Redação AI 13/05/2004 – 06h35 – Inicialmente vista como uma alavanca para as exportações brasileiras de frango, a gripe das aves (influenza aviária) começa a mostrar que também pode ter o efeito contrário. Em abril passado, as vendas externas de frango somaram 139,6 mil toneladas contra 184,5 mil toneladas em março, uma queda de 24,3%, de acordo com dados da Abef (reúne os exportadores de frango). Em receita, o recuo foi de quase 20%, com vendas de US$ 161,8 milhões em abril e US$ 201,2 milhões em março. Na comparação com abril de 2003, o volume caiu 3,2% e a receita aumentou 58,6%.
Para o presidente da Abef, Júlio Cardoso, os volumes exportados recuaram em abril porque há uma redução na demanda por frango em função da gripe das aves, que afetou Estados Unidos e países da Ásia, e afastou parte dos consumidores. “A preocupação com a gripe fez o consumo cair em todo mundo”, afirmou, acrescentando que essa queda deve ser temporária. Por conta desse recuo, Cardoso afirmou que as principais empresas do setor devem reduzir a produção entre 5% e 10%. “Houve uma euforia [por causa da gripe] e o setor produtivo do Brasil pisou no acelerador”, admitiu .
Ele observou que gripe das aves ampliou as vendas do Brasil para o Japão porque a enfermidade tirou outros exportadores daquele mercado, tais como China, Tailândia e Estados Unidos. Esse espaço foi ocupado pelo produto brasileiro. “O Japão está comprando produto in natura só do Brasil”, afirmou. Entre janeiro e abril, as vendas para o país somaram 88,2 mil toneladas, alta de 71,51% sobre igual período de 2003.
Mas o crescimento para o Japão não foi o bastante para compensar quedas em outras regiões. Em abril, as vendas de frango inteiro, destinadas principalmente ao Oriente Médio, caíram para 47 mil toneladas ante 80,1 mil toneladas em março. A receita nesse segmento saiu de US$ 71,1 milhões em março para US$ 43,1 milhões em abril passado.
Além da queda no consumo, Cardoso avalia que o recuo no Oriente Médio se deve ao fato de os importadores da região estarem estocados. As restrições da União Européia ao peito de frango salgado também afetaram as vendas, que caíram 55,72% no primeiro quadrimestre para 18,4 mil toneladas. Já o sistema de cotas da Rússia fez as vendas brasileiras de frango ao país recuarem 67, 42%, para 37,3 mil toneladas no período de janeiro a abril.
Se os volumes exportados em abril decepcionaram, os preços médios obtidos continuaram crescendo. De acordo com a Abef, o preço do frango inteiro saiu de US$ 887 por tonelada em março para US$ 915 em abril. A tonelada de cortes saiu de US$ 1.250 para US$ 1.282 no período. O presidente da Abef afirmou que a valorização se deve ao aumento das vendas de produtos de maior valor agregado. Entre janeiro e abril, o preço médio ficou em US$ 1.085 por tonelada, alta de 33% ante igual período em 2003.
O recuo nas vendas em abril levou a Abef a rever suas estimativas de crescimento das exportações para o ano. Agora, a previsão é de uma alta de 3% em volume (era de 10% em março) sobre 2003, quando foram exportadas 1,9 milhão de toneladas. A receita, que em 2003 ficou em US$ 1,8 bilhão, deve crescer de 10% a 15%, segundo Júlio Cardoso.
Apesar dos números desfavoráveis de abril, as ações das empresas do setor continuam com potencial de valorização na Bovespa, segundo Christian Klotz, da Fama Investimentos. Ele disse que a alta dos preços do frango no mercado externo também pode estar afetando o consumo e observou que a valorização do dólar deve beneficiar os frigoríficos porque estimula as exportações. Além disso, as ações das empresas continuam baratas, afirmou.