Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Impasse paralisa exportação de frango para África do Sul

Novo certificado inclui obrigatoriedade de análises para detecção de dioxina (uma substância que pode causar câncer) e de bactérias E. coli.

Redação (10/02/2009)- As exportações brasileiras de carne de frango para a África do Sul, país que importa US$ 300 milhões por ano em produto do Brasil, estão paralisadas por conta de um impasse entre Ministério da Agricultura, autoridades sul-africanas e exportadores.
Em outubro do ano passado, o governo sul-africano avisou o Brasil que exigiria um novo certificado sanitário para o frango exportado pelo país – um volume médio de 170 mil toneladas anuais. O novo certificado inclui obrigatoriedade de análises para detecção de dioxina (uma substância que pode causar câncer) e de bactérias E. coli. Inicialmente, o novo certificado entraria em vigor a partir de 15 de janeiro deste ano, mas os sul-africanos ampliaram o prazo em dois meses, para 15 de março.

Christian Lohbauer, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), afirma que, apesar da prorrogação do prazo, o Ministério da Agricultura brasileiro está exigindo das empresas exportadoras a comprovação de que os exames foram feitos. "O governo, apesar da decisão dos sul-africanos, está exigindo os protocolos de exames" a cada dez lotes de produto destinado à exportação ao país.

A justificativa do governo, segundo Lohbauer é de que para que o monitoramento da dioxina seja incorporado ao Programa Nacional de Contaminantes e Resíduos (PNCR) , é necessário que se faça um determinado número de exames durante um mês.

Alegando que não há laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura para fazer a análise para detectar dioxina (o Analitical Solutions está em processo de credenciamento) e os custos altos do exame, os exportadores estão solicitando ao ministério que retire a obrigatoriedade de análise até 15 de março.

Os exportadores consideram que a exigência da África do Sul é resultado da perda de credibilidade do Brasil ante aquele país no que diz respeito à sanidade. Tudo começou com a aftosa no Mato Grosso do Sul e Paraná, no fim de 2005, e com casos de falsificação de certificados sanitários de carne bovina e suína destinadas àquele mercado naquele mesmo ano, segundo Lohbauer. Desde então, as importações de carnes suína e bovina do Brasil pelo país estão suspensas.

Fontes do governo rejeitam as acusações dos exportadores, apesar de admitir que o aumento das exigências se deve a casos passados de falsificação de certificados para exportação aos sul-africanos. E argumentam que "vários esforços" foram feitos para evitar as barreiras. Mas, a exemplo da disputa com a União Europeia no caso da exigência de listas de fazendas de gado bovino habilitadas, o governo teve que "aceitar as regras do importador". Seria mais prudente do que romper negociações.

O governo espera adiar a exigência dos testes e não descarta suprimir a barreira até março. O argumento é que nem mercados superexigentes, como Japão e UE, solicitam essa análise. Em reunião em Joanesburgo, na semana passada, um grupo de representantes do governo brasileiro teria sentido "boa vontade e sensibilidade" dos sul-africanos para reduzir as exigências.

Mesmo assim, o governo informa que, embora esteja preocupado com a repercussão em outros mercados, precisa estar preparado para uma eventual rejeição dos apelos. Por isso, já começou a pedir "testes preventivos", previsto no PNCR.

Para Christian Lohbauer, a dificuldade do Ministério da Agricultura brasileiro de responder a questionamentos dos sul-africanos teria azedado o humor do parceiro comercial. Em outubro de 2007, segundo ele, a África do Sul enviou um questionário com 10 perguntas relacionadas à sanidade no Brasil. Um mês depois, o ministério brasileiro respondeu com uma nota técnica, dando uma resposta "geral", diz. A África do Sul enviou questões complementares, mas novamente, a resposta brasileira foi considerada insuficiente.

Na visão do diretor da Abef, esses episódios afetaram a credibilidade da sanidade no Brasil ante os sul-africanos. Ele, que também esteve na África do Sul, semana passada, diz ter tido indicações de importadores africanos de que o governo sul-africano esperava que o Brasil tivesse feito um "mea-culpa" em relação a esses episódios, explicando por que a dificuldade de responder aos questionamentos. Esses mesmos importadores teriam afirmado que as autoridades sul-africanas poderiam até levantar a exigência do teste para detectar dioxina, conta Lobauer, que teme que outros países venham a exigir o mesmo do Brasil.