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Frigoríficos buscam alternativas a Itajaí

<p>Paranaguá terá terminal público de frigorificados no ano que vem.</p>

Redação (04/12/2008)- As enchentes que paralisaram as operações no porto catarinense de Itajaí afetaram as empresas exportadoras de carnes, que agora procuram desviar suas cargas para outros portos brasileiros. Marcos Porto/Ag. RBS/Folha Imagem

Tragédia que paralisou o porto de Itajaí leva empresas exportadoras de carnes a procurar outras saídas para embarques
 
Com 70% de suas exportações feitas pelo porto de Itajaí, a Seara, unidade de negócio carnes da americana Cargill, é uma das mais prejudicadas pela paralisação do local. De acordo com o diretor da unidade, Robert Zee, a empresa inicialmente desviou cargas para Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC) e agora também está embarcando em Rio Grande (RS). 

A suspensão das operações em Itajaí fez com que a empresa deixasse de embarcar contêineres com 8 mil toneladas de carnes de frango e de suíno e ter custos adicionais de R$ 2 milhões até agora. Esses custos referem-se à armazenagem de produto e ao frete para levar as cargas a outros portos e à necessidade de viagens mais longas por causa de estradas fechadas, de acordo com Zee. 

O desvio de mercadorias para outros portos, porém, não é uma operação simples, disse ele. "Não consegue de uma hora para outra [embarcar por outro porto] porque depende da disponibilidade de espaço e plugs de energia e disponibilidade de armadores", observou. 

Assim, ainda é difícil afirmar quando a empresa conseguirá embarcar as 8 mil toneladas – de um total de 45 mil de carnes (principalmente frango) que exporta por mês a partir de Itajaí, Navegantes e Paranaguá – para seus destinos no exterior. "Vai atrasar (…) Sem Itajaí, não é possível fazer 53 mil toneladas", disse Zee, referindo-se ao volume mensal mais as 8 mil toneladas não-embarcadas. A esperança do executivo é que a situação se normalize em um mês, mas ele admite que ainda "não está claro quando Itajaí voltará a operar". 

Além de operar com contêineres em Itajaí, a Cargill também tem um terminal privativo de cargas frigorificadas na cidade, a Braskarne, que embarca principalmente para terceiros. As fortes chuvas em Itajaí também afetaram essa operação: um navio com carga de 6 mil toneladas de carnes de suíno e de frango, com destino à Rússia, está impedido de sair, porque as cheias provocaram o assoreamento do rio Itajaí, explicou Ramiro Mayer, gerente de logística da unidade de carnes da Cargill. Outro navio do mesmo porte espera para atracar. Parada há 15 dias, a Braskarne está deixando de faturar R$ 1,5 milhão, diz Zee. 

A Sadia deve ser uma das menos prejudicadas entre as exportadoras de carne. A empresa já havia escolhido Paranaguá como principal local de embarque e mais de 60% de suas cargas saem de lá. Em 2007, inaugurou no porto um armazém frigorificado, com capacidade estática de 8,5 mil toneladas. 

De Itajaí estavam saindo de 20% a 25% da produção da Sadia vendida ao exterior. Agora, esse volume está sendo distribuído entre São Francisco do Sul, Paranaguá e Santos. "Estamos trazendo para cá tudo o que o armador permite que seja embarcado aqui", disse ontem em Paranaguá o gerente de operações portuárias da Sadia, Blásio José München, durante evento sobre novo terminal de frigorificados no porto . 

Em um mês, a Sadia deve desviar para Paranaguá de 15 mil a 20 mil toneladas de carnes que teriam Itajaí como destino. A empresa não chegou a cancelar embarques, mas em alguns casos haverá atrasos de duas semanas. A Perdigão também terá de desviar cargas, e fontes do setor informaram que a empresa perdeu muitos contêineres que estavam carregados, prontos para o embarque, e foram atingidos pelas enchentes. Procurada, a Perdigão não comentou a informação. 

Como Itajaí é o maior terminal de congelados do país, todos os exportadores de carnes têm operações lá e, como terão de procurar outros destinos, os custos com logística vão aumentar. 

