Redação (16/11/06) – O Fundo Português de Carbono – criado pelo governo lusitano em março para financiar a compra de créditos de carbono com vistas a atender as metas estabelecidas no Protocolo de Kyoto – investirá 1 bilhão de euros na compra de créditos gerados no Brasil. Entre 2008 e 2012, o volume de emissões de gases de efeito estufa (GEE) de Portugal não poderá ser mais que 27% maior do que as emissões feitas em 1990.
“Esse valor não é o teto, pode aumentar, dependendo da demanda e dos projetos”, diz Renato Giraldi, da Metacortex |
Hoje, o país já supera esse limite. O governo português estima que em 2010 emitirá 39% mais que em 1990 e, por isso, criou o fundo, que conta com recursos estatais e de investidores privados. O objetivo é negociar créditos de países de língua portuguesa (os CPLPs), ibero-americanos e da região da bacia mediterrânea.
No Brasil, o fundo fechou contrato de exclusividade com a consultoria ibérica Metacortex Consultoria e Modelação de Recursos Naturais S.A., que será a responsável pela análise e contratação dos projetos. A consultoria já acertou contratos com dois frigoríficos, duas usinas de açúcar e álcool e três fazendas de confinamento de gado, totalizando créditos referentes a 1,8 milhão de toneladas de gás carbônico.
Renato Giraldi, diretor de desenvolvimento de negócios da consultoria, prefere manter em sigilo os nomes das empresas. No dia 27, representantes do fundo vêm ao Brasil para oficializar as negociações. “Esse valor não é o teto. Ele pode aumentar, dependendo da demanda portuguesa e da qualidade dos projetos no Brasil”, afirma Giraldi.
A Metacortex busca não apenas projetos já aprovados pelo governo brasileiro e pela Organização das Nações Unidas (ONU), mas também em empresas com potencial para criar projetos novos.
O foco da empresa será nas áreas de confinamento de gado, frigoríficos e usinas. Giraldi estima que esses três segmentos têm potencial para produzir 20 milhões de toneladas de CO2 e gerar 178 milhões de euros com a venda desses créditos. No caso dos confinamentos, ele calcula que cerca de 30 mil bois produzem 548 mil toneladas de CO2 por ano.
“Esses confinamentos geram emissões de 14,6 milhões de toneladas de CO2. Se todo esse volume for queimado e transformado em crédito de carbono, tem-se um potencial de receita de 131 milhões de euros”, acredita o consultor. Ele diz que a escolha desses segmentos deve-se ao interesse do governo português em apostar nos projetos que proporcionem melhora nas condições sócio-ambientais na região em que as empresas ofertantes atuam.
“Em relação às usinas, também existe um interesse em projetos com queima da vinhaça [subproduto da cana] para geração de energia”, observa. A Metacortex pretende negociar com 36 das principais usinas paulistas e com os dez maiores frigoríficos do país. As fazendas de confinamento de gado também foram escolhidas devido à possibilidade de sinergia com outras áreas de negócios da Metacortex. O grupo lançou recentemente no mercado brasileiro um programa de rastreamento e gestão do rebanho bovino. A ferramenta, segundo ele, é adaptada às regras do novo Sisbov e já é adotada em duas fazendas que juntas possuem 360 mil animais de corte.