A Argentina viveu nesta quarta-feira, 10, sua maior greve geral desde 2001, em um protesto contra a política econômica da presidente Cristina Kirchner organizado por três das principais centrais sindicais do país. Os trabalhadores suspenderam o funcionamento dos trens, ônibus urbanos, metrô e parte dos táxis, além da maioria dos voos internos.
Segundo um dos líderes sindicais, o caminhoneiro Hugo Moyano, a greve teve uma alta adesão, já que “ficou evidente a irritação das pessoas” com a administração Kirchner. O sindicalista, que entre 2003 e 2011 foi o principal respaldo social da presidente Cristina, com a qual rachou em 2012, afirmou durante uma entrevista após o encerramento da greve: “O governo deve prestar atenção ao recado do povo. Cristina deve deixar de lado sua soberba”.
Outro dos líderes, o sindicalista de bares e restaurantes e ex-senador José Luis Barrionuevo, acusou Cristina de “estar no país das maravilhas”, em alusão à manipulação dos índices econômicos e às recentes declarações da presidente nas quais sustentava que a economia argentina estava em melhor estado que as da Austrália e Canadá.
Os sindicatos exigem aumentos salariais de 32% a 40% para enfrentar uma inflação que as consultorias econômicas calculam em mais de 40% neste ano. Eles também pediram a redução de impostos para a classe trabalhadora e aumentos das aposentadorias.
A jornada de greve geral começou com confrontos entre grupos de esquerda e a “gendarmería”, corpo especial de segurança especializado em dissolver manifestações. Os manifestantes realizavam um piquete na estrada Pan-americana, na zona norte da Grande Buenos Aires, quando foram removidos à força pelos gendarmes com cassetetes e balas de borracha.
Integrantes do Polo Operário e do Movimento Social dos Trabalhadores espancaram um gendarme com um extintor de incêndio, após uma discussão sobre o piquete. O gendarme foi levado às pressas para um hospital. A maioria dos piquetes realizados ontem no país ocorreram na área metropolitana de Buenos Aires. Na província de Córdoba o sindicatos de bares e restaurantes realizaram piquetes nas portas dos motéis.
A paralisação foi protagonizada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) “rebelde”, a CGT “azul e branca” e a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA) “rebelde”. Não aderiram à greve a CGT “oficial” e a CTA “oficial”, alinhadas com o governo Kirchner.
‘Sem motivo’. O chefe do gabinete de ministros do governo, Jorge Capitanich, sustentou que a greve “não tinha justificativas”, já que a situação do país “é boa”. Segundo Capitanich, a greve teve motivos políticos. O chefe do gabinete acusou o deputado Sergio Massa, potencial presidenciável e líder da Frente Renovadora, um dos setores do peronismo dissidente, de estar por trás da paralisação.
A ministra da Ação Social, Alicia Kirchner, cunhada da presidente, criticou a paralisação dos transportes e os piquetes, afirmando que “a greve é um direito constitucional, mas também é um direito poder ir ao trabalho”.
Integrantes da oposição ironizaram os comentários do governo, ressaltando que durante dez anos a administração Kirchner respaldou a realização de piquetes, na época em que o alvo dos protestos eram os representantes da oposição e empresas que estavam em confronto com a presidente Cristina.
Mas o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, do Proposta Republicana (PRO), de oposição, criticou os piquetes e disse que a greve é “uma disputa interna do peronismo”. Macri fazia alusão ao fato de a presidente Cristina ser uma representante do peronismo, movimento político ao qual também pertencem os sindicatos.