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Guerra eleva exportações agropecuárias

Oriente Médio antecipou compras de frangos, bovinos e soja e elevou receitas no Brasil.

Redação AI 26/03/2003 – As exportações de alguns setores agrícolas para o Oriente Médio deram um salto nos meses de janeiro e fevereiro, em relação ao mesmo período do ano passado. O setor de carne bovina comemorou a marca das 130.323 toneladas exportadas, com faturamento de US$ 211,1 milhões, ante as 81.821 toneladas de 2002, com faturamento de US$ 163,2 milhões. Na cadeia avícola, as exportações de carne de frango cresceram 36% no primeiro bimestre de 2003, em relação ao mesmo período do ano passado, com vendas de 116 mil toneladas, ante 74 mil toneladas em 2002. Outra grande cadeia cujo desempenho esteve acima de 2002 foi a de soja. As exportações de óleo de soja de janeiro e fevereiro deste ano para o Irã, o maior comprador de óleo de soja do Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), chegaram a 217 mil toneladas, ante 573 mil toneladas exportadas para aquele país durante todo o ano passado.

“É inegável que o melhor desempenho das exportações de frango tem a ver com a guerra”, garante o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), Cláudio Martins. “Com a expectativa da guerra e possíveis dificuldades de abastecimento, vários países do Oriente Médio preferiram antecipar compras para formar estoques”, explica. “Na Guerra do Golfo, em 1991, observamos o mesmo fenômeno, com vendas 30% maiores nos meses que anteciparam o conflito.” O Oriente Médio foi responsável, em 2002, por 32% do total das exportações de frango brasileiras, que chegaram, em 2002, a 1,6 milhão de toneladas.

Frigoríficos – No setor de carne bovina, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Ênio Marques, concluiu, após reunião na semana passada com frigoríficos associados, que o aumento das exportações para o Oriente pode estar relacionado ao período pré-guerra, “mas não podemos afirmar isso com certeza”, diz. “Importante é que, se houve alteração por causa do conflito, esta foi para exportar mais, e não para reduzir os embarques.”

A guerra entre Estados Unidos e Iraque também fez com que as exportações de óleo de soja para o Irã tivessem excelente desempenho. Segundo o presidente da Abiove, Carlo Lovatelli, o país tem sido um dos maiores compradores de óleo de soja do Brasil há cerca de quatro anos e, agora, aumentou compras para garantir estoques. As exportações totais de óleo de soja devem alcançar 2,25 milhões de toneladas em 2003, alavancadas pelo interesse do Irã. Se confirmado, o volume será 16,5% superior ao que foi exportado em 2002. “As exportações de óleo de soja para o Irã representam em média 30% do volume total exportado do produto pelo Brasil”, diz Lovatelli.

Quanto ao futuro próximo, tanto representantes das cadeias produtivas quanto analistas de mercado e pesquisadores condicionam sucessos ou problemas nos embarques ao tempo de duração do conflito. “Se a guerra for de curta duração, como o governo dos EUA vem afirmando, não haverá alteração significativa”, diz o pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Nelson Martin, afirmando, entretanto, que um fator inevitável e imediato é o aumento do preço do frete e do seguro marítimo para embarques que sigam para o Oriente Médio, por conta do maior risco de adentrar com navios na zona de conflito.

Maior procura – Embora ainda não disponha de cálculo definido a respeito, Martins, da Abef, reconhece o aumento dos custos, mas acredita que isso deverá ser absorvido pela maior procura por carne de frango e conseqüentemente pelo aumento do preço do produto.

É o que também espera o diretor de Relações Institucionais da Perdigão a segunda maior produtora de carne de frango do País, com faturamento total de R$ 3,3 bilhões , Ricardo Menezes. Dada a importância do Oriente Médio nas exportações da empresa, com 20% do total de R$ 1,3 bilhão em 2002, ela mantém um escritório em Dubai, nos Emirados Árabes, que “estava operando normalmente, até sexta-feira”. “As informações eram de que não teríamos de mudar portos de desembarque e isso nos deixa mais tranqüilos em relação aos fretes”, diz. Como, entretanto, os armadores devem renegociar o preço dos seguros, Menezes também espera que o preço de mercado compense este aumento.

O consultor José Vicente Ferraz, da FNP Consultoria, concorda que o conflito possa prejudicar o fluxo comercial. “Esse é o efeito imediato da guerra”, diz. Entretanto, se a guerra for prolongada e, após ela, os EUA tiverem de manter um exército de ocupação no Iraque, isso custará muito caro, afetando, automaticamente, a economia mundial. “Os EUA já estão gastando muito e continuarão a gastar no pós-guerra. Isso elevará mais ainda seu déficit interno e, por conseqüência, a taxa interna de juros deve subir”, explica. “Assim, teremos de aumentar mais ainda os nossos juros, para evitar fuga de capitais e isso abalará a economia, com mais recessão.”

No setor de carne bovina, independentemente da guerra, há a expectativa é de crescimento. “Se o dólar continuar valorizado e não tivermos nenhum problema sanitário nos rebanhos, vamos crescer 15% ou 25% em exportações”, diz Marques, da Abiec. Isso dependerá da Rússia, que criou a cota de 350 mil toneladas de importação a partir de abril de 2003, “das quais poderemos atender 200 mil toneladas”, e da China, que deverá definir, daqui a seis meses, suas condições de importação de carne bovina. “Como somos competitivos, poderemos exportar para lá, até o fim do ano, pelo menos 15 mil toneladas”, calcula.

Um setor que quase não exporta para o Oriente Médio mas foi bastante prejudicado com a guerra foi a cafeicultura, cujas negociações são feitas no mercado de futuros. “É normal que em tempos de guerra os investidores desloquem suas posições para ativos mais seguros, como ouro e títulos do governo americano”, explica o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café Verde (Cecafé), Guilherme Braga. “Ou seja, houve fuga dos investidores das commodities agrícolas, entre elas o café, o que fez com que as cotações caíssem”, diz Braga. Nelson Martin, do IEA, concorda: “Sem guerra, o cenário seria extremamente favorável para que as cotações crescessem.” (Colaborou Alessandra Saraiva/AE)