Consumidores exigentes, a partir da mudança de comportamento de consumo, estão levando empresas a investir em selos e procedimentos de qualidade comprovados. Segurança alimentar, origem da matéria-prima e garantia de qualidade são os atributos esperados pelos novos consumidores que exigem mais que preço, marketing e embalagem.
Dentro dessa corrente de produtos mais saudáveis, produzidos sem impacto ambiental e social surge o nicho religioso. A surpresa é que mais que preceitos religiosos os selos de qualidade halal (lícitos, permitidos para consumo) são vistos como garantia de qualidade de processos e alimentos confiáveis.
O especialista em mercados halal Chaiboun Ibrahim Darviche, do SIIL Serviço de Inspeção Islâmica, alerta que até mesmo consumidores não islâmicos acreditam que o selo agrega segurança de procedimento ao produto. “Este mercado de alimentos e produtos industrializados halal movimenta anualmente mais de US$ 580 bilhões em todo o mundo,não apenas no Oriente Médio, mas na Ásia, Europa, África e Américas”.
Darviche destaca ainda que a América Latina, especialmente o Brasil é responsável por US$ 1 bilhão desse comércio e pode ser incrementado com a certificação de novos produtos.
Segundo ele, essa exportação vai muito além do segmento carnes e já começa chegar outros setores como massas, biscoitos, sucos, chás, café, castanhas, leite e até água.
A receptividade dos consumidores islâmicos ou dos mercados em geral para produtos certificados fica cada vez mais visível a cada encontros entre exportadores brasileiros e compradores locais de alimentos, sejam eles traders ou grandes redes de supermercados. Os selos de qualidade como orgânicos, kosher, selos verdes em geral, empresas comprometidas com causas sociais e halal muitas vezes ocupam parte da rotulagem de um único produto, que agrega uma série de certificados.
Selo de qualidade halal
Darwiche explica que os processos de certificação e o selo de qualidade halal são bastante acessíveis para empresas de qualquer porte. “Hoje há no Brasil mais de 300 empresas que exportam com selo de halal, o importante é observar as regras, seguir as recomendações das auditorias, cumprir as determinações e adaptações para manter o selo de qualidade. Trabalhamos com um conceito de que o halal representa mais que um selo religioso, significa qualidade de vida”.
O especialista complementa que além de uma exigência religiosa, a qualidade halal implica em uma série de cuidados sanitários e de qualidade de ingrediente na produção e estocagem.
Segundo dados recentes de organismos internacionais, há cerca de 1,8 bilhão de islâmicos ou muçulmanos nos cinco continentes, e esse mercado consumidor cresce a um ritmo de 15% ao ano criando oportunidades para exportadores atentos.
Para os empresários interessados neste mercado, é importante lembrar que selos e certificados de qualidade devem ser expedidos por organismos de reconhecido prestígio internacional, pois têm como missão medir os níveis de concorrência na gestão do organismo solicitante, no caso do halal devem seguir fielmente as regras claras para ingredientes e procedimentos.
Chaiboun destaca que hoje há uma cultura de segurança alimentar, ainda em desenvolvimento entre os consumidores em geral, que já faz parte do dia a dia dos islâmicos há décadas por características culturais/religiosas. “Sabemos que há um gargalo de sistemas de gestão que garantam procedimentos seguros de produção e manuseio de alimentos em muitos os pontos da cadeia produtiva, desde o campo até o ponto de venda e isso só é possível com um processo de certificação sério e empresas dispostas a seguir as regras e ter selos confiáveis”, finaliza.
Hoje no mercado de carnes, mais especificamente carne de frango , segundo dados divulgados recentemente pela Associação de Empresas Exportadoras de Frango (Abef), 29 dos 33 frigoríficos associados à Abef fazem o abate Halal. “O crescimento das exportações para países islâmicos comprova, além da qualidade e sanidade do nosso produto, o alto nível do abate Halal no Brasil. Em 2009 foram 1,636 milhão de toneladas, tendo como destino 60 países e correspondendo a 45% de todas as exportações brasileiras desse produto”, destacou Francisco Turra, presidente da entidade.
A Abef divulgou ainda que as perspectivas para esse mercado são excelentes, estimativas indicam que a população mundial muçulmana tem uma taxa de natalidade é superior à de outras religiões. Outro ponto fundamental é o consumo per capita de carne de frango que chega a 72 quilos por pessoa/ano no Kuwait e a 61 quilos nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, enquanto no Brasil é pouco mais de 40 quilos/ano. As informações partem do SIIL.