Redação AI 23/07/2002 – A Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef) já tem idéia do tamanho do estrago que a medida da Comissão Européia que altera as regras para importação de cortes de frango salgado causará nas exportações brasileiras do produto. Tendo como base o comportamento das vendas de cortes de frango para a União Européia nos primeiros seis meses de 2002, a Abef estima um recuo de 85% nos volumes embarcados, que cairiam de 116,9 mil toneladas para apenas 17,5 mil toneladas em igual intervalo de 2003.
O impacto na receita com as exportações de cortes para a UE também seria desastroso, pelas projeções da Abef: queda de 77,4% – de US$ 162,5 milhões no primeiro semestre de 2002 para US$ 36,8 milhões nos primeiros seis meses de 2003. A Abef considera, neste caso, que devido à menor oferta haverá melhora nos preços médios do frango no mercado europeu.
O diretor-executivo da Abef, Cláudio Martins, explica que o recuo projetado corresponde ao volume de peito de frango salgado exportado pelo Brasil para a UE no primeiro semestre. Hoje, do total de cortes vendido para o bloco, 85% se enquadram na categoria salgados, conforme a Abef.
A avaliação do setor é que as vendas de tais cortes para a UE ficarão inviabilizadas depois que o regulamento da comissão entrar em vigor, pois os custos de importação irão aumentar significativamente. Segundo resolução publicada dia 8 no Jornal Oficial das Comunidades Européias, os cortes de frango salgado deverão ter um teor de sal entre 1,2% e 1,9%; antes ficava entre 1,2% e 1,5%. Além disso, a resolução alterou a nomenclatura do frango salgado para efeito de taxação, que a partir de agora pagará a mesma tarifa que o frango in natura – de ? 1.024 por tonelada, ou cerca de 70% do preço do produto. Pela nomenclatura anterior, os cortes salgados pagavam 15,4%.
As empresas preferem não comentar o impacto que a mudança na UE terá em suas receitas. Mas especialistas dizem que o faturamento dos frigoríficos exportadores será afetado. Talvez, porém, o impacto não seja tão brusco como acredita a Abef, diz uma fonte da indústria. Para essa mesma fonte, os importadores terão de comprar mais peito de frango in natura do que compram atualmente, pois não são auto-suficientes. Martins afirma, contudo, que não se sabe quando isso ocorrerá pois a produção de frango também cresceu na Europa devido aos temores em relação à doença da “vaca louca”.
A fonte também acredita que as empresas irão exportar cortes com teor de sal superior a 1,9 % – que teria tarifa de 15,4% – para industrialização. “Alguns produtos cozidos podem ter esse teor de sal”. Na avaliação da Abef, porém, um corte com teor de sal acima de 1,9% é inviável para a industrialização.
As projeções feitas pela Abef foram apresentadas a especialistas do governo, que estão avaliando o tema. Segundo Cláudio Martins, eles concordam que a mudança implementada pela Comissão Européia pode ser questionada junto à UE. Para ele, a nova nomenclatura do frango salgado não poderia ter sido feita sem negociação.
Martins não acredita que a Europa volte atrás em sua decisão, mas a Abef pretende continuar negociando. Ainda esta semana, o setor vai se reunir com o espanhol Silva Rodriguez, diretor-geral de agricultura da Comissão Européia, que já vinha discutindo a questão com o Brasil.