O governo não vai subsidiar o transporte do milho que será leiloado na próxima semana. Das 150 mil toneladas do estoque público que serão ofertadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no dia 1º de fevereiro, 145 mil estão em Mato Grosso. O preço será definido dois dias antes do leilão. No entanto, o ministro interino da Agricultura, André Nassar, declarou que o valor será o praticado naquele Estado.
A intenção do governo é realizar leilões de milho a cada 15 dias, até completar 500 mil toneladas. A oferta de estoque público é uma resposta ao apelo de criadores de suínos e aves, preocupados com o preço do grão, que já atingiu o recorde histórico de R$ 44 a saca. O valor inviabilizaria a suinocultura e a avicultura, de acordo com entidades ligadas a esses setores.
André Nassar descartou para esse milho o uso de leilão de Valor de Escoamento do Produto (VEP). Através desse mecanismo, o governo paga uma subvenção para que o produto seja escoado para uma região determinada, com dificuldade de abastecimento.
“Não faz sentido fazer VEP, pois o mercado está com preço alto. O consumidor de milho paga a diferença de frete”, afirmou o ministro interino. Segundo ele, Mato Grosso tem preço para o milho bem inferior do que no Sul, e o consumidor do produto nessa região sabe que terá que arcar com o frete.
Na opinião do analista de mercado Fabiano Coser, da Coser Agronegócio, a quantidade de milho ofertada é baixa e que o preço da saca deveria ser inferior em R$ 30 para compensar os gastos com transporte. Outra crítica ao governo refere-se ao estoque de passagem, avaliado em 10 milhões de toneladas.
“Não dá para confiar (nesse número). O governo tem 1,5 milhão de toneladas nos estoques públicos. Esses outros 8,5 milhões estão na mão do setor privado. Se há uma perspectiva de aumento no preço do produto, da demanda internacional, o produtor vai segurar esse milho e vai vender a conta-gotas a seu critério”, diz Coser.
Para solucionar o problema a médio e longo prazo, o analista defende uma política agrícola específica para o setor de carnes, que tem aumentado a participação nas exportações. Em 2015, foram exportadas 550 mil toneladas de carne suína, por exemplo, quase 9% a mais que no ano anterior.
Coser sustenta que há uma perspectiva positiva no mercado internacional de carnes, e o Brasil deveria aproveitar essa oportunidade para agregar valor ao seu grão. “Mas não podemos ter um momento como este, de especulação de preço por uma demanda internacional grande, uma queda na safra de milho para esse ano e deixar todo um mercado em risco”, diz.
Para Nassar, não há sentido em fazer uma política de preço voltada exclusivamente ao produtor de suínos e/ou de aves. “Se eu reduzir o preço do milho numa ponta, estarei derrubando a renda do produtor de milho. E eu trabalho para garantir a renda do produtor de milho e abrir mercado paro produtor de frango, aí as duas coisas se encaixam”, afirma.
Suínos e aves
Os produtores de suínos e aves do sul do país consideram os leilões insuficientes para resolver o problema. Na Região Sul, um quilo de suíno vale quatro quilos do cereal – metade do que representava no ano passado. No mercado gaúcho, enquanto o produtor gasta R$ 3,40 para produzir um quilo de carne suína, recebe apenas R$ 2,80 pelo produto.
O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, afirma que as perdas podem chegar a R$ 90 por animal abatido. Os criadores só conseguiriam sobreviver por dois ou três meses nessa situação. “É preciso agir imediatamente para ter uma reversão (desse cenário), até que a gente possa equilibrar a oferta de milho dentro do país”, diz Lopes.
A ABCS calcula que o prejuízo pode chegar próximo ao de 2012, quando o Brasil perdeu 100 mil matrizes suínas. A entidade defende o aumento do limite de venda de milho em balcão. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o produtor pode comprar até 6 mil quilos por mês a R$ 36 o quilo. A alternativa é descartada pelo Ministério da Agricultura, que prefere leiloar parte do estoque público.