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Guerra comercial

Cota de carnes faz Brasil ameaçar Rússia na OMC.

Da Redação 03/02/2004 – 08h31 – O Brasil tende a endurecer esta semana sua posição sobre a entrada da Rússia na Organização Mundial de Comércio (OMC), reagindo à resistência de Moscou em melhorar as condições de acesso de exportações de carnes brasileiras a seu mercado.

Numa lenta mudança de estratégia, a delegação brasileira deverá vincular o problema das carnes ao acesso russo na OMC, na negociação bilateral marcada para esta sexta-feira em Genebra. Ou seja, os dois precisam ser resolvidos, ou então Moscou pode enfrentar mais dificuldades para entrar na OMC.

Até agora, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior acreditava que o problema podia ser resolvido bilateralmente, o que levou o ministro Luiz Fernando Furlan a Moscou fazer negociações inconclusivas com as autoridades russas no mês passado.

A Rússia, em todo caso, não muda de posição. Ontem, o vice-ministro Maxim Medvedkov, disse ao Valor que a proposta na mesa é a mesma: cota específica para as exportações brasileiras de carnes dentro do volume destinado a “outros fornecedores”. “Queremos dar as melhores condições para a carne brasileira dessa maneira. Esperamos resolver esse problema ainda esta semana”, disse Medvedkov.

Pelo sistema de cotas definido pelo país para este ano, os Estados Unidos poderão exportar 771,9 mil toneladas de carne de frango à Rússia , de um volume total de 1,050 milhão de toneladas. “Outros fornecedores” teriam de disputar um volume de 68 mil toneladas. A Rússia quer dar ao Brasil uma cota específica dentro deste volume. O mesmo ocorreria com as carnes suína e bovina.

No caso da carne suína, de uma cota total de importação de 450 mil toneladas, a UE ficou com um volume de 227,3 mil toneladas e “outros” ficaram com 179,5 mil toneladas. Para a carne bovina, a cota total é de 447,2 mil toneladas, sendo 17,2 mil toneladas para EUA, 359 mil para UE, 3 mil para Paraguai e 68 mil toneladas para “outros”.

A proposta não agrada aos exportadores brasileiros que temem ficar com um volume menor do que o que poderiam vender se permanecessem dentro de “outros fornecedores”.

“Concordamos com a fixação de uma cota dentro de ”outros”, desde que não seja menos do que o Brasil poderia conquistar sozinho”, afirmou Pedro Benur Bohrer, presidente da Abipeces (reúne exportadores de carne suína), o setor mais afetado pelo sistema de cotas devido à sua dependência do mercado russo.

Ele argumentou que o Brasil é competitivo nas exportações e portanto poderia conseguir conquistar cerca de 150 mil toneladas da volume de 179,5 mil destinado ao suínos. Por isso, o setor defende uma cota deste tamanho. Ainda assim, a perda em relação ao embarcado para a Rússia em 2003 seria de 163 mil toneladas. Os exportadores de carne de frango também temem ser prejudicados.

Uma nova rodada de negociações para a entrada da Rússia na OMC começou ontem, com discussões bilaterais com Japão, União Européia e Canadá. Medvedkov admite que os problemas são “duros” nas questões agrícolas, aduaneiras e de cotas para importação de carnes.

O vice-ministro disse alimentar a esperança de a Russia poder entrar este ano na OMC. Mas o endurecimento do Brasil é apenas um a mais, entre 60 países que reclamam de concessões tímidas feitas por Moscou, em troca do acesso que terá a 140 países já membros do clube.