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Fundos impulsionam commodities

<p>Justificados por fundamentos em geral "altistas", quedas de juros e dólar fraco, apostas sobem em maio.</p>

A manutenção de um quadro composto por ofertas em geral apertadas para atender à demanda e queda da rentabilidade em outras aplicações financeiras à disposição no mercado global voltou a produzir valorizações expressivas das cotações internacionais das commodities agrícolas em maio.

Dos oito principais produtos do campo que têm nas bolsas de Chicago e Nova York suas principais referências para o comércio, apenas o cacau encerra o mês com preço médio inferior ao de abril. Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) mostram que os outros sete sobem, seis deles mais do que 10%. As médias de maio foram fechadas no dia 28.

Anderson Galvão, da Céleres, lembra que, do ponto de vista dos fundamentos de oferta e demanda, os estoques de grãos – café e açúcar também podem ser incluídos na lista – continuem baixos, e que a crise financeira e econômica até agora não mostrou força suficiente para derrubar a demanda global por alimentos. Ainda que se multipliquem os sinais de que o “cardápio” do consumo já privilegie itens mais baratos, ele diz que o volume negociado é firme, pelo menos por enquanto.

Foi nesse contexto que as commodities reconquistaram a atratividade para os grandes fundos de investimentos com pouca tradição em irrigar as bolsas agrícolas. Após ajudarem a levar produtos como milho, trigo e soja à máximas históricas em meados de 2008, esses fundos fugiram para tapar buracos em outras aplicações a partir de setembro, abrindo espaço para fortes baixas até dezembro. Apostas começaram a ser renovadas no início de 2009, e agora pilhas de fichas já se amontoam de novo no tabuleiro agrícola.

Colaborou para isso o pacote de medidas adotado no mundo desenvolvido para abreviar os efeitos da crise. Além da queda dos juros a níveis próximos de zero, que forçou os investidores a buscarem alternativas, outras ações com reflexos inflacionários colaboraram para a desvalorização do dólar, o que nas bolsas dos EUA sempre ajuda a sustentar as commodities agrícolas, também pela maior competitividade que confere aos produtos americanos.

Exemplo desse retorno é a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro tanto em renda quanto em peso nas exportações. Galvão observa que, no auge do apetite especulativo, em meados de fevereiro de 2008, o número de contratos em aberto de fundos “no commercial” (o grupo inclui hedgers e especuladores) em Chicago atingiu 880 mil. Caiu para 380 mil no fim do ano passado, mas, em 19 de maio, superou 600 mil.

Com todos esses fatores no liquidificador, em Chicago as três commodities agrícolas mais negociadas do mundo sobem consideravelmente em maio. Até o dia 28, a soja apresentava cotação média 10,48% superior à de abril. Milho e trigo também tiveram impulso e avançaram 7,29% e 11,72%, respectivamente, na mesma comparação. No caso da soja, em particular, a força das importações chinesas também se destaca no mês.

Com os novos saltos observados – abril também foi de ganhos sobre março -, os três produtos passam a registrar valorizações em relação às médias mensais de dezembro e, de quebra, as quedas em relação a maio de 2008, quando as cotações estavam na ascensão pré-recordes, diminuíram (ver tabela acima).

Se o movimento financeiro dos grãos em Chicago é maior, as chamadas “soft commodities”, negociadas em Nova York e teoricamente mais suscetíveis a retrações de demandas por causa da crise, também refletiram o crescimento dos aportes especulativos nos últimos meses e se mantiveram em rota ascendente. Mas esse aumento, como no caso dos “primos ricos”, foi estimulado e justificado, em geral, pelos fundamentos “altistas” do lado da oferta.

Na frente nova-iorquina, quem mais sobe em maio é o açúcar, que continua a repercutir o fato de a Índia ter passado de grande país exportador para um dos maiores importadores do mundo nos últimos meses. Em relação a abril, a alta da “soft” chegou a 19,57% na média de maio até o dia 28, o que elevou os ganhos no ano e em 12 meses. Neste último ano-móvel o produto é o único que apresenta variação positiva.

“O cenário para o açúcar é muito bom, sobretudo para o Brasil. Neste ano, as importações indianas do produto brasileiro só perdem para as compras da Rússia”, afirma Julio Maria Martins Borges, da JOB Economia e Planejamento. Com isso, observa, os preços estão firmes também no mercado interno, o que torna a safra de cana 2008/09 no país um pouco mais “açucareira”.

Outra commodity que se destaca em Nova York em maio é o algodão, com média 18% superior à de abril. Galvão, da Céleres, chama a atenção para o fato de o algodão guardar relação com o petróleo por causa da concorrência que trava com as fibras sintéticas e de o petróleo ter subido nas últimas semanas. Em Nova York, o barril do WTI encerra maio com média 14% maior que a de abril, conforme o Valor Data.

Outro que se destaca em maio é o suco de laranja, com valorização de 11,77% na comparação com a média do mês anterior. A demanda global pelo produto concentrado e congelado (negociado em Nova York) segue retraída, mas problemas e riscos de danos na produção da fruta na Flórida ajudaram a dar suporte aos preços pelo lado dos fundamentos.

Para o café, apesar de revisões para baixo nas perspectivas para o consumo global em 2009 – que ainda assim deverá crescer -, pesa a menor safra brasileira e a cotação média aumenta 10,74% em maio. E o cacau, que vinha em alta, passou a ter seu previsto déficit na safra 2008/09 questionado em razão da retração da demanda. Assim, recua 3,68%.