Depois de prorrogar o vencimento de quase um quarto de suas dívidas nas últimas semanas, o frigorífico Minerva agora se debruça sobre o desafio de reduzir sua alavancagem. O diretor financeiro da empresa , Edison Ticle, disse ontem ao Valor que a companhia quer reduzir 2,5 vezes a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa, medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), até o fim de 2013. No quarto trimestre do ano passado, essa relação era de 3,66 vezes.
Para isso, o Minerva quer ampliar utilização da capacidade instalada, hoje em 70%. “Tivemos investimentos de quase R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos. É hora de capturar o valor dessas operações”, afirma Ticle. O executivo se refere às unidades frigoríficas de Campina Verde (MG) e Rolim de Moura (RO), que, segundo ele, ainda operam com menos de 50% de seu potencial. Juntas, as plantas podem abater até 2,3 mil cabeças por dia, o equivalente a 22% de toda a capacidade do Minerva.
Em dois anos, a meta é elevar o nível de utilização dessas plantas para 85% a 90% da capacidade. O mesmo vale para a unidade de processados da companhia, a Minerva Dawn Farms, em Barretos (SP), onde a ociosidade está próxima de 40%. Segundo Ticle, o Minerva pode ampliar seu volume total em 15%, em 2012, e mais 15% em 2013, sem fazer investimentos expressivos. O executivo comentou ainda a decisão de voltar ao mercado externo de dívida, mesmo após descartar novas captações em 2012. Na última quinta-feira, a empresa fez uma emissão de notas no valor de US$ 100 milhões com vencimento em 2022. Em fevereiro, a empresa já havia captado US$ 350 milhões em bônus de 10 anos com o objetivo de refinanciar parte da dívida que venceria entre 2012 e 2013.
Segundo Ticle, a reação positiva do mercado à primeira emissão, à divulgação do último balanço trimestral e à elevação da nota de crédito por parte da agência Standard & Poor’s criou condições favoráveis para um novo alongamento. “Nosso risco caiu 200 pontos em pouco mais de um mês, e isso nos permitiu captar recursos mais baratos”.
O executivo diz que as dívidas com vencimento em 2012 e 2013, que antes respondiam por 43% do total, caíram para 15% após as emissões. Ele afirma ainda que a empresa tem dinheiro em caixa para honrar todos os compromissos até 2018, cerca de um terço de uma dívida de R$ 2 bilhões.
O diretor do Minerva afirmou ainda que a estratégia só tornou-se competitiva frente à elevação dos custos de financiamento de curto prazo nos últimos meses, reflexo da crise europeia. “Com a retração dos bancos europeus, que tradicionalmente irrigam o mercado de ‘trade finance’, as taxas para as empresas subiram para até 8% ao ano”, afirma.
Embora essa taxa seja inferior ao rendimento dos títulos ofertados no exterior – de 10,62%, na emissão da semana passada -, Ticle afirma que o refinanciamento vai liberar recursos para que a empresa amplie as compras de boi à vista, que respondem por 50% do total e lhe garante desconto médio de 2,5% no preço pago ao pecuarista. “Na prática, estou tomando recursos a menos de 1% e aplicando a 2,5%. Por isso a operação faz sentido. Nosso custo médio ponderado pelo tempo não se alterou de modo significativo”, diz.