superar a marca recorde de 2008 com a colheita de 14 milhões de toneladas. Mas os preços estão bem aquém dos registrados há dois anos. No mercado internacional, o bushel vale hoje cerca de US$ 9,7 (US$ 21,40 a saca). No estado, a cotação atual da saca oscila entre R$ 30 e R$ 35.
Se na indústria da soja o clima é de cautela, no setor avícola as projeções são ambiciosas. “2010 deve ser ainda melhor que 2008”, prevê o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins. A meta, afirma, é exportar ao menos 80 mil toneladas mensais entre abril e dezembro e melhorar os valores pagos pelo mercado internacional, hoje deprimidos pelo real forte. “Embora o dólar esteja baixo, se estabilizou entre R$ 1,7 e R$ 1,8, o que é bom para o setor porque permite o planejamento dos negócios”, avalia.
Martins projeta para 2010 um crescimento de, no mínimo, 5% para o setor, mas se dizendo otimista, aposta em um avanço de até 10% ante o ano anterior. “Em quatro ou cinco anos a carne de ave será o principal item da pauta de exportações do Paraná”, calcula. Na avaliação do dirigente, a recente conquista de mercados de maior valor agregado, como a China e o Japão, e a manutenção do mercado árabe, principal comprador do frango paranaense atualmente, são fundamentais para cumprir essa meta. Conforme o Sindiavipar, cerca de um quatro da produção avícola estadual é destinada ao mercado externo. O Paraná é o maior produtor e o segundo maior exportador de carne de frango do país, atrás de Santa Catarina.