O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês) tem realizado várias teleconferências com bancos centrais dos Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, para transmitir as informações mais recentes sobre suas emissões de títulos denominados em euro.
Foi o que revelou ao Valor o diretor financeiro do fundo, Christophe Frankel, entusiasmado com a possibilidade de os Brics investirem nesse que é o principal instrumento à disposição da zona do euro para socorrer os países abatidos pela crise da dívida soberana.
Frankel indicou que países dos Brics já adquiriram títulos emitidos pelo fundo, evitou entrar detalhes, mas espera mais. “Estamos muito felizes de ver já alguns países do Brics investindo nos nossos títulos”, afirmou. “Isso representa uma diversificação muito interessante de nossa base de investidores”.
A expectativa em segmentos do mercado financeiro é de que, se os Brics realmente decidirem comprar mais títulos da dívida da zona euro, um dos caminhos pode ser pelos ‘EFSF bônus’. Esses papéis têm rating ‘AAA’, o melhor possível, garantia dos 17 Estados da zona e rentabilidade maior do que a dos Treasuries americanos.
Frankel promete inclusive que o programa de emissões do EFSF “poderá perfeitamente se adaptar a demanda dos Brics em termos de maturidade, curta ou mais longa.” Disse esperar fazer visitas aos países desde que seja possível, após várias ‘conference call’ com BCs do grupo.
O EFSF foi criado em 7 de junho do ano passado e deverá em 2013 ser, na prática, transformado numa espécie de fundo monetário europeu. Os planos de socorro financeiro foram aprovados inicialmente para Irlanda e Portugal. Em julho deste ano, o Conselho Europeu, reunindo os chefes de Estado e de governo, decidiu aumentar a capacidade do EFSF e ampliar sua função, por exemplo, como principal veículo de apoio ao segundo pacote de ajuda a Grécia, que ainda está para ser aprovado pelos parlamentos.
Assim, a capacidade de emissões e de empréstimos em seguida passará de € 440 bilhões para € 726 bilhões garantidos pelos 17 Estados membros da zona do euro.
Na prática, o EFSF está começando a emitir eurobônus, só que com o nome de ‘EFSF bônus’. Fez até agora três emissões, todas este ano, no total de € 13 bilhões, como parte do pacote de assistência financeira para Portugal e Irlanda.
Até o fim do ano fará mais quatro emissões, duas para captar dinheiro para Portugal e duas para a Irlanda. Cada uma será entre € 3 bilhões e € 5 bilhões. O investidor receberá o título do EFSF com a garantia de toda a zona euro e rating ‘AAA’. Para o ano que vem já estão previstas emissões de € 27 bilhões para os dois países, se eles precisarem.
Na emissão mais recente, realizada em junho, o EFSF colocou € 3 bilhões em títulos com cinco anos de maturidade, como parte do pacote para Portugal. Em menos de duas horas, a demanda excedeu € 7 bilhões vinda de 70 investidores. O Ministério de Finanças do Japão investiu € 550 milhões na operação.
Em termos geográficos, os asiáticos compraram cerca de 22% dos títulos, os europeus 45% e os norte-americanos, 1%. Por tipo de investidor, são os bancos centrais, governos e fundos soberanos que tem comprado cerca de 36% dos papéis, fundos de pensão e seguradoras 13%, e hedge funds apenas 1%.
O EFSF captou oferecendo rendimento de 2,750%. Por sua vez, repassou o dinheiro para Portugal com juros de 6,08% – bem menos do que o mercado cobraria se o governo português decide emitir diretamente, no cenário atual de incertezas sobre os rumos da zona euro.
Para um analista em Bruxelas, a Europa “está jogando a boia e quem ajudar está bem”. Por sua vez, Cinzia Alcidi, do Centre for European Policy Studies (Ceps, um dos mais respeitados think tank europeus), ‘é muito bom ver o interesse dos Brics. A realidade é esta: o problema está nos desenvolvidos, e os recursos nos emergentes, é uma mudança radical na economia mundial’.
A informação de que ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais dos países Brics vão decidir como ajudar a zona, em reunião esta semana em Washington, tem alvoroçado os mercados. Uma das ideias é de aquisição de títulos dos países mais fortes, como Alemanha, na expectativa de que estes por sua vez ajudem mais a periferia europeia. Mas a opção dos títulos de EFSF deve também estar na agenda.
Em meio a um certo ceticismo, fontes próximas dos governos defendem ação firme para simbolizar como a economia mundial começa a ter o equilíbrio alterado, mas também que renderá ganhos econômicos. Os títulos do EFSF rendem mais que os pagos pelos Treasurires americanos, por exemplo.
“O que vai sobrar disso é o sinal de mudança. Se ficarmos com a mente tacanha de que o Brasil, China e outros não podem fazer nada, é então deixar que o G-7 em dificuldade continue dando as cartas”, diz uma fonte.
O porta-voz de economia da União Europeia, Amadeu Altafaj, avisou que “não há nada conclusivo a esta altura”. Mas frisou que a situação enfrentada pela Grécia e pela zona do euro vai além da Europa. “Nossas economias são extremamente interconectadas e as economias emergentes tem forte interesse em que a seja preservada a estabilidade financeira da Europa”, afirmou.