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Economia

Governo quer mais crescimento em 2012

Crescer em 2012 é o grande desafio de Dilma, que deve encerrar o primeiro ano de governo com taxa de crescimento próxima de zero nos dois últimos trimestres.

As nuvens são negras, “mas temos rota”, assegurou o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, ao Valor. “Há muita incerteza no cenário internacional, mas aqui temos direção. Vamos dar um basta no pessimismo”, reforçou ele, que esta semana lançou na cena econômica duas possibilidades aparentemente visionárias: o Brasil crescer 4% em 2012, com chances de chegar a 5%; e a taxa de juros real no país, até 2014, cair para o intervalo de 2% a 4% ao ano. Hoje ela se encontra no nível mais baixo da última década e meia, de 4,5%.

A arte da política econômica do governo Dilma Rousseff foi se situar no “meio termo”, explica Barbosa. “Não apostamos na redução da inflação a qualquer custo nem no crescimento a qualquer preço. Não optamos pelos extremos”, enfatizou. Ao fazer isso, disse, mesmo sujeitos a críticas da esquerda e da direita, a política econômica se tornou mais robusta.

Pressupondo que a Europa estará em recessão, mas evitará uma crise bancária, o tamanho do crescimento do Brasil no próximo ano, para o secretário, vai depender de uma decisão que a presidente Dilma ainda terá que tomar: se os investimentos públicos continuarão no ritmo lento deste ano ou passarão por uma aceleração em 2012.

Barbosa avalia que, com a redução já em curso dos juros básicos e o aumento do salário mínimo em cerca de 14% em janeiro, o governo estará garantindo uma taxa de crescimento econômico da ordem de 4% para o ano que vem. A isso se somam as desonerações, sobretudo as do Supersimples sancionado ontem, um eventual crescimento nos financiamentos do BNDES, além das novas concessões de serviços públicos que o governo pretende fazer, seja de aeroportos ou de rodovias.

Para ir além dos 4%, os investimentos públicos teriam que voltar a crescer. Foram de 2,86% do PIB em 2009 e de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. Este ano estão na casa de 2,7% do PIB. Tal redução foi motivada pelas restrições fiscais impostas pelo governo para produzir o superávit primário de 3,1% do PIB e, também, pela reavaliação dos principais projetos de investimentos na área de transportes, decorrente da queda do ministro e dos responsáveis por essa área no governo.

O corte na taxa Selic este ano pode representar uma economia de gasto com o pagamento de juros da ordem de R$ 10 bilhões ou mais em 2012. Esses recursos ajudariam na administração do Orçamento para cumprir a meta de superávit primário “cheia” de 3,1% do PIB no próximo ano.

Crescer até 5%, admite ele, é “difícil”, mas não de todo impossível. Com essa performance, seria mais fácil atingir a meta fiscal. Sem ela, o cumprimento da meta dependerá de um forte contingenciamento de gastos.

Quando o presidente Lula assumiu, em 2003, os juros reais se situavam na faixa de 12% a 16% ao ano. Entre 2004 e 2005, caíram para o intervalo entre 8% e 12% e, depois, para 6% a 10%. Nos dois últimos anos está entre 4% e 8%. Mantida essa trajetória, “será que não dá para chegarmos em 2014 com os juros entre 2% e 4%?”, indaga o secretário.

Barbosa faz questão de deixar muito claro que crescimento e juros não são meta de governo. São apenas referências, expectativas. “Nossas metas estão em lei. Temos meta de superávit primário e de inflação”.

Nos prognósticos do secretário, a inflação, que este ano termina entre 6% e 6,5%, em 2012 vai cair para 4,5% a 5%, como efeito da desaceleração da economia, que saiu de um crescimento de 7,5% no ano passado para 3,5% este ano. Segundo ele, vários fatores vão ajudar no controle da inflação. Os preços das commodities tendem a cair, depois do choque de 2010; não se repetirá em janeiro o aumento de 17% este ano nas tarifas de transportes em São Paulo; as tarifas de energia elétrica de algumas empresas devem cair; e a mudança na pesquisa de orçamento familiar (POF) pelo IBGE pode gerar uma redução de 0,2 ponto percentual no IPCA do próximo ano.

Segundo projeções do Banco Central, o IPCA de 12 meses deverá cair para cerca de 5,4% entre abril e maio do próximo ano. O nível de atividade econômica, que começa murcho em 2012, tende a se recuperar no segundo semestre, para fechar o exercício entre 4% e 5%, na média, segundo estimativa de Barbosa. Ou seja, a reativação da economia se daria ainda sobre um periodo de inflação alta. O secretário pondera, contudo, que a reação da atividade vai ocorrer sobre uma capacidade ociosa elevada, o que não geraria pressão inflacionária.

Para ser sustentável, o crescimento deve ser acompanhado de aumento da taxa de investimentos e Barbosa acha que ela terá que subir dos cerca de 18% do PIB este ano para 22% do PIB até 2014. Esses 4 pontos percentuais de aumento seriam financiados, segundo ele, com captação de poupança no exterior (com aumento de 1 ponto percentual do déficit em conta corrente); nas empresas privadas, com aumento de 1,5 ponto percentual e outro tanto no governo, através da redução da taxa de juros e do controle dos gastos correntes.

Crescer em 2012 é o grande desafio e a maior preocupação da presidente Dilma Rousseff. Ela deve encerrar seu primeiro ano de governo com taxa de crescimento próxima de zero nos dois últimos trimestres do ano.