Redação (10/05/06)- Missões técnicas, cartas e disposição para negociar. Seis meses depois do ressurgimento da febre aftosa no país, o governo prepara uma ofensiva diplomática e comercial na tentativa de derrubar os embargos impostos pelos principais importadores das carnes brasileiras.
A estratégia para minimizar o embargo adotado até agora por 59 países inclui um discurso do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, na abertura da assembléia geral da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE),
Para sair da defensiva, o Ministério da Agricultura enviará missões técnicas veterinárias que prestarão “esclarecimentos adicionais” pessoalmente na União Européia, Rússia, África do Sul, Chile, Argélia e Romênia. “A hora é de usar todo nosso poder de barganha para reabrir formalmente esses mercados”, disse ao Valor o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio, Célio Porto. “Temos a obrigação de ir lá, aproximar os técnicos e apresentar relatórios, inovações e “vender” a sanidade do nosso rebanho”.
Segundo ele, as missões terão técnicos estaduais, que são os responsáveis pela execução dos programas de defesa, e, talvez, especialistas do setor privado. Porto revela que, neste ano, o país mandou apenas uma missão à Rússia e à União Européia – em 2003, foram cinco para a Rússia e três para a UE, que compra 32% de todas as carnes brasileiras.
Na próxima semana, o ministro Rodrigues enviará cartas a todos os parceiros comerciais para solicitar a retomada das importações e oferecer explicações adicionais os esforços feitos pelo governo para erradicar a aftosa do continente sul-americano.
As cartas, que seriam enviadas antes da recaída sanitária em Japorã (MS), usam as dificuldades “inesperadas” enfrentadas por países como Japão, Holanda, França e Reino Unido, que recentemente sofreram com a volta da aftosa e do mal da “vaca louca”, para lembrar a complexidade do combate a essas doenças. O texto relembra que a aftosa restringiu-se a dois Estados e assegura que foram tomadas “todas as medidas” sugeridas pela OIE nesses casos.
O governo está convencido de que a lista de 59 países serve apenas para forçar barganhas comerciais. Prova disso é o aumento de 12,3% nas vendas de carne bovina in natura nos quatro primeiros meses do ano sobre 2005. Mesmo com o embargo oficial, a Rússia, por exemplo, elevou em 122% suas compras no período. As vendas também cresceram para os “proibidos” Egito (12,5%), Bulgária (78,5%), Israel (34,4%), Suíça (25,4%), Filipinas (73,6%), Ucrânia (310%), Líbano (41,7%), Emirados Árabes (56,8%) e Cingapura (41,8%). Mesmo os 25 países-membros da UE reduziram em apenas 5% suas importações. “Eles querem forçar reciprocidades”, diz Célio Porto.
Diante disso, o Brasil está disposto a negociar. Para a Rússia, que compra 6% de todas as carnes brasileiras, o país oferecerá acordos em outras áreas para negociar uma mudança radical no acordo sanitário bilateral.
O texto prevê embargos automáticos de dois anos para o Estado que registrar um foco de aftosa e de um ano para as unidades limítrofes. Na última quinta-feira, pela primeira vez, o ministro Rodrigues mandou uma carta ao colega russo, Alexey Gordeyev, pedindo a adequação do acordo às regras da OIE, que prevê um embargo de seis meses apenas no Estado onde for feito o sacrifício de animais. Rodrigues reiterou que o acordo desrespeita as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Com o Chile, o país tentará uma solução intermediária para garantir a exportação de carne de gado bovino nascido, criado e abatido apenas em áreas habilitadas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Chile já deu sinal verde para a negociação, que depende apenas de um acerto interno entre o Ministério e os Estados. A China também tem interesses em negociar a entrada de produtos como miúdos de suínos no mercado brasileiro. “Vamos discutir com todos para avançar nessa reabertura”, diz Porto.