É consenso que o real está excessivamente valorizado.
As implicações são conhecidas e seus reflexos, apresentados na balança comercial. Os setores produtivos estão sendo obrigados a se ajustar a essa realidade com implicações de longo prazo na estrutura de emprego e produção.
É um ajuste difícil que está sendo realizado e que terá um custo no longo prazo. Alguns setores produtivos claramente não conseguem competir com produtos importados.
Outros setores deixam de ser competitivos na exportação, perdendo oportunidades de crescimento, geração de renda e emprego.
Não se trata de colocar todo o peso na questão cambial. Temos que reconhecer outros fatores importantes de ineficiência, como a estrutura tributária arcaica, ausência de investimentos em transporte e logística, bem como inúmeras questões englobadas no que se chama de custo Brasil. É uma realidade a incapacidade que tivemos de alterar outras questões essenciais para a competitividade do Brasil.
No câmbio, porém, a mudança é possível e depende unicamente da vontade política do Poder Executivo.
É fato que os títulos financeiros emitidos pelo governo federal continuam pagando uma das maiores taxas de juros do mundo.
Os juros no Brasil se reduziram quando comparados aos juros praticados hoje pelas de mais economias mundiais. Porém, o Brasil ainda permanece entre os de juros mais elevados.
O sucesso econômico e político do Brasil dos últimos anos não serviu para nos aproximar das economias com juros reais mais civilizados.
Serviu, porém, para pressionar ainda mais o câmbio, pois o país tornouse atrativo para a realização de investimentos com forte entrada de recursos na economia nacional.
Investimentos produtivos são bem-vindos. Ocorre, porém, que parte importante desse fluxo financeiro vem unicamente aproveitar os diferenciais de juros. Especulase fortemente com o sucesso do Brasil, contando com a garantia do governo federal.
A inclusão, agora, do novo Fundo Soberano como instrumento para enfrentar a valorização da moeda é uma medida insuficiente e ineficiente. O Brasil estará apoiando a arbitragem especulativa que se aproveita do nível de juros dos títulos financeiro do governo. Será remar contra a maré.
Houve muito progresso na condução da política macroeconômica no Brasil. Saímos do caos da ausência de moeda, atingindo uma década de estabilidade e crescimento econômico. Responsabilidade fiscal, política monetária com metas de inflação, superávits comerciais criaram as condições para o sucesso do presente.
Justificar, porém, o atual nível de juros baseando-se no sucesso do passado é um simplismo injustificável.
O momento é outro e exige avanço.
Uma redução significativa do nível de juros teria efeito positivo na economia com reflexos no câmbio com apoio direto à produção e ao emprego. Eventual reflexo em preços da economia, que está longe de ser automático, certamente pode ser enfrentado, caso ocorra. Parecenos que neste momento seu efeito refletirá unicamente em pequeníssima parcela de preços da economia.
A maior parte dos preços está fora do alcance do amargo remédio do aumento de juros. A redução do custo de carregamento da dívida publica certamente justifica este risco.
Não se trata de colocar que falta competência aos responsáveis pela política econômica. Acostumaramse, porém, a ouvir e pensar somente no lado rentista do Brasil. Infelizmente, é reflexo de excesso de soberba.
Por Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs