Um mês depois de a Rússia cassar a habilitação de 83 frigoríficos em Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul, o próprio governo brasileiro recomendou às autoridades daquele país o descredenciamento de 97 unidades nos mesmos estados, parte delas punida na leva anterior. A informação foi dada ao Globo pelo ministro da Agricultura, Wagner Rossi, que espera, para as próximas horas, o fim do embargo que começou no último dia 15 de junho e atinge 45% das exportações de carne Suína. Isso equivale a US$540 milhões do US$1,2 bilhão exportado em 2010.
Missão técnica em Moscou negocia retomada de venda
Além de frigoríficos que não atenderam às exigências das autoridades sanitárias russas, ao apresentarem más condições sanitárias, outros simplesmente haviam deixado de ser fornecedores há mais de 18 meses e não solicitaram o descredenciamento. Das 222 unidades cadastradas, o Ministério da Agricultura enviou ao governo russo uma nova lista, com 125 empresas, por meio de uma missão técnica que está em Moscou desde o início da semana negociando a retomada dos embarques.
“Não amaciei com eles (os empresários) e disse: ‘Os russos têm exigências, porque são nossos compradores, é um mercado de mais de US$4 bilhões por ano’. Havia frigoríficos que não vendiam nada para a Rússia há mais de 18 meses que prejudicaram o bom produtor”, afirmou Rossi. “Eu disse a eles que, em primeiro lugar, fizessem a lição de casa, que cumprissem as exigências dos russos e depois poderíamos discutir”.
O ministro, porém, também fez um mea culpa. Admitiu que o governo não investiu nos laboratórios públicos, que acabaram defasados em relação às exigências internacionais. E revelou outro fato decidido nos bastidores: conseguiu da presidente Dilma Rousseff autorização para contratar laboratórios particulares e internacionais, tudo para não perder o mercado russo. Dilma também acolheu o pedido de investimentos de R$50 milhões nos laboratórios.
“Há muitos exames que os russos requerem e para os quais não estávamos preparados. Ou seja, não havia como atendê-los, porque não tínhamos estrutura para isso”.
Produtor critica deficiência no controle fitossanitário
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, afirmou concordar que há bons e maus exportadores. Mas apontou problemas no governo:
“Também há deficiências no sistema de controle fitossanitário brasileiro”.
Rossi afirmou estar otimista quanto ao resultado da missão técnica. Segundo o ministro, um dos desafios do governo brasileiro, que tem o setor agropecuário como carro-chefe nas negociações internacionais sobre comércio, é reconquistar o mercado europeu. Desde o recrudescimento da crise financeira internacional no fim de 2008, as vendas para a região não se recuperaram.
“Houve, sim, uma recuperação, mas estamos longe de uma participação que seria equivalente à importância do Brasil agrícola e pecuário hoje”, disse o ministro.