Os fundos que investem nos mercados futuros de commodities dos EUA engordaram suas apostas na alta dos preços agrícolas em 2012. De acordo com dados da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC), os investidores institucionais aumentaram sua posição líquida de compra em contratos futuros de soja, milho, açúcar, algodão e cacau no ano passado, além de reduzir a posição vendida em trigo. A exceção foi o café, que viu crescer o saldo de posições vendidas.
Mas, apesar do crescimento ao longo de todo o ano, as vendas têm prevalecido sobre as compras nos últimos meses, o que coloca em xeque o otimismo dos investidores em relação a essas matérias-primas – os contratos de compra são um mecanismo usado pelo mercado financeiro para capturar os ganhos de uma elevação nos preços, enquanto os de venda permitem que esses agentes lucrem com a queda das cotações. “De modo geral, há um sentimento de maior cautela em relação às commodities”, afirma Vinicius Ito, analista da Jefferies Bache, em Nova York.
Segundo Ito, há especulações no mercado financeiro de que os fundos poderiam realocar parte dos recursos em commodities para as carteiras de ações em 2013, mediante a divulgação de balanços melhores que o esperado e indícios de recuperação econômica nos EUA nos últimos meses. Perspectivas de mais oferta de grãos e fundamentos ainda baixistas nas “softs commodities” – açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão – também poderiam frear o ímpeto dos compradores.
Na bolsa de Chicago, onde se formam os preços internacionais dos grãos, os fundos mais que triplicaram sua posição líquida de compra em futuros de soja, de 29 mil para 109,2 mil contratos, em 2012. Contudo, o saldo final ficou bastante aquém dos 259,6 mil contratos registrados em julho. O mesmo comportamento foi observado no mercado de milho: os investidores começaram o ano comprados em 154,8 mil contratos e encerraram com 234,8 mil, depois de alcançar 359,2 mil no começo de dezembro.
O apetite dos fundos pelos grãos foi alimentado por fatores climáticos. A quebra da produção na América do Sul e nos EUA derrubou a produção mundial e impulsionou os preços da soja e do milho a níveis recordes entre agosto e setembro.
Com as perdas integralmente precificadas e a expectativa de boa colheita na América do Sul em 2013, os fundos começaram a liquidar suas apostas altistas. Para Ito, o movimento pode persistir nos próximos meses. “Não acredito que os fundos possam ficar vendidos, mas a tendência é que mantenham esse processo de desalavancagem em meio à expectativa de aumento na oferta de grãos com a safra sul-americana”.
Steve Cachia, analista de grãos da corretora Cerealpar, minimiza a saída e afirma esperar uma retomada das compras de grãos nos próximos meses. “Tivemos uma liquidação sazonal, mas as commodities continuam a ser um investimento atraente para os fundos”. Segundo ele, os fundamentos do mercado seguem sólidos com o aperto nos estoques globais, o que deixa os preços particularmente sensíveis a eventuais frustrações de safra.
Na bolsa de Nova York, onde se negociam as “soft commodities”, os fundos ampliaram sua posição comprada de açúcar, de 38,5 mil para 52,5 mil contratos em 2012. Mas, a exemplo do que se viu nos mercados de soja e milho, o saldo ficou distante dos 135,9 mil contratos atingidos em julho.
O mercado de açúcar passou por uma forte reversão de tendência em 2012. Em julho, quando os preços atingiram os níveis máximos do ano, os agentes contabilizavam atrasos na colheita da safra de cana e temores de quebra na produção de açúcar do Brasil, maior produtor mundial. Desde então, as sucessivas revisões de estimativas passaram a desenhar um cenário bem mais favorável para a oferta global, o que pesou sobre os preços e afugentou investidores.
Para Alexandre Oliveira, analista da Newedge USA, os fundamentos para o açúcar estão bem fracos e, por isso, deixam pouco espaço para expectativas altistas em relação aos preços. “Há uma oferta grande da commodity no curto prazo, sem nenhum problema iminente no Brasil. O mercado até poder ter uma escalada de preços durante o ano, mas os que estão comprando agora apostam em correções, não em mudança de tendência”.
No mercado de café, a expectativa é que os fundos possam liquidar parte de suas apostas baixistas frente à expectativa de estabilização nos preços após uma queda acentuada em 2012. No ano passado, os fundos saíram de uma posição comprada de 1,6 mil contratos para um saldo líquido negativo de 14,5 mil. Mesmo assim, o pessimismo já foi maior: em novembro, os fundos estavam vendidos em mais de 20 mil lotes.
Roberto da Costa Lima, analista da Terra Investimentos, diz que, desde a virada do ano, têm circulado notícias de que o ajuste de carteira dos fundos de índices (lastreados em cestas de commodities) traria em torno de 12 mil novas compras ao mercado. “Houve até informações de que na segunda-feira já haviam sido comprados 5 mil lotes, mas tudo ainda é especulação”, diz.