Em caráter emergencial, o porto de Paranaguá abriu dois de seus 19 berços de atracação para navios de contêineres que iriam para Itajaí, com desconto de 15% nas tarifas. Em contrapartida, os operadores têm de aderir ao programa "porto solidário" e destinar os 15% de desconto e outros 15% para a compra de cestas básicas e utilidades domésticas para trabalhadores portuários de Itajaí. Ou seja, as tarifas para esses navios serão de 115%, e cerca de R$ 200 mil devem ser arrecadados em doações por mês com a medida. Os dois berços cedidos são de importação de fertilizantes e exportação de grãos, com movimento fraco nesta época. 

Conforme o diretor do Sindicarnes-SC, Ricardo Gouvêa, é "muito complicada" a situação de logística que as agroindústrias estão enfrentando com a parada do porto de Itajaí. "O trabalho de logística está sendo muito grande. As empresas estão distribuindo as cargas nos portos de Imbituba (SC), Paranaguá (PR), Rio Grande (RS) e Santos (SP). Mas em alguns locais a fila está grande, como em Paranaguá". 

Para o executivo, os problemas de logística aliados à queda de consumo no mercado interno e recuo das vendas ao mercado externo pela crise internacional deverão levar a uma redução da produção pelas agroindústrias. 

Segundo o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Alcântaro Corrêa, que esteve reunido com a direção dos portos de Navegantes e São Francisco do Sul, o volume de embarques pelo porto de Itajaí não tem como ser suprido por outros portos catarinenses, sendo necessário o uso de portos em Estados vizinhos, o que encarece o frete. "Neste momento sempre existem os aproveitadores", disse sobre o aumento de custos, preferindo não estimar um valor. "Estamos negociando os preços porque o mais importante agora é manter os clientes lá fora". 

Além do porto de Itajaí, o porto de Navegantes, localizado de frente para Itajaí, também está parado porque utiliza o mesmo canal de acesso para os navios e que precisa receber dragagem. A expectativa é que os trabalhos de dragagem no local sejam iniciados na próxima semana e sejam concluídos até o fim de dezembro, podendo Itajaí operar parcialmente e Navegantes voltar a operar com sua capacidade total. 

Paranaguá-  A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) planeja lançar em janeiro edital para licitação da construção de um terminal público de frigorificados, que fará parte do que está sendo chamado de Corredor de Congelados do Paraná, que conta com a participação de parceiros privados. O armazém está orçado em cerca de R$ 18 milhões e a equipe envolvida no projeto tem a expectativa de colocá-lo em operação em setembro do ano que vem. 

O diretor técnico da Appa, André Cansian, explicou que a intenção é aumentar a capacidade operacional do porto. Pelo projeto, o terminal terá oito docas independentes, que poderão ser operadas simultaneamente, e uma capacidade estática de armazenagem de 12 mil toneladas. A operação diária deverá ser de 48 contêineres. "Esse projeto é uma das prioridades do porto", afirmou Cansian aos representantes de companhias que atuam no segmento de cargas congeladas. 

O gerente comercial do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), Marcelo Dias, contou que muitas empresas estão consultando a possibilidade de enviar cargas não só de carne, mas também de madeiras, móveis e produtos da área metal-mecânica. "Estamos sendo assediados", disse. O TCP conta com 2080 tomadas para contêineres e pode elevar esse número para 4 mil, de acordo com a demanda. 

Outras empresas estão ampliando a estrutura em Paranaguá, como a Martini Meat, empresa de armazéns que tem capacidade estática para 13 mil toneladas e vai investir R$ 20 milhões para chegar a 20 mil em junho. "Isso vai aumentar nossas chances de conquistar clientes", explicou o diretor administrativo da companhia, Luiz Roberto Braga. Uma das preocupações dos empresários é com a dragagem do porto, que precisa ser feita com urgência – a última aconteceu em 2005. A obra será licitada pelo governo federal e a intenção é aumentar o calado de 11,3 metros para 15 metros.