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Fretes se estabilizam nas rotas entre Brasil e China

Mesmo com a proximidade da temporada de pico, a perspectiva do mercado é que não haverá salto nos preços

Fretes se estabilizam nas rotas entre Brasil e China

Após enfrentar anos turbulentos decorrentes da pandemia, as rotas de comércio marítimo do Brasil finalmente alcançaram um maior equilíbrio entre oferta e demanda em 2023. Essa estabilização tem se mantido ao longo do ano, mesmo com a proximidade da temporada de pico, indicando que os preços não devem registrar saltos significativos.

Uma das rotas mais impactadas desde 2020 foi aquela que conecta o Brasil à China. Contudo, no primeiro semestre de 2023, os fretes nessa rota alcançaram um patamar mais estável, aproximando-se dos níveis anteriores à pandemia. A perspectiva do mercado é bastante positiva, com a expectativa de que os preços permaneçam controlados.

De acordo com os dados fornecidos pela consultoria Solve Shipping, a rota de importação da Ásia para o Brasil chegou a julho com valores em torno de US$ 2.700 por contêiner de 40 pés, no mercado de curto prazo. Essa cifra representa um patamar ligeiramente superior aos preços observados em 2019, que giravam em torno de US$ 1.300, mas está significativamente abaixo dos picos extremos vistos durante o auge do caos logístico, quando os preços chegaram a atingir a marca dos US$ 12.000.

Já os preços de exportação do Brasil para a Ásia, que foram menos impactados durante a pandemia, chegaram a julho em um nível bastante baixo para a média histórica, em US$ 500 por contêiner de 40 pés, no mercado de curto prazo, apontam os dados da Solve Shipping. “Os fretes despencaram e não deverão ter grandes picos no terceiro trimestre, que em geral é a temporada de maior movimentação”, avalia Leandro Barreto, sócio da consultoria.

No entanto, ele aponta que o cenário ainda é nebuloso. “De um lado, temos uma enxurrada de navios novos para entrar no mercado de navegação, o que pode pressionar os preços para baixo, especialmente porque a demanda global derreteu. Temos o cenário de guerra, alta de juros, baixa das commodities”, diz.

“Por outro lado, os armadores têm meios para equilibrar a oferta e a demanda. Com as novas normas de descarbonização, as empresas de navegação podem desacelerar a velocidade dos navios nas viagens [para reduzir emissões], ou sucatear navios antigos [mais poluentes], o que seguraria os preços de frete. Isso está sendo feito, mas não a ponto de estancar a queda dos preços.”

Para Luigi Ferrini, vice-presidente sênior na Hapag-Lloyd no Brasil, o segundo semestre deste ano será de estabilidade, “em capacidade, demanda e preços”, afirma o executivo. “Os valores de importação estão bem mais baixos. Houve um aumento durante o ano, mas a níveis razoáveis, que devem se manter. Não vamos voltar ao nível de preços da pandemia. A oferta e a demanda estão muito alinhadas”, afirma Ferrini.

No cenário de exportações para a Ásia, que segundo os dados da Solve Shipping apresentam queda nos últimos meses, Ferrini afirma que não há uma percepção de retração do mercado. “Vejo uma estabilidade. Um fator que poderá afetar é o risco de febre aviária, caso se torne um problema a nível nacional”, diz.

Na avaliação de Barreto, a queda dos preços nos últimos meses podem estar ligadas à redução de demanda da China e à desaceleração da economia global como um todo. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) ainda vê um cenário de incertezas sobre os fretes. Entre os fatores que dificultam uma projeção para o segundo semestre, Ramon Cunha, especialista em Infraestrutura da entidade, aponta as dúvidas sobre o ritmo da entrada e da retirada dos navios de circulação pelos armadores, o que pode influenciar para baixo ou para cima os preços.

Ferrini, da Hapag-Lloyd, afirma que de fato haverá um movimento de retirada de navios com maior emissão de gás carbônico, porém, neste ano, não será algo relevante. “Em 2023, isso não vai afetar muito. Em 2024, deverá impactar mais. Mas, assim como há navios que sairão do mercado, há novos entrando”, afirma. “Para o Brasil, o que mais pode impactar são as outras rotas mundiais, que afetam a alocação de navios.”