O Brasil identificou mais dificuldades para elevar suas exportações à Rússia no contexto das discussões sobre a entrada daquele país na Organização Mundial do Comércio (OMC), em processo que foi retomado ontem em Genebra.
No caso do açúcar, Moscou fez uma negociação incompatível com as regras da OMC, com a aplicação de uma “banda de preços” que permitia elevações de sua tarifa de importação. A taxação sobre essa banda podia variar de US$ 140 a US$ 270 por tonelada. Agora, como está claro que o mecanismo é ilegal, a Rússia quer consolidar como compromisso na OMC a tarifa mais alta, de US$ 270/ tonelada.
O Brasil, um dos principais exportadores mundiais, não aceita a taxação e está pressionando Moscou a baixá-la. Diante do endurecimento de posições, certas fontes na OMC questionam se os russos têm de fato interesse em entrar na entidade até o fim deste ano.
Com relação a cotas para carnes, o principal negociador russo, Maxim Medvedkov, disse ao Valor que não há a menor hipótese de aumentar o volume de importação de carne suína brasileira para este ano, como vem pedindo o setor privado para recuperar o que perdeu para americanos e europeus.
“Já está tudo resolvido para 2009, não vejo como atender o Brasil nesse aspecto”, afirmou. Para 2010, os russos dizem que a preferência é manter cotas (restrição de volume), ao invés de só aplicar tarifas para proteger seus produtores.
O chefe do Departamento Economico do Itamaraty, ministro Carlos Marcio Conzandey, cobra que, em caso de cota, que seja aberta a todos os países e não por país, como hoje, num sistema de cartório que garante exportação para produtores menos competitivos.
Medvedkov insistiu que não entende as pressões brasileiras, alegando que o país não preencheu sequer todos seus compromissos de exportação de carnes em 2004-2005. Lembrado de que a realidade é outra, deu de ombros e retrucou: “Nós, russos, temos a memória longa.” Para Consandey, “nada está fechado enquanto tudo não estiver resolvido”, sinalizando que um acordo final para a entrada da Rússia na OMC precisará acomodar demanda dos parceiros.
Enquanto resiste na OMC, a Rússia eleva a produção de suínos com subsídios e restrição à importação. Estima-se que a produção crescerá 4% em 2009. Analistas preveem que a produção alcançará 3,5 milhões de toneladas em 2012- 75% a mais do que a previsão de 2008.
Os subsídios totais para a produção agrícola alcançaram 99,6 bilhoes de rublos (US$ 2,2 bilhões) em 2008, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). No momento, cerca de um terço de todas as grandes fazendas russas não são lucrativas, boa parte delas dedicada a pecuária. Pequenas fazendas não competitivas também já desapareceram do mercado.
O consumo per capital de suínos deve cair este ano por causa da decisão do governo de limitar a importação do produto. O serviço veterinário russo tem um papel decisivo para frear importações. Desde junho de 2008, os russos barraram mais de cem estabelecimentos americanos e europeus de suínos por supostamente não preencher os padrões russos. Já a produção de carne bovina deve cair 3%, com rendimento negativo, baixa produtividade e ineficiência, levando à queda de 2% no rebanho.
A importação de carne vermelha foi de 1,6 milhão de toneladas em 2008, 12,3% a mais em volume comparado a 2007. Metade da carne bovina procedia do Brasil, seguido do Uruguai, Paraguai, Argentina e Austrália. A importação de suínos veio em 31% do Brasil, seguido dos Estados Unidos (20%), Canadá (13%) e Dinamarca (8,7%).
Os preços no varejo de carnes e frango aumentaram mais de 23% na Rússia em 2008, enquanto a alta media nos preços de alimentos ficou em 18%. O desenvolvimento na pecuária aumentou a demanda por proteínas, e as importações do complexo de soja explodiram.