A produção industrial apresentou, nos quatro primeiros meses do ano, uma recuperação lenta, sustentada pela demanda interna – que permitiu ao varejo recuperar até março as perdas do quarto trimestre de 2008 – e influenciada negativamente pelos efeitos da queda das exportações. Em abril, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial cresceu 1,1% em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal (em março, o acréscimo havia sido de 0,7%). As taxas mais elevadas foram registradas pelos segmentos de bens de consumo duráveis (2,7%) e de bens de capital (2,6%). Entre os fatores positivos destacados por economistas para o mês estão o aumento do número de setores com crescimento (16 dos 27 ramos pesquisados, contra 12 na leitura de março) e a expansão de 2,6% na produção de bens de capital – considerada um sinal de possível retomada dos investimentos.
Outros dois indicadores assinalaram recuperação do mercado interno. As consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) aumentaram 8% ante abril de 2008 e as consultas ao SCPC/Cheque cresceram 18%, segundo pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), indicando recuperação no comércio paulista. As vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus novos no país também cresceram em maio, 5,38% em relação a abril, informou a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Na comparação com maio de 2008, houve alta de 2,04%.
Para economistas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a recuperação da economia doméstica favorecerá mais o varejo do que a indústria. Um estudo inédito elaborado pelo banco revela que 51% das perdas ocorridas na produção industrial desde setembro estão relacionadas à queda das exportações de produtos manufaturados. O estudo considerou dados de produção e comércio do IBGE e de exportação de produtos industrializados compilados pela Secex. Pelos cálculos, que tomam o desempenho de setembro como base 100, o consumo real do varejo em março já havia superado a performance de setembro, chegando a 101,1 pontos. A produção industrial chegou a 83,6 pontos, e as exportações, a 77,7 pontos. Em abril, segundo cálculo da LCA Consultores que considera os dados de produção e exportação de manufaturados, houve incremento de 1 ponto no indicador de produção (para 85 pontos) e recuo de 0,4 ponto no índice de exportação, que ficou em 71,6 pontos (ver gráfico).
Marcelo Nascimento, um dos economistas da área de pesquisas econômicas do BNDES, observa que o efeito da queda da demanda externa supera o impacto da desaceleração da economia doméstica, quando se considera toda a cadeia industrial. André Santana, economista do BNDES, cita como exemplo a cadeia automotiva. A queda nas exportações de carros impacta também o setor siderúrgico, a indústria de borracha (que não exporta) e a indústria de bens de capital com a postergação de projetos e consequente elevação dos estoques nesse setor. “A indústria química sofreu efeito pequeno sobre as exportações, mas é um grande fornecedor para as indústrias de bens intermediários, que tiveram perdas mais fortes com a exportação e reduziram as compras internamente”, exemplifica.
Relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) apontou queda de 3,2% na média diária de exportação de manufaturados, frente às retrações de 2% em abril (sempre na comparação com o mês anterior, com ajuste sazonal). As exportações totais caíram 1,8%, após aumento de 3,8% em abril. “A retração em manufaturados é um fator que limita a recuperação da indústria”, afirmou Rogério César Souza, economista do Iedi. Em relação ao desempenho da indústria em abril, ele considerou positivos os resultados e prevê recuperação mais expressiva no segundo semestre, mas não com força suficiente para evitar uma queda de pelo menos 4,5% na produção de todo o ano de 2009. “A indústria teria que crescer 4% ao mês daqui para frente para recuperar até o fim do ano as perdas com a crise.”
Luiza Rodrigues, economista do Santander, ressaltou como positivo o maior número de setores com crescimento sobre março e os indicadores de melhora na confiança do empresariado. “A recuperação da indústria está se alastrando pelos setores”, disse. Mas ressalvou que as indústrias ainda operam com capacidade ociosa alta. “Há sinais de recuperação, mas não dá para dizer que uma queda de 14,8% [contra abril de 2008] é o fim da crise”, afirmou.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a melhora em bens de capital é “irrelevante”, porque se deu sobre uma base muito baixa. Vale prevê continuidade da recuperação em semi-duráveis e não duráveis, sustentada pela expansão da renda. E recuperação lenta de bens duráveis. Para o ano, porém, ele prevê queda na produção industrial de 6%. No acumulado de 12 meses encerrados em abril, a indústria geral registrou queda de 3,9%.