Os principais exportadores de carne do país desaprovam a conduta do governo brasileiro nas negociações para encerrar o embargo russo imposto a 85 frigoríficos de três Estados. As exportações brasileiras de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul para a Rússia estão embargadas desde 15 de junho sob alegações russas de descumprimento de exigências sanitárias.
A avicultura diz que o governo precisa ter “pulso firme” nas negociações. O presidente-executivo da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), o ex-ministro Francisco Turra, afirma que o mercado da Rússia representou 10% do total exportado em 2010. “O mercado pode sair prejudicado caso a demora continue. Para isso, o governo tem que agir administrativa e politicamente”, afirmou Turra ao Valor.
Paralela à negociação para o fim do embargo, ocorrem também conversas entre os dois países para a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Isso poderia ser um entrave à retomada das exportações. Turra reivindica uma solução imediata. “A Rússia é um dos maiores importadores de proteína animal e o Brasil o maior fornecedor”, diz o ex-ministro.
O segmento de suínos é o principal dependente das exportações para o mercado russo. “A gente não sabe direito o que está acontecendo. Quando a missão brasileira foi à Rússia, disseram que, em julho, tudo já estaria resolvido. Esperávamos que já tivesse sido liberado e continuamos esperando, em breve, a solução para o embargo”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.
A negociação está “confusa”, de acordo com ele. “A Rússia é o maior destino das nossas exportações e precisa receber maior atenção e cuidado”, cobrou. Camargo Neto diz que o setor não fica especulando. “Queremos acreditar que vai abrir (o mercado russo), mas não vamos ficar especulando. Isso é problema do governo que tem que se virar para resolver”.
Embora menos prejudicada pelo prolongado embargo, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) acredita que “rapidamente” ele será derrubado. “O setor de bovino não tem problema nenhum na área de cotas. Alguns anos atrás fomos contemplados com uma mudança pela própria necessidade e dificuldade de abastecimento russo na área”, lembra o presidente da Abiec, Antônio Camardelli.
O que “contaminou” o processo e atrasou a resolução do impasse, segundo sua avaliação, foi a pressão da Rússia em conseguir o voto brasileiro para entrar na OMC. Essa versão tem sido rejeitada por Brasília.
A adequação das normas do padrão brasileiro ao russo também complicaram o processo, diz Camardelli. “Às vezes, o objetivo de um método é atendido, mas de outra forma”, explica. Um exemplo seria o tempo de sangria do gado. Os russos exigem seis segundos, mas o Brasil usa três. “Isso dificulta”, afirma.