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Impacto ambiental da criação de bovinos - por Ricardo Ernesto Rose

O Brasil é o segundo produtor mundial de carne bovina e o maior exportador deste tipo de alimento.

Impacto ambiental da criação de bovinos - por Ricardo Ernesto Rose

O Brasil é o segundo produtor mundial de carne bovina e o maior exportador deste tipo de alimento. O rebanho bovino brasileiro é de cerca de 190 milhões de cabeças, ocupando extensas áreas de pasto por todo o país, principalmente no Centro-Oeste e na Amazônia. Até o ano de 2023 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento projeta um crescimento anual de 2% para este setor. Para se ter uma ideia do volume de carne e da quantidade de animais envolvidos, basta mencionar que para uma produção de cerca  de 8,7 milhões de toneladas de carne bovina em 2012, foram abatidas 31,1 milhões de cabeças.

O impacto ambiental desta atividade é muito alto, quando se considera que apenas o rebanho mundial bovino tem mais de um bilhão de cabeças, cuja maior parte vive em pastos abertos, ocupando área considerável. Com isso, a atividade agropecuária é responsável por 18% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEEs), ultrapassando as emissões veiculares. O metano, principal gás produzido por esta atividade é emitido pela derrubada da floresta para estabelecimento de pastagens e pela ruminação e as fezes dos animais. Além deste impactos, a atividade também é responsável globalmente por 8% do uso de água potável, já que para se produzir um quilo de carne bovina, são necessários 16 mil litros de água (somando-se a água usada na irrigação dos grãos para alimento, dessedentar o animal e no processo de abate, etc.).
Outras consequências negativas (também chamadas “externalidades negativas” pelos economistas), causadas pela pecuária são a compactação de solos e a liberação de grandes quantidades de nitrogênio e fósforo pelas fezes dos animais nos cursos d’água. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 55% da erosão dos solos e das precipitações de sedimentos nos rios, sejam provocados pelo gado. Ajunte-se a isso ainda o fato de que 80% da produção mundial de soja, 70% da produção do milho e 70% da aveia sejam destinados à alimentação de animais, incluindo os bovinos. Especialistas informam que cerca de metade da produção mundial de grãos é destinada à criação de animais e que esta quantidade poderia alimentar outros dois bilhões de pessoas.
No Brasil, os maiores frigoríficos – JBS, Mafrig e Minerva – já tornaram públicos seus esforços para eliminar o desmatamento, o trabalho escravo e outros crimes socioambientais relacionados com a atividade. A iniciativa é importante e deve ser aliada a outros esforços do governo e da sociedade, como a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), destinado ao controle dos imóveis rurais, e do Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos Bubalinos (Sisbov), para a identificação de animais destinados à produção de carne.
Além destes esforços, também é necessário que a humanidade – ou sua parcela rica – avalie a real necessidade de tão grande consumo de carne e derivados, dado o imenso impacto ambiental que este tipo de atividade tem sobre os recursos naturais. Os países destinam tanta terra, água, insumos e energia para produção de carne, que cabe perguntar quem se beneficia deste tipo de atividade. As “externalidades negativas” são efetivamente compensadas por aqueles que ganham nesta cadeia produtiva e revertidas em benefício dos que vivem à sua margem – pequenos agricultores, comunidades pobres, indígenas, reservas florestais?