Depois da alta dos custos dos insumos, da valorização do real ante o dólar e do impacto da crise política no norte da África e no Oriente Médio nas vendas para alguns países dessas regiões, o segundo semestre começou com novas incertezas para os exportadores de frango. As preocupações mais recentes incluem o embargo da Rússia a parte dos frigoríficos brasileiros, o início das investigações antidumping pela África do Sul e novas exigências impostas pelo Iraque.
Segundo o presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, o primeiro semestre encerrou com embarques totais de 1,9 milhão de toneladas e receitas de US$ 4 bilhões, com altas de 6,8% e 28,5%, respectivamente, sobre igual período de 2010. Mesmo assim, a entidade mantém a projeção inicial “conservadora” de 3% a 5% de expansão em 2011 sobre as 3,8 milhões de toneladas do ano passado, disse o dirigente.
Uma das razões da cautela é a queda de 2,1% no volume exportado, para 331,3 mil toneladas, e de 5,7% na receita, para US$ 700,6 milhões, na comparação entre junho e maio. Além da desaceleração sazonal devido ao encerramento do ano-cota para a carne salgada Europa, a retração já reflete o embargo russo a 25 dos 62 frigoríficos habilitados a exportar àquele país a partir de 16 de junho. No mês, a Rússia comprou 6,5 mil toneladas, 500 a menos do que em maio, e no semestre a queda foi de 10,4%, para 43 mil toneladas.
A barreira russa afeta mais os embarques de suínos, e uma missão técnica do Ministério da Agricultura chegou ontem a Moscou para tentar um acordo. Segundo Turra, o problema é mais político do que sanitário porque envolve o apoio brasileiro ao ingresso da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e por isso o governo deveria ter uma ação política mais efetiva no caso.
No caso da África do Sul, o problema é a investigação aberta pela Comissão de Comércio Internacional daquele país sobre eventual prática de dumping nas exportações de frango inteiro e de cortes desossados do Brasil. O procedimento foi aberto a pedido da Associação dos Produtores Sul-Africanos (Sapa, na sigla em inglês) e envolve 20% dos embarques para o mercado local, que totalizaram 95,5 mil toneladas no primeiro semestre, disse o diretor de mercado da Ubabef, Ricardo Santin. A entidade apresentou um estudo à Sapa explicando os critérios de formação de preços para exportação.
Já o Iraque, que comprou 64 mil toneladas de frango brasileiro no primeiro semestre, começa a fazer algumas exigências “absurdas”, disse Turra. Uma delas é a comprovação de que os produtos contenham “zero” de salmonela, algo “que nem a União Europeia requer e é cientificamente inviável atualmente”, disse.
Na semana passada, o Iraque passou a exigir certificações dos produtos pela Bureau Veritas e pela SGS para liberar as importações com requisitos superiores ao acordo sanitário bilateral, explicou Santin. Ele espera uma solução para o caso em no máximo um mês, o que limitaria o impacto da medida a 10 mil toneladas.
Conforme o diretor, o impacto da crise política nos países africanos e do Oriente Médio foi relativamente pequeno no primeiro semestre. O Egito, por exemplo, reduziu as compras de 37 mil de janeiro a junho de 2010 para 28 mil toneladas, e a Jordânia, de 27 mil para 14 mil toneladas. Mas com o aumento das vendas para outros mercados locais, como Arábia Saudita, os embarques totais para o Oriente Médio cresceram 8,6%, para 718,3 mil toneladas, enquanto a África apresentou leve alta de 0,7%, para 228,4 mil toneladas.