Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Economia

Grupo prevê preços sustentados e lucratividade no setor mundial de carnes em 2012

2011 foi um ano de crescimento na comercialização de carne, causado pelo aumento dos preços no atacado maior do que o esperado.

Grupo prevê preços sustentados e lucratividade no setor mundial de carnes em 2012

2011 foi um ano de crescimento na comercialização de carne, causado pelo aumento dos preços no atacado maior do que o esperado. Uma das principais causas desses aumentos nos preços foi uma combinação de surtos de doenças na Ásia, que causaram reduções na produção e aumentaram a demanda de importação. Esse foi um período em que os altos custos dos alimentos para animais forçaram o resto do mundo a ser mias cauteloso em seu planejamento de produção de carne.

A perda de 1,5 milhão de toneladas de carne suína na China devido à síndrome respiratória e reprodutiva suína (PRRS) e de cerca de 0,2 milhão de toneladas na Coreia do Sul devido à febre aftosa, e os problemas pós-tsunami causaram uma escassez na oferta de carne suína que aumentaram dramaticamente os preços na Ásia. A demanda extra de exportação então aumentou os preços da carne suína nos importantes mercados dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) e forneceram suporte aos preços de outras carnes vermelhas e, em alguma extensão, à carne de aves. O resultado foi que o consumo global contraiu ligeiramente para 236 milhões de toneladas, mas deverá crescer 1,2% para 239 milhões de toneladas em 2012, segundo previsões, beneficiando-se de uma demanda mais sustentada nas economias emergentes.

Demanda fraca nos EUA e União Europeia

Entretanto, com as condições econômicas problemáticas dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), o consumo caiu e cairá mais nessas regiões, embora com níveis mais altos de preços para cobrir os altos custos dos alimentos animais e demais despesas. A reação dos consumidores continua sendo de queda no consumo, incluindo quantidade, qualidade, espécies, cortes e menor demanda fora de casa. Os preços da carne no varejo nos Estados Unidos e na UE estiveram sob pressão, à medida que os varejistas de forma geral usaram promoções como forma de ganhar/manter participação de mercado e ficaram muito relutantes em repassar os maiores preços dos produtores. Isso colocou as margens dos frigoríficos e processadores sob pressão e foi mais sentido no setor de carne de frango dos Estados Unidos, que lutou para liberar carne de peito e asas a preços que não geravam ganhos nem perdas – e consequentemente, os integradores tiveram fortes perdas.

Previsão para 2012 é pequeno crescimento da demanda, com leve aumento em relação aos níveis de 2011.

O crescimento no consumo de carnes beneficiará principalmente a carne de frango novamente, que de longe ultrapassa as outras carnes com as vantagens de baixo custo e alta flexibilidade/conveniência. Deverá haver alguma recuperação no consumo de carne suína, considerando que a situação da sanidade animal chinesa melhore. Entretanto, apesar dos custos dos alimentos para animais terem caído levemente, estão ainda em um nível alto e, com a oferta de grão ainda levemente balanceada, a precaução dos produtores ainda é o que prevalece para o planejamento da produção por outro ano.

Aumento de preços em 2011

O índice mundial de preços da carne (Y2000) da Gira ilustra os aumentos de preços em todas as espécies em 2011 que levaram a gastos globais maiores com carnes – mesmo com os aumentos de preços aos produtores não sendo totalmente repassados aos consumidores.

De acordo com as previsões para 2012, os preços da carne ovina e suína deverão cair (em termos reais) com relação aos níveis recordes de 2011: refletindo certa recuperação da oferta em algumas importantes regiões. Entretanto, os preços médios globais da carne bovina e de aves deverão aumentar novamente, mas a uma taxa mais lenta do que em 2010 e 2011. Isso reflete o fato de a carne bovina permanecer com uma oferta limitada – devido à baixa lucratividade histórica e ao tempo que levará para a reconstrução dos rebanhos e da produção em um novo ambiente de preços mais altos.

Crescimento do rebanho mundial

Na Austrália, as chuvas abundantes associadas ao fenômeno climático La Niña melhoraram tanto as condições das pastagens, que até o rebanho ovino terminou seu declínio de 20 anos. Entretanto, na América do Sul, evidências de reconstrução de rebanhos e/ou alimentação mais intensiva do gado são desiguais e a oferta de gado abatido permanecerá definitivamente muito escassa por pelo menos mais um ano. O custo de oportunidade de investimento para aumentar o rebanho é maior comparado com agricultura, cana-de-açúcar, eucalipto etc. Por isso somente o pecuarista comprometido em regiões não agriculturáveis que provavelmente reconstruirá de forma significante seu rebanho. Os altos preços do gado para engorda e os altos custos dos alimentos para animais também têm sido limitantes para o aumento no investimento para terminação semi-intensiva e/ou confinamento.

