Redação (02/10/2008)- Mesmo sem definir um pacote interno para enfrentar a crise internacional, o governo já amplia a ajuda ao setor agrícola e anuncia um investimento de R$ 180 milhões para a compra de trigo e milho no mês de outubro, como parte das operações da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). As duas culturas estão entre as mais depreciadas da safra 2008/2009 e ainda assim os produtores não estão conseguindo achar compradores.
No caso do trigo, a decisão tomada durante reunião da comissão interministerial formada por representantes dos ministérios da Fazenda, da Agricultura, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Banco do Brasil, irá beneficiar, prioritariamente, os produtores nos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. O montante destinado à cultura será de R$ 100 milhões. Para a aquisição de milho o recurso será de R$ 79,5 milhões em Contratos de Opção e Compra Direta para produtores do Mato Grosso.
Durante o mês de setembro, o governo federal, por meio da Conab, já vinha apoiando fortemente os dois produtos, promovendo três rodadas de leilões para cada uma das commodities. No período, a estatal negociou 19.615 contratos de milho, amparando a comercialização de 529,60 mil toneladas do grão e vendeu 8.091 papéis de trigo, equivalentes a 218,46 mil toneladas do cereal.
Segundo o presidente da Conab, Wagner Rossi, em outubro o governo deve realizar novos leilões. "Estamos atentos para assegurar um preço remunerador para o produtor. Se for preciso, podemos oferecer contratos para até 1 milhão de toneladas de milho e 600 mil de trigo", disse.
Para o produtor de trigo a medida deve trazer algum alívio. "Será uma alternativa porque o produtor não está vendendo no preço que está aí e a indústria hoje também não está interessada em comprar", afirmou o triticultor paranaense, Ivo Riedi.
O produtor destaca o fato da safra ter sido prejudicada pela geada, o que comprometeu a qualidade do cereal, colaborando para a depreciação ainda maior do preço.
Atualmente, os poucos negócios que estão sendo feitos apontam para um cenário de preços até 20% menores que os praticados no mesmo período de 2007.
O mercado de milho vive situação ainda pior. Sem conseguir escoar parte da produção para o mercado externo, o produtor vê o preço interno do grão despencar. No acumulado do ano a queda já chega a 29%.
Apesar da crise financeira, que está impactando negativamente os preços das commodities, a cotação de milho no mercado internacional está quase 50% superior a que encerrou o ano. No entanto, o produtor brasileiro não deverá aproveitar essa elevação. Com a recuperação das safras européias não há perspectivas de embarques significativos até o fim do ano.
Mercados que haviam se tornado importantes em 2007, como o Irã que até agosto já havia importado 2 milhões de toneladas, não compraram nenhum volume do Brasil este ano.
Dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) indicaram para as exportações de milho em setembro um volume 80% menor que o registrado no mesmo mês do ano passado. Foram 274,3 mil toneladas ante 1,36 milhão do período anterior. Na comparação com o mês de agosto também houve queda. Nesse período o Brasil exportou 293,3 mil toneladas de milho.
A retração no volume se reflete na receita das exportações. Em setembro, foram arrecadados US$ 69,3 milhões ante US$ 78 milhões verificados em agosto, resultado numa redução de US$ 266 para US$ 252,80 no preço médio da tonelada.
A perspectiva para as culturas de trigo e milho são bastante distintas. Enquanto a demanda externa e a programação de embarques para os próximos dias continuam sinalizando pouco volume de milho a ser exportado, a demanda por trigo deve aumentar nas próximas semanas.
"Apesar de uma produção menor nos Estados Unidos a recuperação da safra de milho nos outros países produtores não vai deixar as exportações decolarem", avalia Lucilio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Para o trigo, Alves explica que o mercado está apoiado na promessa dos embarques da Argentina, mas houve redução de área e seca no País.
A produção esperada é de 12,5 milhões de toneladas, sendo 7 milhões destinados ao mercado interno. "Com isso sobrará 5,5 milhões, exatamente o que o Brasil demanda quando se exclui sua produção, mas o País é apenas um dos 30 mercados da Argentina", ressaltou.