Nesse contexto, os canadenses têm boas condições de pastagens e confiança no ciclo de produção pecuária, mas nos EUA a severa seca no sudoeste (principal região para os rebanhos de cria) e os altos custos de confinamento juntos indicam que a produção continuará caindo.

Importação e exportação de carnes

O volume total do comércio global de carnes em 2011 foi, de acordo com a previsão da Gira, 3.6% maior (+1 milhão de toneladas) e com os valores crescendo pelo aumento dos preços praticados. Entretanto, houve importantes diferenças fundamentais nos direcionadores desse crescimento no comércio, principalmente atribuído ao forte crescimento no comércio de carne suína refletindo uma importante demanda devido às questões de oferta na China (PRRS) e Coreia (aftosa), bem como ao menor consumo nos Estados Unidos e na UE.

Os volumes de carne bovina caíram principalmente devido às menores exportações do Canadá e da Austrália aos Estados Unidos e do Brasil à Venezuela, em um ambiente global de escassa oferta de gado. Isso também refletiu uma fraca demanda nos Estados Unidos e melhores preços em outros mercados de importação (como a Rússia).

As previsões da Gira para 2012 são de mais crescimento comercial, mas relativamente modesto, de 1,8%, para 28 milhões de toneladas.

– A carne de aves se beneficiará do impulso de importação das regiões do Oriente Médio, África do Norte, Ásia, África e considerável progresso dos Estados Unidos em encontrar mercados alternativos para seus cortes de coxas de frango, à medida que o antigo mercado de importação da Rússia declinará mais.

– Os volumes de carne suína têm espaço para aumentar mais na China e no Japão, mas deverão declinar na Rússia (contato que a Febre Suína Africana não afete de forma mais dramática a produção).

– Os volumes de carne bovina serão modestos em todos os principais fluxos comerciais mundiais, mas especialmente para Ásia, Oriente Médio, África do Norte e Rússia.

– A carne ovina mostrará uma forte reversão das recentes perdas comerciais devido a alguma recuperação na oferta da Austrália e da Nova Zelândia, principalmente para carne de cordeiro, mas também mais carne de carneiro da Austrália.

Maiores exportadores: EUA e Brasil

Os Estados Unidos retomaram a posição de principal exportador mundial de carnes durante o ano. A demanda de exportação, ajudada pelo fraco dólar, foi a salvação do setor de carnes que enfrentava condições problemáticas de consumo doméstico e altos custos dos alimentos para animais. O excedente de exportação foi liberado ao mercado a bons preços e permitiu aumentos de preços domésticos melhores do que o esperado para a carne suína e bovina, mas não para carne de frango. Os ganhos no volume exportado continuarão em 2012, de acordo com as previsões, apesar de o dólar norte-americano mais forte poder tirar um pouco do brilho do preço.

Os brasileiros foram transferidos para a segunda posição dentre os exportadores de carne do mundo, com uma participação comercial de 41% carne de frango, 15% do comércio mundial de carne bovina e somente 8% do comércio mundial de carne suína. Em 2011 registrou-se maior declínio nas exportações brasileiras de carne devido a uma combinação de:

– Real valorizado, reduzindo a competitividade de exportação;
– Crescimento no uso da terra cultivável para colheita comercial limitando a disponibilidade de pastagem;
– Forte demanda doméstica por carne.
– Questões de acesso a mercados de exportação, especialmente com a Rússia, que não parecem que vão terminar rapidamente.
– Escassez de gado para abate, preços bastante maiores e questões de lucro/capacidade de utilização para frigoríficos.

Aumento de importações do Oriente Médio e Norte da África

As regiões do Oriente Médio e Norte da África (na qual a Gira agrupa cerca de 20 países diferentes) é a maior região de importação. A disponibilidade de carne, a preços acessíveis, é uma necessidade política e, com a produção doméstica restrita pelo clima e pelos altos custos – essa deverá ser um destino de exportação altamente interessante para exportadores nos próximos anos, a preços que são internacionalmente atrativos.

O mercado de carnes em 2011 e 2012

2011 foi um ano de altos preços e custos, com a competição pela terra e alimentos devendo aumentar mais: os varejistas e operadores de serviços alimentícios no mundo desenvolvido precisam ajustar suas atitudes a essa nova realidade de preços. Eles precisam repassar os aumentos necessários de preços aos consumidores que não querem pagar mais pela sua carne, mas a experiência de 2011 é que eles podem e vão, ou a carne será exportada ao mundo em desenvolvimento. Seu reconhecimento desses novos níveis de preços (e custos de produção) dará, então, confiança para investimentos em nova produção.